O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, indicou na segunda-feira, de forma explícita, que a compra de dívida pública no mercado pode ser uma forma de estimular a concessão de crédito e combater a inflação baixa na zona euro. Minutos depois de o italiano falar, perante os deputados do Parlamento Europeu, o banco central alemão (Bundesbank) voltou a lançar o alerta de que essa medida poderá criar um “risco moral” e que contribuirá para que os governos se endividem mais e interrompam as reformas estruturais.

“A compra de dívida pública implica um risco moral adicional significativo, além de ser questionável do ponto de vista legal”, afirmou Jens Weidmann, presidente do Bundesbank e um dos membros do conselho de governadores do BCE. Numa conversa com o jornal Handelsblatt, colocada no “site” oficial do banco central alemão, o responsável acrescentou que “se os governos souberem que o eurosistema irá colocar um teto máximo nas taxas de juro [ao estar presente no mercado para comprar a dívida], eles poderão sentir-se encorajados para aumentar o endividamento”.

E o pior, diz Weidmann, é que “os governos deixarão de poder ser responsabilizados pelas suas políticas orçamentais e económicas erradas”. “A crise do euro mostrou bem o que acontece quando o princípio da responsabilidade individual nacional é violado ao longo de um período de tempo alargado“, atirou Jens Weidmann.

Jens Weidmann notou, ainda, que é “compreensível” que o Conselho de Governadores esteja a discutir mais medidas de estímulo, já que a taxa de inflação está muito abaixo do objetivo de 2%. Mas recomendou “alguma calma”, já que a inflação baixa é um resultado da descida dos preços da energia e do “processo de ajustamento necessário”.

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Estes dois fatores já foram identificados por Mario Draghi como causas da inflação baixa que a zona euro vive. Ainda assim, o presidente do BCE reiterou na segunda-feira que o banco central continua pronto para tomar mais medidas não convencionais, que “podem incluir a compra de uma variedade de ativos, entre os quais dívida pública”.

Países não devem pedir à Alemanha para investir mais

O presidente do banco central alemão refutou, também, as críticas lançadas frequentemente à Alemanha, instando a maior economia da zona euro a investir mais e, assim, estimular a procura interna na economia da união monetária.

“Não temos na zona euro uma política orçamental unificada, nem há vontade entre os Estados-membros para abdicar de quaisquer poderes orçamentais”, afirmou Jens Weidmann. É por isso que “os apelos a que a Alemanha aumente o investimento para ajudar os seus parceiros não é mais do que um apelo para uma política orçamental comum”, alertou.

Além disso, “um aumento do investimento na Alemanha faria pouco para ajudar os países da periferia” da zona euro, defendeu Jens Weidmann.