O autocarro parou, encostou à berma, quando seguia para o estádio. O motorista saiu e agarrou na água para dar de beber ao motor, que se estava a queixar. Foram 17 minutos quietos, à espera. Até que a máquina voltou a trabalhar e lá seguiram caminho para o D. Afonso Henriques, o tal palco que terá dado origem aos problemas entre Marco Silva e Bruno de Carvalho. Desta vez o autocarro do Sporting, montado por onze jogadores, não parou, nem precisou de água, mas usou outros pneus e até aproveitou a berma para marcar o primeiro golo da partida. Sim, falamos do corredor direito, jogada construída por Podence e Esgaio e finalizada por Héldon.

Marco Silva, respeitando a causa do presidente no que toca à Taça da Liga, utilizou uma equipa nova, com muitos jovens da equipa B, como Gauld, Esgaio, Tobias Figueiredo e Podence. Na defesa estava também um velho conhecido, que logo aos quatro minutos colocou o coração dos sportinguistas a mil à hora. Porquê? Porque Sarr escorregou diante de uma bola fácil e permitiu a Hernâni seguir a alta velocidade para a baliza de Marcelo Boeck. O extremo direito rematou para fora.

A redenção chegou um minuto depois, cortesia de Héldon. Esgaio começou, Podence, com um belo toque, continuou, Esgaio recebeu e escolheu que o destino seria Héldon. O avançado rematou cruzado com o pé direito para o um-zero. A partir daqui foi sempre a cair. O jogo tornou-se aborrecido… e assim continuou. Num duelo destes, com tantas e tantas alterações, e não muito bem jogado, vale a pena avaliar os estreantes ou os que estamos pouco habituados a ver. Podence estava mexido. É rápido, com bom toque de bola e sempre, sempre com a cabeça levantada. Ia falhando na hora do passe, mas nem parecia ser por nervosismo, mas sim por querer fazer as coisas rápido de mais.

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Rosell, aqui e ali, mostrava bons pormenores, dignos de trinco, pois claro. Refinado no passe, competente a ler o jogo, mas nem sempre agressivo na hora de defender. Numa altura em que William Carvalho está a anos-luz do que foi, talvez não seja mal pensado levar este catalão a sério. Os guarda-redes eram espetadores, que provavelmente estavam aborrecidos com o que tinham a acontecer à sua frente. Exceção para dois lances do Vitória, finalizados por Plange e Gui: valeu Boeck.

O intervalo chegaria sem que nada de extraordinário voltasse a acontecer. Uma nota positiva para Ryan Gauld, que, apesar do que se diz sobre ele, mostrava-se sereno, sem querer brilhar ou fazer mais do que os outros. Normalmente os garotos fazem isso para dar nas vistas. Ele não. E mostrou maturidade por isso. Também na hora de defender mostrou que veste a camisola do coletivo, que quer como os outros e que rema para o mesmo lado. Não tem tiques de estrela.

A segunda parte começou com mais Vitória. Foram dez, quinze minutos por cima do Sporting. Não foi um sufoco, calma, mas foi uma reação positiva. Aos 55′, acabadinho de entrar, Alex sacou um cruzamento da esquerda e viu dois jogadores vimaranenses muito perto do golo. Mas nada. O acerto do 3-0 da última vez estava muito, muito longe. A seguir foi Ricardo a tentar, e logo de pontapé de bicicleta. Passou muito perto do poste esquerdo de Boeck.

O Sporting acordou à passagem dos 60 minutos. Tanaka, com a canhota, bateu um livre direto com muita pinta, mas Douglas disse “não senhor”. Foi um grande momento de futebol. Bruno de Carvalho e Augusto Inácio vibraram a bom vibrar no banco de suplentes.

Tobias Figueiredo esteve tranquilo na defesa dos leões. Geraldes, apesar de defrontar um dos extremos mais complicados do futebol português (Hernâni), esteve bem de rins, sabendo fazer contenção e esperar pelo momento certo de atacar a bola. No ataque era mais complicado: primeiro porque é destro, depois porque o Sporting não segurava a bola o tempo suficiente para os laterais subirem com qualidade. Slavchev era o jogador mais desligado da equipa.

Do outro lado, André André, filho de jogador, é a alma da equipa. É aguerrido, é bravo como o pai outrora foi, tem coragem e sabe tocar na bola. Quer assumir e tenta lançar ataques. Aparece na área e vai à luta nas bolas paradas. Exemplo disso foi o que aconteceu aos 79′, quando cabeceou com muito perigo depois de um canto e ameaçou o empate.

Quando já se caminhava e ansiava pelo apito final, as redes voltariam ainda a mexer. Com Wallyson, Sacko e Dramé em campo, foi o último a brilhar. Já depois da hora, o francês marcou um golaço de fora da área. Douglas nem se mexeu. Um golão. Fica um bom cartão-de-visita deste jovem de 22 anos que tem contrato até 2018 e uma cláusula de rescisão fixada nos 45 milhões de euros.

Ponto final em Guimarães. O Sporting vence no D. Afonso Henriques por 2-0, algo que não acontecia desde 2004. Na altura, liderados por Fernando Santos, Niculae (72′) e João Pinto (75′) fizeram os golos tardios. Os lisboetas lideram agora o Grupo C na Taça da Liga, beneficiando do empate entre Boavista e Belenenses (0-0).