destaque

Os jogadores saíam e o treinador ia atrás. Até uma bancada se construía e as expetativas, como um balão cheio de hélio, eram inflacionadas e não paravam de subir. Dois quartos lugares seguidos e um olá a repetir-se à Liga Europa após vir da segunda divisão ajudavam. O clube estava a crescer e, esta época, queria fazê-lo ainda mais, como o pulo que um miúdo dá, sem aviso, quando mora na adolescência. O que o Estoril quis dar logo, de repente, para toda a gente ver.

Ao início correu mal. Em dez jornadas só duas vitórias apareceram e sofreram-se 20 golos. A equipa emperrava, as coisas não saíam, os jogos não rendiam e começava-se já a falar no que José Couceiro por lá andava a fazer. O treinador pedia tempo, clamava por paciência e criticava quem tudo pedia de um dia para o outro. Parecia ter razão — porque desde a 9 de novembro que o Estoril não perde, em lado nenhum. Já são sete jogos sem perder, com FC Porto, PSV Eindhoven (Liga Europa) e, agora, Vitória de Guimarães pelo meio.

Os canarinhos, armados em anfitriões, receberam quem, até aqui, só perdera uma vez e fora melhor que grande parte das equipas. A provar está o terceiro posto que os vimaranenses, mesmo derrotados (1-0), ainda ocupam. E quem também está a provar muita coisa é Kléber. O brasileiro, contratado em setembro, chegou atrasado, com barriga a mais e reputação a menos, após se exilar em empréstimos a clubes do seu país.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Treinou, atinou, começou a jogar e a equipa agradeceu — no domingo marcou o sétimo golo na temporada. E, das duas uma: a continuar assim, ou o FC Porto volta a apostar nele na próxima época, ou alguém o resgata antes que, em junho de 2016 (quando termina o contrato com os dragões), o avançado possa decidir livremente o que fazer à vida e à carreira. Por agora, faz muito bem a um Estoril que já está no décimo lugar.

Quem também prova que cresceu, colocou juízo na cabeça e soube ouvir que o pretende ensinar é André Carrillo. Porquê? Um pormenor, ou vários, aliás. Na Choupana, onde o Sporting, a vencer por 1-0, jogou desde os 78’ com menos um jogador, o peruano conseguiu, nos últimos cinco minutos, que não houvesse jogo — encostou-se à linha, pediu sempre a bola e, quando ela lhe chegou, prendia-a, segurava-a e escondia-a dos adversários. Ia ganhando lançamentos laterais, cantos, faltas e roubando a paciência aos contrários.

Não foi por isto que os leões venceram. Mas, numa equipa sempre amiga da juventude, houve alguém que, mesmo acusado uma e outra vez de ser inconstante e ter tiques de miudeza, se lembrou de ser um antídoto ao encontro e jogar o jogo que só os próprios adeptos da equipa gabam. Foi bonito? Nada. Mas mostrou que no Sporting, e em Carrillo, já há cabeça para se lembrar que nem sempre o risco é a melhor fórmula para se vencer.

desilusão

O braço não se ergueu, a bandeira ficou em baixo e a jogada seguiu. Um remate, uma defesa, um ressalto e um golo. Nico Gaitán marcou, o Benfica ganhou na Luz ao último classificado na jornada do Natal e até para o ano. O golo, contudo, acabou com uma jogada que arrancou com Maxi Pereira a receber um passe em fora de jogo. E pronto: críticas, queixas e bocas a acusarem uma equipa de ser beneficiada.

Um erro é sempre um erro. Não deve nem pode ser desculpável. Nem justificável. Mas não passa disso — de um erro. Neste caso foi um caro, que custou um golo a uma das equipas que estava no relvado. Mas enquanto se ouvirem críticas e palavras que colam intenção aos erros de quem apita, levanta a bandeira e decide, a pressão que rodeia os árbitros não vai deixar de apertar.

Não é por acaso que, em Inglaterra, seja proibido que treinador, jogadores ou quem seja fale de arbitragem em público, ou que Pedro Proença, o árbitro português que mais apitou em palcos importantes, no (aparente) momento de abandonar a carreira, se queixe várias vezes do quão “desgastante” é ser árbitro.

frase

“A mim não me beliscam, não têm hipótese nenhuma, tenho força para aguentar.” Viu lenços brancos a serem abanados nas bancadas, gritos a tornaram audíveis as críticas e até adeptos, à porta do balneário, a levaram longe as queixas que pretendiam que fossem ouvidas de perto. Mas Paulo Sérgio reagiu assim, com esta frase. E mais: “Temos de continuar a trabalhar. O caminho faz-se assim. Ganha os combates não quem bate mais, mas quem aguenta mais a pancada.”

É provável que tenha razão. O problema, contudo, está na pancada que a Académica já leva há muito, muito tempo. Em 14 partidas na liga, os estudantes apenas venceram uma vez e já foi a 29 de setembro, em casa do Arouca (1-0). Ou seja, os tais adeptos que parecem estar fartos e se queixam, ainda não viram a equipa vencer à sua frente, esta temporada. Os de Coimbra são a equipa com mais empates — sete, a contar com este último, contra o Penafiel, em casa — e já estão no penúltimo posto da tabela. Nem sempre um adepto é justo, sim, mas é ele que dá receitas, apoio e paixão.

resultados

FC Porto 4-0 Vitória de Setúbal
Estoril Praia 1-0 Vitória de Guimarães
Académica 1-1 Penafiel
Arouca 1-0 Marítimo
Moreirense 1-0 Boavista
Benfica 1-0 Gil Vicente
Nacional da Madeira 0-1 Sporting
* esta jornada há duas partidas que jogam esta segunda-feira: o Sporting de Braga-Paços de Ferreira, que arranca às 19h, e o Rio Ave-Belenenses, que começa às 21h.

A jornada nasceu com a recuperação de uma ressaca: os dragões, em casa, atropelaram o Vitória de Setúbal por 4-0 e estrearam José Campaña, que pelo que se viu é mais um que bastante atino no passe e estilo que Julen Lopetegui está a enraizar no FC Porto. O Moreirense, após empatar em Alvalade na semana anterior, ganhou ao Boavista que, está visto, terá de se especializar na caça de pontos em casa, onde conheço a relva artificial melhor do que ninguém — já somou nove pontos no Estádio do Bessa, enquanto, longe de casa, só foi buscar seis.