Apesar de um dia chuvoso, a gastronomia portuguesa acordou esta quinta-feira mais brilhante. A edição de 2015 do Guia Michelin premiou 14 restaurantes, num total de 17 estrelas, um recorde em Portugal. Um dos protagonistas da história com final feliz é José Avillez, agora com o título de primeiro chefe português a conquistar duas estrelas, graças ao restaurante Belcanto. Mas há mais o que contar: fique a conhecer os 14 espaços espalhados pelo país cuja (boa) cozinha já marcou diferença.
Belcanto
“Somos inconformistas por natureza. Todos os dias queremos aprender e encontrar respostas para as perguntas que nos vão surgindo de forma a evoluirmos e avançarmos”. A definição do restaurante Belcanto é feita pelo chef José Avillez que, antes de o abrir, cruzou experiências com nomes conceituados do setor, como Ferran Adrià, Alain Ducasse e Eric Frechon. Foi, inclusive, chef executivo no histórico Tavares entre 2008 e 2011, onde em pouco mais de um ano conquistou uma estrela Michelin.
Ao comando do Belcanto, Avillez assume que a escolha dos ingredientes é criteriosa e que tanto a sazonalidade como o método de produção não industrial são ali valorizados — há ainda preferência por alimentos biológicos, embora sem fundamentalismos. Na carta, que o restaurante garante ter um pitada do que é moderno e tradicional, é possível encontrar sugestões à la carte: desde robalo com algas e bivalves ou lombo de boi corado ligeiramente fumado com alecrim.
São Gabriel
Pereira, Leonel Pereira. É natural do Algarve e, apesar do vasto currículo onde acumula experiências além-fronteiras, optou por regressar às origens. Está ao comando do restaurante desde março de 2013, o qual, na edição anterior do Guia Michelin, viu-se forçado a dizer adeus à estrela entretanto conquistada. Situado numa pequena quinta na Estrada Vale do Lobo, em Almancil, a cozinha praticada encontra raízes (fundas) nas receitas regionais, pelo que a tradição é considerada uma das linhas mestras da casa. As propostas que saem para a sala principal — decorada com uma coleção de azulejos pintados à mão — são posteriormente harmonizadas com vinhos, com sugestões a cargo do escanção Victor d’Avo.
Pedro Lemos
Restaurante e chef partilham as atenções e o nome. O espaço onde antes estavam dois bares de nome curioso, Pifo e Beco, encontra-se agora uma casa recuperada e já premiada com a primeira estrela Michelin, na Foz Velha, no Porto. Os sabores, a mando da tradição portuguesa, são trabalhados pelas mãos do cozinheiro que é discípulo do conceituado Aimé Barroyer. A ementa renova-se, por norma, a cada duas semanas e os clientes são convidados a escolher o que for de sua vontade consoante a disponibilidade da dispensa.
Em junho último, Matt Kramer, jornalista da Wine Spectator, escrevia que Pedro Lemos era, sem sombra de dúvida, o “melhor” chef/dono da Invicta, além de um grande profissional de âmbito europeu. Caracterizado de modesto e tímido, “o senhor Lemos é um daqueles fanáticos que vive para os seus ingredientes e clientes”. Kramer contou ainda que Lemos tem o hábito diário de ir ao mercado pelas 05h00 e que a sua cozinha é ultra refinada e, ainda assim, simples — “o peixe sabe exatamente ao que é”.
Vila Joya
Habituado a prémios, em 2014 o restaurante mantém as duas estrelas Michelin que já antes constavam na ementa – a primeira veio em 1995 e a segunda em 1999. O Vila Joya permanece sozinho, no panorama nacional, no ranking dos 100 melhores restaurantes do mundo de acordo com o prémio The World’s 50 Best Restaurants, onde ocupa a posição número 22. A ementa está a cargo do austríaco Dieter Koschina que tem gosto em usar produtos locais e técnicas de cozinha com origem no norte da Europa. Combinação, essa, que parece ser a receita de sucesso do Vila Joya.
Ocean
É também um austríaco que está à frente do Ocean, no resort algarvio Vila Vita Parc — Hans Neuner foi nomeado Chef do Ano (Portugal) em 2009 e 2012. As duas estrelas são uma constante desde 2011, num restaurante assumidamente gourmet e cujos momentos de refeição são acompanhados de uma vista atlântica, não fosse a sala de jantar desembocar num terraço e jardim situados perto da falésia.
O menu é alternado semanalmente, tal como se pode ler no respetivo site, e inclui um conjunto de produtos do Algarve e do Alentejo. A ligação à Herdade dos Grous é inevitável (situada perto de Beja e propriedade do Vila Vita), da qual são provenientes carnes e vegetais biológicos, bem como o já premiado vinho “Herdade dos Grous”. Nas palavras do austríaco que se deixou encantar por Portugal: “A minha cozinha é como a famosa Valsa de Viena: simples, elegante e romântica. Assim como a valsa, clássica e intemporal.”
