O dia 1 de dezembro marca o regresso do cinema à Gulbenkian, em Lisboa, com o ciclo “P’ra Rir”. Com mais de 900 lugares sentados, o Grande Auditório sofreu obras para se transformar numa sala “topo de gama”, tanto em conforto como em tecnologia. A primeira sessão é gratuita para quem quiser confirmar.
Entre 2006 e 2007, João Bénard da Costa comissariou o ciclo “Como o Cinema Era Belo – 50 Filmes Inesquecíveis”, no âmbito das comemorações do cinquentenário da Fundação Gulbenkian. Desde aí que o Grande Auditório não acolhe ciclos de cinema. “Agora que foi alvo de obras e está topo de gama, com um som extraordinário, este ciclo vai devolver às pessoas a experiência da sala escura”, por oposição ao plasma caseiro ou ao ecrã de computador, disse Rui Vieira Nery, diretor do programa de Língua e Cultura Portuguesa da Gulbenkian, esta terça-feira, na apresentação do ciclo “P’ra Rir”.
Ao todo há 20 filmes (todos legendados), de realizadores como Chaplin, Buster Keaton, Federico Fellini, Jerry Lewis, Nanni Moretti, Martin Scorsese, Woody Allen e Ingmar Bergman, para ver até 21 de fevereiro. João Mário Grilo foi o realizador convidado para programar o ciclo de estreia. Mais do que ter em conta categorias como géneros, épocas ou autores, no centro das escolhas estão as emoções, bem como a natureza da sala onde os filmes vão ser exibidos. “Concentrei-me numa emoção humana, o riso. Rir em conjunto é melhor do que rir sozinho”, disse, por oposição ao ato de ver em casa um DVD. “Queremos voltar à vocação popular do cinema, e o cinema são filmes mas também são pessoas”.
“P’ra Rir” está organizado em seis séries e cada uma é um arranjo entre filmes. A começar na “Herança Burlesca”, série que engloba os filmes “A Quimera de Ouro”, de Charles Chaplin, “As Leis da Hospitalidade”, de Buster Keaton, e “Boudou querido”, de Jean Renoir. A última série chama-se “O cinema ri de si próprio” e inclui quatro filmes, “A Noite Americana”, de François Truffaut, “Ginger e Fred”, de Federico Felinni, “Caro Diário”, de Nanni Moretti, e “Zelig”, realizado em 1983 por Woody Allen.
“Não estamos a fazer um exercício saudosista, nem estamos a tentar criar uma suposta crise do cinema voltando aos clássicos. Os clássicos também são de hoje”, disse Rui Vieira Nery. O diretor frisou que o convite serve também para quem procura o simples entretenimento, para quem quer “pura e simplesmente rir”.
“Quimera do Riso”, filme de 1941 de Preston Sturges, é o filme de abertura que vai ser exibido na segunda-feira, às 21h00, com entrada livre. Para que o preço não seja um impedimento para quem quiser pisar o chão alcatifado da sala, experimentar as cadeiras forradas, ver o ecrã gigante e sentir o som. A partir daí, cada bilhete custa três euros. Existe ainda um passe para todos os filmes por 30 euros, ou seja, o preço de cada filme passa a custar metade. “Gostávamos de criar [nas pessoas] o hábito regular de vir ao cinema”, disse Rui Vieira Nery. Para além das fitas, a tecnologia digital adotada vai permitir maior acesso a boas cópias restauradas. “A sala permite potenciar as melhores características dos filmes, da iluminação à cor e ao som”, completou.
Depois de João Mário Grilo haverá outros programadores convidados. Rui Vieira Nery frisou que a Gulbenkian “não é a Cinemateca”, mas que os ciclos vão ser regulares.