Há uma cultura vigente no sistema financeiro que incentiva os banqueiros a mentir quando estão perante a possibilidade de um ganho financeiro. É esta a conclusão de um estudo da Universidade de Zurique, na Suíça, e que foi publicado esta quinta-feira na prestigiada revista científica Nature. Como foi feito o estudo? Bastou pedir a um grupo de banqueiros e funcionários da banca de investimento para atirarem uma moeda ao ar.
Cerca de 200 pessoas participaram no estudo, 128 dos quais funcionários de um único banco internacional que não foi identificado. Cada participante tinha de lançar uma moeda ao ar 10 vezes, sem ninguém ao pé de si para comprovar se tinha saído cara ou coroa, e depois reportar o resultado através de um e-mail. Mas antes de lançar a moeda ao ar, era revelado aos participantes qual era o resultado premiado com 20 dólares (por exemplo, cara) e qual não dava direito a nenhum prémio (coroas, neste caso).
Por cada vez que a moeda caísse com a cara virada para cima – ou, melhor, cada vez que o participante dissesse que tinha acontecido – havia um prémio de 20 dólares. Mas, para introduzir um fator de competitividade na mente dos participantes, foi dito aos banqueiros que esse prémio só seria pago se o participante obtivesse ou número igual ou superior de “caras” do que um outro participante escolhido ao acaso.
Pela lei das probabilidades, a repartição das caras e coroas seria de 50%. Mas os banqueiros reunidos no grupo experimental indicaram que, em média, o resultado foi caras em 58,2% das vezes, o que é um indicador de uma apresentação desonesta dos resultados por parte dos participantes. E há uma nuance: este grupo experimental de banqueiros foi convidado, antes do exercício, a falar de forma extensa sobre o seu trabalho no banco e sobre a atividade financeira no geral.
Houve um outro grupo – o grupo de controlo – a quem foi pedido para falar sobre a sua vida pessoal e sobre outros assuntos em nada relacionados com a banca. Neste grupo de controlo, a proporção de lançamentos premiados foi de 51,6%. Os cientistas acreditam que falar sobre a atividade bancária, no caso do grupo experimental, colocou os participantes numa maior predisposição para a mentira.
Além de pessoas ligadas à banca, foram também convidadas a participar no estudo sujeitos que trabalham noutras áreas, como o setor farmacêutico, telecomunicações, ou estudantes. Nesses casos, pedir para que estes falassem sobre a sua atividade profissional não levou a uma apresentação de resultados que indicasse uma maior predisposição para a mentira.
Pode haver algo na cultura da banca, ou nas pessoas que optam por trabalhar nesta área, que é marcada por uma maior tendência para a desonestidade, revela o estudo publicado na revista Nature. Um estudo oportuno, tendo em conta os vários casos recentes de conduta imprópria, um pouco por todo o mundo, por parte de banqueiros e funcionários da banca de investimento.