Willie’s
Tanto o chef Willie como o restaurante que lhe leva o nome emprestado já foram premiados com o cunho Michelin. Numa zona residencial, em Vilamoura, serve-se cozinha de influências internacionais, cuja fama — a julgar por diferentes meios de comunicação — é muita e devida.
Henrique Leis
Uma casa em madeira, situada na costa algarvia, onde manda o sotaque brasileiro. Henrique Leis nasceu no Maranhão, passou por diferentes setores na área da restauração e acabou por encontrar a vocação entre tachos e panelas. No percurso profissional contam-se experiências angariadas na companhia dos melhores chefes europeus — desde Paul Bocuse, Pierre Troisgros e Guy Savoy a Gaston Lenôtre e Pierre Gagnaíre. Passou por diversos países, como Itália e Alemanha, mas foi por terras lusas que assentou e realizou o sonho de abrir um restaurante próprio em 1993. Sete anos depois, viria a receber uma estrela no guia Michelin. O feito mantém-se até hoje. A cozinha, essa, reflete gostos e tendências francesas.
Il Gallo d’Oro
É gourmet e ocupa lugar no hotel de luxo Cliff Bay. Está sob a égide do francês Benoît Sinthon e detém a primeira e única estrela Michelin conquistada até à data pela ilha da Madeira. A cozinha aromática encontra inspiração nos sabores mediterrânicos e ibéricos, sendo que os produtos locais assumem um papel fundamental, embora combinados com outros de nacionalidade estrangeira. O sucesso é confirmado pelos prémios que tem ganho: entre 2011 e 2013, a carta de vinhos foi galardoada com o “Award of Excellence”, da Wine Spectator, e ainda no ano passado foi considerado o “Melhor Restaurante Gastronómico do Ano” em Portugal, pela Revista Wine – Essência do Vinho.
Largo do Paço – Casa da Calçada
Está situado a poucos minutos do Porto e do Douro e marca presença num hotel de cinco estrelas — a Casa da Calçada, originalmente construída durante o século XVI para servir como um dos principais palácios do Conde de Redondo, foi recuperada em 2011. Contam-se duas personalidades de destaque no restaurante, além da restante equipa que ali trabalha: o chef Vitor Matos e o sommelier Adácio Ribeiro. A cozinha de raiz portuguesa procura refletir os sabores da região com recurso a produtos frescos, quer da terra quer do mar, e os menus mudam sazonalmente.
Fortaleza do Guincho
O francês Vincent Farges está desde de 2005 à frente da fortaleza que, construída no século XVII, ergue-se no topo de uma falésia e está de frente para o mar do Guincho. O restaurante do hotel, inaugurado em 1998, aposta numa cozinha franco-portuguesa. É em 2001 que surge a primeira estrela Michelin, que não há meio de se ir embora, e seis anos depois é a vez de a adega receber três distinções consecutivas, com o prémio Best Award of Excellence, da Wine Spectator.
The Yeatman
Tem como pano de fundo o rio Douro e o centro histórico de uma Invicta que está cada vez mais na moda. A cozinha de “imaginação”, como afere o site do hotel dedicado ao vinho, aposta em sabores nacionais que são, posteriormente, interpretados e apresentados num estilo contemporâneo sob a batuta do chef aveirense Ricardo Costa. Da carta consta uma grande variedade de peixe e de produtos frescos, mas também há espaço para especialidades gastronómicas regionais. Na lista de vinhos contam-se néctares portugueses e outros provenientes de vários pontos do globo, sendo que o restaurante faz questão de harmonizar as propostas da cozinha com aquelas da adega.
Feitoria
Cozinha portuguesa e de autor num espaço que duas vezes ao ano inova na carta. As propostas que saem da cozinha inserida no hotel Altis Belém viajam entre texturas e aromas tradicionais e aqueles exóticos — há menus de degustação e o criativo –, cuja inspiração máxima encontra razão de ser na história marítima do país. O papel de cozinheiro-mestre cabe a João Rodrigues e sua equipa.
Eleven
Está num dos pontos mais altos da cidade de Lisboa, com vista privilegiada para o Parque Eduardo VII e para o rio Tejo, e apresenta uma arquitetura moderna e minimalista que aposta em materiais orgânicos — pedra, madeira e ferro. É Joachim Koerper quem dá ordens às tropas num contexto de cozinha, um apaixonado convicto pelos sabores do sul da Europa — o facto de ser, desde 1999, chefe consultor da Quinta das Lágrimas faz dele um conhecedor da cozinha servida por terras lusas.
L’And Vineyards
“No L’AND procuramos reinterpretar a identidade da cozinha portuguesa, valorizando ingredientes da estação e de origem regional, produto, em regra, de uma agricultura orgânica e biodinâmica. Para cada prato ou menu, propomos um vinho ou bebida adequada procurando que a sua experiência seja completa”. É o chef Miguel Laffan, que está à frente do premiado restaurante do resort L’And Vineyards, em Montemor-o-Novo, quem o diz.