O filme “Uma entrevista de loucos“, uma sátira em torno do assassinato do ditador norte-coreano Kim Jong-Un, semeou a fúria de Pyongyang. O país condenou publicamente a longa-metragem protagonizada pelos atores Seth Rogen e James Franco e, segundo o FBI, promoveu um ataque informático de enormes proporções à Sony. A estreia da película chegou a ser cancelada, ainda que temporariamente: “The Interview” (título original) acabou por chegar a cerca de 300 cinemas nos Estados Unidos e à Internet. Mas este não é o único filme na história do cinema a incomodar governos de outros países, em particular aqueles de cariz autoritário — como exemplo, reunimos cinco títulos cinematográficos.

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Em 1999 estreava o filme “Ana e o Rei“, com Jodie Foster a dar vida a uma professora inglesa que, em pleno século XIX, muda-se de armas e bagagens para o antigo reino do Sião (atual Tailândia) para ser tutora dos filhos do rei Mongkut (interpretado Yun-Fat Chow). E é precisamente pelo monarca que a personagem de Foster se apaixona — sentimento mútuo entre os protagonistas.

Conta a brasileira Veja que a película aparentemente inofensiva foi analisada pelas autoridades da Tailândia. Apesar de algumas mudanças terem sido feitas no guião, não houve acordo entre autoridades e produtores e o filme acabou por ser filmado na Malásia. O argumento contra a longa-metragem tinha por base uma imagem “desrespeitosa” do antigo rei projetada na história. A Veja acrescenta ainda que existe uma lei de 1930 que proíbe representações consideradas “distorcidas” de figuras da monarquia.

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Borat chegou ao mercado em 2006 sem a cooperação da Gemini Films, a distribuidora na Ásia Central da 20th Century Fox que se recusou a lançar o filme no Cazaquistão, conta a Fortune. A longa-metragem, onde o comediante britânico interpreta um jornalista antissemita, não poupa o país em questão e faz-lhe um retrato violento e intolerante. O ministério dos negócios estrangeiros chegou a ameaçar Cohen com um processo e o governo acabou por pedir que o filme não fosse distribuído no país, instruções que foram seguidas pelo estúdio. Mas em 2012 tudo mudou, quando também o ministro dos negócios estrangeiros, Yerzhan Kazykhanov, declarou que o filme havia ajudado a trazer turistas ao destino. “Estou grato a ‘Borat’ por ajudar a atrair turistas ao Cazaquistão”, disse à data.

A comédia Zoolander, por seu turno, não foi do agrado do governo malaio. Na longa-metragem de 2001, o modelo interpretado pelo ator norte-americano Ben Stiller sofre um processo de lavagem cerebral no sentido de assassinar o primeiro-ministro daquele país — o plano é orquestrado por altos cargos na indústria da moda que, segundo enredo, usam mão-de-obra infantil nas suas confeções que têm como pano de fundo a Malásia. Resultado? As autoridades censuraram o filme e o mesmo aconteceu em nações vizinhas, como em Singapura.

A personagem de John Rambo, interpretada por Sylvester Stalone, regressou ao cinema em 2008 com uma nova missão: salvar um grupo de missionários das mãos de militares birmaneses. O filme violento foi banido pela ditadura militar do país, atualmente República da União de Myanmar, muito provavelmente por não ter gostado da forma como foram retratados os soldados, tidos como sanguinários, diz a Fortune. No país, a procura pelo filme foi grande e nem os sete anos de prisão para quem vendesse uma cópia da longa-metragem evitaram a sua circulação dentro de fronteiras.

Nem Argo, que venceu o Óscar de melhor filme em 2012, escapou à irritabilidade de terceiros. A produção que tem por base uma missão secreta para retirar do Irão seis diplomatas norte-americanos, depois da tomada de embaixada dos EUA naquele país em 1979, fez com que as autoridades ameaçassem processar os respetivos produtores. As personagens iranianas representadas do filme e que ainda hoje ocupam cargos de destaque no país disseram, então, que não houve preocupação em mostrar os dois lados da história. A longa-metragem não chegou a ser oficialmente lançada no Irão, embora tenha chegado à população na forma de cópias pirateadas.