António Costa falou apenas cinco minutos antes de começar o jantar de Natal do Grupo Parlamentar do PS, no refeitório dos frades na Assembleia da República. Mas teve tempo para dizer duas coisas: que 2015 vai ser o ano em que os portugueses vão recuperar a confiança e, sobretudo, para deixar um elogio ao governo do Bloco Central liderado por Mário Soares em coligação com o PSD de Carlos da Mota Pinto, numa altura em que também o FMI tinha feito uma intervenção cirúrgica em Portugal.

“Se pensarmos como foi o Bloco Central, e todas aquelas medidas [implementadas pelo FMI], nada teria sido possível sem, obviamente sem um grande ministro das Finanças [Ernâni Lopes], mas sobretudo sem a capacidade de liderança e de mobilização do coletivo nacional que Mário Soares teve na altura”, disse Costa, referindo-se à coligação PS/PSD que governou Portugal entre 1983 e 1985.

É a primeira vez que o líder do PS fala, ainda que sem o transpor para os dias de hoje, numa aproximação ao PSD. Ainda há duas semanas, no congresso socialista que o confirmou como secretário-geral, Costa tinha feito um discurso de aproximação à esquerda para um eventual cenário de ter de fazer um acordo de coligação caso vença as legislativas sem maioria absoluta. Na altura, disse que não era uma questão de nomes (“nem Pedro, nem Rui, nem Francisco”), mas sim de políticas, demarcando-se desta forma de quaisquer entendimentos com os sociais-democratas.

“Ano novo vida nova”, foi o lema do curto discurso de António Costa, onde procurou mostrar que a capacidade de mobilização da confiança dos portugueses que era precisa naquele período da década de 80, quando Portugal estava sob intervenção externa, volta a ser precisa agora. Falando aos deputados socialistas durante o jantar de Natal do partido, sublinhou várias vezes que 2015 vai ser precisamente o ano da reposição dessa “confiança”: “da confiança das famílias, dos jovens, dos pensionistas, dos investidores”.

E lembrou mesmo o simbolismo histórico do ano que aí vem para dar mais força à mensagem. “Em 2015 assinalamos o início e o termo dos nosso ciclo histórico com os 600 anos da conquista de Ceuta e os 60 anos da descolonização”, disse, acrescentando que a expansão territorial que houve noutros tempos deve agora dar lugar a uma expansão “para dentro, para descobrir as Índias dentro de nós próprios”.

“2015 tem de ser o ano da confiança: ano novo, vida nova”, foi a mensagem de boas festas que Costa deixou aos deputados.

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