Os olhos e ouvidos não liam nem ouviam “ninguém” a escrever ou a falar da “qualidade do Braga”. Os de Sérgio Conceição, que por isso se queixou. E calou. O treinador, no sábado, disse que só “institucionalmente obrigado” voltaria a falar e pronto. O Braga, no dia seguinte, jogou, batalhou, quase marcou e perdeu com o Sporting e o último pontapé que se deu na bola que andou mais de hora e meia a rolar. Um golo que já viu fora do banco de suplentes.
Pelo meio, na segunda parte, viu um vermelho que para ele foi um bilhete só de ida para a bancada. Expulso. E obrigado a distanciar-se de um relvado. O mesmo onde um Braga por si montado mostrava uns endiabrados Rafa e Pardo, que criavam perigo sempre que tocavam na bola, um agigantado Danilo, novato brasileiro que está feito um senhor trinco, e, sobretudo, uma equipa decidida a ser intensa e que tenta acelerar ao máximo tudo que faz. Sim, aqui há qualidade. Muita, bem aproveitada e, até agora, a única suficiente em Portugal para já ter derrotado o campeão nacional, por duas vezes.
Tudo orientado por um homem que “é assim”, como é, “há 40 anos”. Assim como? A “viver o jogo com paixão e intensidade”. A reagir, a gritar e a esbracejar, coisas que fez após o árbitro apitou uma falta a Danilo. Não se sabe que palavras terá misturado nesta reação, mas valeram-lhe uma expulsão. “Não estou aqui a inventar nada. Não ofendo ninguém, já o disse mais de dez mil vezes”, explicaria depois, sem perceber o porquê de “alguns treinadores fazerem aquilo que [faz] e não acontece nada, como não deve acontecer, e [com ele] têm uma facilidade” em expulsá-lo.
Algo que já tinha acontecido a 26 de outubro, contra o Benfica. Também por reagir a algo que acontecera no jogo. “Só esbracejei e disse que não era falta”, disse, agora, após a derrota frente ao Sporting. Do árbitro, como sempre, não se ouviu nada para justificar a decisão. Portanto, ninguém sabe o que um terá dito e o outro ouvido. Certo é que Sérgio Conceição reagiu, de forma intempestiva, e foi castigado por isso. “Se me expulsam desta maneira, têm de expulsar todas as semanas outros treinadores”, chegou a dizer. É uma opinião.
O técnico diz que não vai mudar: “Nunca na vida!” Quem não o deverá fazer são os árbitros, que ali estão para cumprirem e fazerem cumprir as regras do jogo. Ao invés de se queixar, talvez será mais fácil que Sérgio Conceição tempere as reações e as contenha até ao limite em que os homens do apito não desviem as atenções para si. O Braga agradece. Os adeptos, a liga e o futebol nacional também, porque não serve de nada ter um dos melhores treinadores do campeonato sentado na bancada.
“Um treinador, qualquer dia, tem de estar no banco com um adesivo na boca.” A frase é de Jorge Rosário, adjunto do treinador dos bracarenses, que juntou a sua às queixas de Sérgio Conceição. Ou seja, a expulsão terá mesmo sido um castigo para algo que o técnico disse ao árbitro.
Livre, último minuto, pé esquerdo, golo, vitória. Tanaka, japonês, samurai. O avançado nipónico que o Sporting contratou no verão decidiu o encontro em Braga, quando perguntou se podia bater o livre que Nani se preparava para marcar. O português deixou e o japonês marcou. A meio da semana já tinha tido pé nas jogadas de três dos quatro golos que os leões marcaram ao Famalicão. E no domingo foi mesmo ele, por fim, a marcar e decidir.
E um suspiro em jeito de “finalmente” é o que se dá ao saber-se a vitória do Gil Vicente. A primeira que a equipa consegue em cinco meses de campeonato. Foram dois golos marcados contra apenas um do Penafiel, equipa que está logo à frente dos de Barcelos na tabela — na qual ainda só amealharam nove pontos.
Os primeiros três conseguidos de uma vez, contudo, vieram com polémica à mistura. Rui Quinta, treinador do Penafiel, até apontou o dedo a algo que se passou durante o intervalo da partida. “Se os delegados da Liga cumprirem a sua obrigação, eles que estão todos bem vestidos, vão dizer que aconteceram ali coisas que não deveriam ter acontecido”, revelou, no final de um jogo que teve quatro expulsões (duas em cada equipa).
Depois houve um Benfica pós-Enzo Pérez, que mostrou e inventou talvez a melhor versão de futebol que já praticou esta temporada — domando o terceiro classificado, Vitória de Guimarães –, e um FC Porto que soube rodear um Belenenses tímido e picá-lo com cruzamentos e golos.
Estoril Praia 1-1 Moreirense
Benfica 3-0 Vitória de Guimarães
Académica 2-2 Paços de Ferreira
FC Porto 3-0 Belenenses
Arouca 1-0 Vitória de Setúbal
Gil Vicente 2-1 Penafiel
Rio Ave 0-0 Marítimo
Nacional da Madeira 2-1 Boavista
Sporting de Braga 0-1 Sporting
A jornada trouxe a décima derrota no campeonato para Vitória de Setúbal e Boavista. E também fez com que o Belenenses se afastasse um degrau do topo da tabela, trocando de posições com o Paços de Ferreira. A derrota do Braga deixou que, mesmo só por um ponto, o Rio Ave se aproximasse dos minhotos e esteja agora apenas a um par de pontos do quinto posto. Eles que, na Taça de Portugal, se vão defrontar para decidir quem avança até à final do Jamor.