A Portucel, maior produtora europeia de papéis finos de impressão e de escrita não revestidos, remunerou os dez membros do respetivo conselho de administração em 10,4 milhões de euros em 2013. Este montante ultrapassa os 9,5 milhões de euros inscritos nas contas da empresa como imposto sobre o rendimento do ano em causa. Este é um caso único entre as maiores empresas cotadas na bolsa de Lisboa.

Pedro Queiroz Pereira, o presidente da papeleira, que não tem funções executivas, foi o que mais recebeu: 2,5 milhões de euros, dois terços dos quais como remuneração variável. Foi o administrador das principais empresas cotadas em Lisboa, incluídas no índice PSI 20, que mais ganhou em 2013. Além da remuneração da Portucel, Queiroz Pereira acumulou mais 1,8 milhões de euros da Semapa, a que também preside. A Semapa controla cerca de 75% do capital da Portucel.

Entre as 18 empresas analisadas pelo Observador, a Portucel é a única que pagou mais aos membros dos órgãos de administração do que declarou como imposto sobre o rendimento. A que mais se aproxima é a Teixeira Duarte: os seus administradores receberam 1,4 milhões de euros em 2013, enquanto o imposto sobre o rendimento foi de 2,1 milhões de euros.

Os lucros da Portucel de 219,5 milhões de euros em 2013 gerariam um imposto esperado de 54,9 milhões de euros. No entanto, benefícios fiscais, mais-valias fiscais, subsídios ao investimento e outros ajustamentos baixaram a tributação da companhia.

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Mais frequente nos EUA

Embora a Portucel seja um caso isolado entre as maiores empresas cotadas em Portugal, a situação é mais frequente nos Estados Unidos da América. Na passada terça-feira, o Institute for Policy Studies desvendou que sete entre as 30 maiores empresas norte-americanas remuneraram mais o presidente executivo do que pagaram em impostos federais sobre os lucros. Todos eles receberam mais do que o equivalente a 13,4 milhões de euros.

Dois presidentes, os da Boeing e da Ford Motor, receberam mais de 18 milhões de euros, enquanto as empresas que lideram foram reembolsadas pelo fisco norte-americano. Entre os 100 presidentes mais bem pagos nos EUA, 29 ganharam mais em 2013 do que as suas sociedades pagaram em impostos sobre o rendimento empresarial.