Centenas de pessoas estão a ser atingidas por fome severa no interior de Gorongosa, centro de Moçambique, devido à fraca produção agrícola, causada pelo recente conflito militar, disseram à Lusa habitantes da região.
“Há pessoas a sobreviver com papas de mangas verdes”, declarou à Lusa Adamo Manuel, residente de Vunduzi, a zona mais atingida pelos confrontos entre homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição e forças governamentais, assegurando que muitos dos deslocados que voltaram às suas zonas de origem encontraram aves e gado saqueados, além de perda total da produção agrícola.
Milhares de pessoas, na maioria camponeses, deixaram as zonas do interior de Gorongosa, considerado o “celeiro de Sofala”, em outubro de 2013, numa época crucial para agricultura de sequeiro, fugindo dos confrontos militares.
Os confrontos culminaram no desalojamento, pelo exército, do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, do seu acampamento em Sadjundjira, e só terminaram oficialmente a 05 de setembro, com um acordo de cessação de hostilidades assinado em Maputo por Dhlakama e pelo Presidente moçambicano, Armando Guebuza.
“Não foi possível recuperar a produção. Muitos lançaram as sementes, fugiram e as machambas (quintas) não tiveram acompanhamento. A pouca produção ainda foi saqueada por militares [das partes beligerantes]. Então os que estão a regressar timidamente, só têm as frutas da época para se alimentar”, conta Cipriano Gonza, um camponês local.
O preço do milho triplicou nos últimos meses na Gorongosa, devido à escassez do produto, e há relatos de indícios de fome no próprio centro urbano da vila.
Números oficiais minimizam o impacto da baixa produção, admitindo que as seis mil toneladas de perdas em culturas diversas na campanha agrária 2013/14 (outubro a maio) estão “fora da linha de preocupação”, por se considerar dentro do padrão aceitável.
O distrito produziu 298 mil toneladas das 304 planificadas, segundo dados dos Serviços Distritais de Atividade Económica (SDAE) de Gorongosa, baseados no número de seis mil pessoas deslocadas das zonas de guerra, amplamente produtivas, e que acamparam na vila da Gorongosa.
Em declarações hoje à Lusa, Paulo Majacunene, administrador de Gorongosa, declinou a tecer qualquer comentário sobre a situação da fome no seu distrito.