Dizia que não se podia “levar a mal”. Afinal a opção fora dele e de mais ninguém. “Temos de aceitar”, reconhecera Jorge Jesus, o treinador, recém-acabado de ficar sem alguém que preferira “sair para jogar” ao invés de “ficar no Benfica à espera do momento”. O tal momento que ecoara pelo menos há 12 anos na cabeça de Bernardo Silva, o miúdo, pequeno, com pinta de número 10 e benfiquista, que até ali não sabia o que era pisar um relvado com a camisola de outro clube vestida. Mas passou a saber quando, em agosto, foi para o Mónaco.

Ia emprestado. Para jogar, ter minutos, descobrir o que é estar na Liga dos Campeões e ter uma experiência no estrangeiro. Além de João Cancelo e Ivan Cavaleiro, estes cedidos ao Valência e Deportivo da Corunha, Bernardo Silva ia com “v” de volta. O próprio Luis Filipe Vieira o garantira. “Têm vínculo com o Benfica e, se nada de anormal acontecer, vão regressar”, sublinhara o presidente do clube encarnado.

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Cinco meses depois, contudo, o regresso ficou para depois — o Benfica anunciou esta quarta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliário (CMVM) que vendeu ao AS Monaco, por 15,7 milhões de euros, “os direitos desportivos e económicos” do jogador. Bernardo Silva, se cumprir o contrato, ficará pelo menos até 2019 no clube do principado, que hoje é treinado por Leonardo Jardim, ex-técnico do Sporting, e no qual tem a companhia de João Moutinho e Ricardo Carvalho.

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O “anormal” indicado por Luis Filipe Vieira, portanto, terá sido a quantia oferecida pelo clube monegasco. Montante, aliás, que bate certo com as declarações que o presidente encarnado fizera aquando do até já dito a Bernardo Silva, em agosto. “Os jogadores têm cláusulas no contrato. Imagine que há uma proposta para vender um jogador, por 15 milhões de euros, que vem da formação e nunca foi titular. Não somos maus gestores e não podemos ignorar isso”, disse, na altura.

É o adeus, portanto, a um jovem, português e promissor, que aprendeu a jogar à bola nas escolas do Benfica. E que, na última temporada, só aparecera em campo durante 31 minutos oficiais (três jogos, um para a liga, um para a Taça de Portugal, outro na Taça da Liga) pela equipa principal. Para o campeonato, aliás, apenas teve direito a oito minutos na última jornada do campeonato, frente ao FC Porto, no Estádio do Dragão. Esta época, no AS Monaco, já pisou a relva em 21 jogos, marcou três golos e somou 1219 minutos — foi titular nas últimas sete partidas.

Ou seja, Bernardo Silva tem jogado. Não o fez quando a equipa gaulesa visitou o Estádio da Luz, na fase de grupos da Liga dos Campeões, a 4 de novembro. Ficou sentado no banco de suplentes. E por isso não mostrou nada do que Jorge Jesus, aquando da sua saída para o Monaco, referiu acerca do internacional sub-21 português. “Não se pode olhar para o menino apenas pela qualidade técnica”, defendeu, antes de explicar que “num jogo de 90 minutos, o jogador tem a bola durante três minutos e meio”.

Logo, são 86 minutos e meio sem ela. “É importante valorizar um jogador quando não tem bola. Tecnicamente têm capacidade, mas têm de ajustar esse crescimento, tático e físico do jogo, para suportarem a qualidade”, argumentou.

Agora, Bernardo Silva continuará a evoluir no estrangeiro e, em troca, o Benfica recebeu 15,7 milhões de euros por um produto que, durante mais de uma década, foi desenhado na fábrica de formação do clube. “Nenhuma equipa do mundo ganha títulos só com a formação”, afirmou, em dezembro, Jorge Jesus. “Todos os anos vão sair jogadores a título de empréstimo. Há uns que terão hipótese de regressar. Há alguns que vêm da formação e acham que é fácil chegar à primeira equipa”, chegou a dizer, em agosto, Luís Filipe Vieira.

Fácil ou não, Bernardo Silva já não faz parte do Benfica.