Tanaka, Junya Tanaka. É este o nome do novo herói de Alvalade. Japonês, natural de Tóquio, tem 27 anos, 1.80m e 75 quilos. A arma deste samurai 2.0 é a canhota, que na pré-época prometia muitas coisas boas. Mas a exigência e a concorrência roubaram-lhe um lugar de destaque. Teria de esperar, ser paciente. Na Taça de Portugal, frente ao Famalicão, participou em três dos quatro golos. E agora isto, em Braga. Isto, senhoras e senhores, é um golaço. Foi de livre direto, já depois da hora, a fazer lembrar David Beckham, Sinisa Mihajlovic e Juninho. O jogo foi intenso e até prometia acabar 0-0, algo que não acontece entre estas duas equipas, no campo do Braga, desde setembro de 1992. Mas Tanaka entrou e resolveu…

SP. BRAGA: Matheus, Baiano, André Pinto, Aderlan Santos, Djavan, Danilo, Pedro Tiba, Pardo, Rúben Micael, Rafa, Éder

SPORTING: Rui Patrício, Cédric, Maurício, Paulo Oliveira, Jefferson, William, Adrien, João Mário, Carrilo, Nani, Montero

No meio-campo estava a chave do jogo. A batalha prometia ser ali, com os guerreiros do Minho Danilo, Tiba e Rúben Micael contra William, Adrien e João Mário. Todos eles lutavam por cada centímetro como se a sua vida dependesse disso. Foi bom de ver. As segundas bolas, inicialmente ganhas pelos bracarenses, anunciavam quem queria mais. A coisa equilibrou depois, e cada lance fazia faísca. Muitas vezes chegavam tarde e a pancada era inevitável, é o preço pela entrega. O ambiente no estádio ajudava a tornar este jogo especial.

Sem golos, com poucos remates perigoso neste primeiro tempo, valia a pena focar em certos pormenores. André Pinto e Paulo Oliveira iam assinando cortes de encher o olho. Micael, Rafa, Adrien e Nani mostravam que têm uma frieza e qualidade que não deixam de surpreender. Esta gente nasceu para jogar futebol e não se fala mais nisso. Pardo foi o primeiro a assustar Rui Patrício no início, Nani tentou de longe mais tarde, em dose dupla.

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O Sporting, tentando contrariar a pressão alheia, tentava controlar a bola e segurar o jogo, enquanto os jogadores de Sérgio Conceição preferiam recuperar e disparar na frente a 300 à hora. Pardo, Rafa (que grande jogador está aqui) e Éder eram as motas, com o depósito cheio e muitos cavalos e coração debaixo daquela camisola encarnada. Aos 30′ aconteceu o grande momento do primeiro tempo: arrancada de William, passe de trivela para a direita, onde estava Carrillo. O peruano cruzou e Matheus afastou, para os pés de Nani, que voltou a investir contra a baliza inimiga. Matheus agigantou-se e sacudiu para canto.

Éder e Rafa seriam os seguintes na fila, para o encontro com a glória. Mas nada feito, Rui Patrício encheu a baliza do Sporting. Pelo meio lá ia dando uns conselhos aos defesas, como aconteceu no início com Cédric, quando este fez uma falta desnecessária perto da área: “tem calma, meu”. Intervalo no Axa: 6-5 em remates para os bracarenses; empate em faltas (9-9) e na posse de bola.

A segunda parte começou ainda mais frenética. Rui Patrício e Matheus voltaram a ser os heróis desta partida. Primeiro foi Pardo, depois de um trabalho delicioso, a testar o guarda-redes dos leões. Na resposta, João Mário viu o guarda-redes brasileiro negar-lhe o primeiro da partida. A seguir foi Carrillo a tentar a sorte, mas o azar disse-lhe “bom dia” — bola no poste. À passagem do minuto 60 era o Sporting quem estava melhor. O ritmo abrandaria. Que belo jogo.

Pardo e Carrillo tiveram muitas vezes via aberta pelos respetivos flancos direitos. Jefferson e Djavan tiveram pela frente um osso duro de roer — técnica, irreverência e velocidade, tudo no mesmo tacho. Mas as pilhas, de toda a gente, começariam a falhar. O campo parecia estar maior, e as pernas já não respondiam da mesma forma. Essa evidência estava muito clara também para os treinadores, que, em dois minutos (77′ e 78′), colocaram em campo Pedro Santos, Salvador Agra, Tanaka e Carlos Mané.

O jogo voltaria a ganhar interesse, graças também às investidas dos laterais do Sp. Braga, Djavan e Baiano. Havia menos clareza nesta fase, assim como menos intensidade, mas o interesse mantinha-se. Aos 86′, a derradeira oportunidade, de bola corrida, pertenceu a Éder, um avançado que esteve ao serviço de Portugal no último Campeonato do Mundo. Djavan, qual TGV, surgiu pela esquerda e cruzou com muita pinta; Éder impôs-se nas alturas, mas falhou o alvo. Que perigo!

Sérgio Conceição seria ainda expulso, por protestar uma falta de Danilo sobre Nani. O treinador saltou do banco, esbracejou e berrou. O árbitro nem hesitou. Marco Silva alheava-se da situação e colocava os olhos no relvado, aplaudindo os jogadores e pedindo um último esforço — “vamos, vamos!”. E foram, à vitória, cortesia do tal japonês, que se armou em David Beckham com a canhota. Tanaka marcou o primeiro golo no campeonato e é o novo herói de Alvalade. A forma como colegas e direção festejaram com ele fica para a memória. Fez lembrar um pouco a escola na infância, quando o bom rapaz, que vivia sempre na sombra e triste, vestiu uma vez a pele de herói. O Sporting sobe agora ao terceiro lugar, a quatro pontos do FC Porto e a dez do Benfica.