É o Darling de Las Vegas. Semyon Dukach é um “anjo investidor”. Mas também é um empreendedor, administrador da Techstars em Boston, nos Estados Unidos da América, ex-membro da equipa de blackjack da prestigiada universidade norte-americana MIT e a personagem principal do best-seller “Busting Vegas”, de Ben Mezrich.

É um “génio da matemática”, ouve-se no documentário que retrata a sua vida. Nos casinos de Las Vegas ou de Monte Carlo, no Mónaco, fez fortuna e, juntamente com os outros membros da equipa, provou que a “matemática pura” era capaz de vencer um jogo de cartas. Eram estrelas, não do rock, mas das probabilidades.

A história ficou registada em livro, transformou-se num documentário, o “Breaking Vegas”, de 2004, e assemelha-se ao que se passa no filme “21 – A Última Cartada”, também inspirado num livro de Ben Mezrich, o “Bringing Down The House” (2003). Semyon Dukach, 46 anos, é um cardshark (um tubarão das cartas), como lhe chamou a Forbes. Ele prefere dizer que é um anjo do investimento e um empreendedor sénior.

Em “Busting Vegas”, a história deste tubarão não se faz de mar. Faz-se de identidades falsas e do universo kitsch de Las Vegas. “É uma história verdadeira de excessos monumentais, sexo, amor, violência e de como conseguir o improvável”, lê-se no livro. Mas essa é apenas uma história do passado que Semyon Dukach, confessa, prefere que seja o Google a contar.

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Pai de cinco crianças, diz que adora passar tempo com a família, praticar windsurf e andar de bicicleta. Foi o Darling de Las Vegas que desenvolveu um dos primeiros métodos de transferência de dinheiro na internet, o Simple Network Payment Protocol. Depois, fundou, cofundou e investiu em diversas startups.

Atualmente, é presidente não executivo da empresa de serviços de email SMTP e responsável pelo programa da Techstars (um dos principais programas de aceleração de empresas do mundo), em Boston.

Esteve em Portugal a 22 de janeiro passado e quis ouvir o que as startups portuguesas tinham para dizer. Antes, tinha ouvido as espanholas de Málaga e as paragens seguintes fizeram-se em Londres, Telavive, em Israel, Kiev, na Ucrânia, e na Tailândia. Como business angel, investiu em 75 empresas, que vão de áreas de negócios tão distintas como um serviço chinês para marcar encontros, mercado de bitcoins, indústria da moda ou a biotecnologia.

Quando o Observador se encontrou com Semyon Dukach na Fábrica de Startups, incubadora que também promove programas de aceleração de empresas em Lisboa, os empreendedores já tinham começado a chegar. O inglês com sotaque russo não disfarçou a timidez do anjo investidor. Discreto, não tem dúvidas sobre o que anda à procura: “pessoas fantásticas”. E não é especificamente pelas startups portuguesas que “se sente atraído”. Na verdade, não interessa de onde são. O que move Semyon são os fundadores.

“Não quero saber de onde as ‘startups’ são. Eu sinto-me atraído pelos fundadores, pelas pessoas meio doidas, que estão apaixonadas pelos seus sonhos, pela sua visão. Quero encontrar estas pessoas e ajudá-las a ter sucesso. Seja em Portugal ou noutro sítio qualquer. Os países não têm muito significado, honestamente. O país é apenas um sítio. É a pessoa que interessa, não o país”, explicou ao Observador.

E se o país não interessa, interessa o produto? “Também não me preocupo muito com o produto. As pessoas certas podem produzir qualquer coisa”, disse. E os empreendedores que quiserem ser os “certos” devem saber executar as suas ideias e ser perseverantes. Devem ter “uma visão, um sonho” e conseguir comunicá-lo “com paixão e entusiasmo suficientes, que façam com que pessoas maravilhosas se juntem a eles”. Palavras-chave para as startups que gostariam de integrar o programa da Techstars em Boston: execução, comunicação, perseverança, trabalho de equipa. “E uma série de coisas que não consigo descrever por palavras, mas que identifico quando vejo”, comentou Semyon.

Na Europa, o par “perfeito” para Boston

Semyon Dukach está de passagem pela Europa para selecionar startups para o programa de Boston. Talvez duas ou três. A decisão só deverá ser conhecida em abril, depois de terminarem as candidaturas, a 15 de março. Por enquanto, o “génio da matemática” está de visita àqueles que considera serem os ecossistemas de empreendedorismo mais ativos do velho continente. Na Europa, a Techstars acaba de lançar um programa próprio em Berlim. É provável que lance um em Lisboa? Sim, mas não muito, diz.

“Não estamos a abrir programas em muitas cidades. A maior parte dos novos programas são corporativos, de base vertical”, diz.

Na Europa, anda à procura de empresas que possa ajudar, que sejam a “combinação perfeita” para o programa que gere em Boston. “É um programa muito baseado na confiança, no qual as empresas se ajudam muito umas às outras. E complementam-se”, explica. As pessoas, essas, têm de ser “espetaculares”, diz. “Dou-lhes um pedaço da minha alma. Amo as empresas com as quais trabalho e dou-lhes tudo o que posso”, refere, acrescentando que “uma larga fração” das empresas do universo Techstars se torna “muito bem sucedida”: menos de 15% fracassam, ou seja, 8,5 startups em cada dez têm sucesso.

“Não são todas super estrelas. Algumas são. Outras são apenas estrelas”, diz.

Semyon Dukach com os empreendedores que conheceu em Málaga, Espanha. 

Semyon Dukach começou a investir em empresas aos 28 anos. Conta que não era muito bom business angel, porque não fazia a “mínima ideia do que estava a fazer”. “Demorei vários anos a entender qual era o objetivo. Para mim, o investimento anjo tornou-se um serviço: faço-o para ajudar as pessoas em primeiro lugar, não para fazer dinheiro com elas. Sou conduzido pela gratidão que retiro dos investimentos”, revela.

O Darling de Las Vegas conta que começou a perceber que quanto mais se focava em ajudar, mais sucesso tinha. “Ser um investidor anjo era a melhor coisa que poderia fazer com o dinheiro que tinha. O que mais poderia fazer? Podia comprar um carro, mas eu já tenho um carro e não quero comprar um segundo”, contou. Sobre o passado na equipa de blackjack do MIT disse que foi divertido e lucrativo, mas que não o fez feliz.

“Tornou-me mais rico, fez-me sentir mais esperto, mas não me tornou numa pessoa feliz. Porque não criei nada para ninguém, só tirei dinheiro das pessoas. Os fundadores que eu ajudo estão a criar valor para alguém. E eu crio valor para os fundadores. Acho que, na vida, tens de dar, fazer algo para os outros. Depois, recebes e ficas feliz. Não vais ser feliz se receberes apenas. Tens de fazer ambos: dar e receber”, explicou.

Não é só de dinheiro que Semyon está a falar, mas do facto de poder ajudar os outros com a sua experiência. Porque tem tudo a ver com “dar, amar e cuidar”. É isso que, para Semyon, é um business angel. “O investimento anjo, para mim, é sobre ser um anjo e não sobre ser investidor. Acho que as pessoas precisam de ser anjos”, disse.

O Techstars é um programa de aceleração de empresas tecnológicas que está presente em 15 cidades do mundo e que investiu em 345 empresas, de acordo com a base de dados CrunchBase. São mais de três mil empreendedores, mentores e investidores. Fora do alvo da Techstars, estão empresas que atuem em áreas relacionadas com dispositivos médicos, biotecnologia ou consultoria.