A viúva do antigo espião russo Alexander Litvinenko disse na segunda-feira, durante um inquérito ao assassínio deste por envenenamento com material radioativo, que o seu marido suspeitava de uma “conduta criminosa” de Vladimir Putin.
O depoimento de Marina Litvinenko, de 52 anos, foi feito no quadro de uma investigação pública, que está a ser feita no Reino Unido, à morte do seu marido, ex-agente do KGB, entrado em dissidência e que morreu a 23 de novembro de 2006, depois de ter sido envenenado com a substância radioativa polónio 210.
As autoridades britânicas acusam do crime os antigos agentes secretos russos Andrei Lugovoi e Dmitri Kovtun, com quem Litvinenko bebeu chá, num hotel londrino, em 01 de novembro, mas estes negam qualquer implicação e Moscovo já recusou a sua extradição.
Marina Litvinenko disse também que o seu marido se tinha reunido com o presidente da Federação russa, quando este chefiava os serviços secretos russos, para lhe expor uma alegada conspiração que tinha descoberto para matar o oligarca dissidente Boris Berezovsky.
“Sasha (Alexander) disse que este encontro não tinha sido produtivo e que não acreditava que viesse a haver qualquer ação”, adiantou.
Berezovsky, de 67 anos, foi encontrado enforcado na sua habitação, no sul da Inglaterra, em 2013.
No seu depoimento, que prossegue hoje, adiantou que o seu marido escreveu vários livros sobre Putin, com várias acusações, “a mais notória” das quais foi a de que o FSB planeou em 1999 os bombardeamentos de blocos habitacionais em várias cidades russas, que causaram 293 mortos e conduziram à segunda guerra da Chechénia.
Marina acrescentou que a sua família estava sob vigilância desde que o seu esposo denunciou publicamente, em 1998, que o FSB lhe tinha encomendado o assassínio de Berezovski.
Um antigo espião do KGB, Putin começou na política pós-soviética como vice-presidente da Câmara de São Petersburgo, no início da década de 1990, antes de dirigir a agência de espionagem que sucedeu ao KGB, o FSB.
Na sua posição de vice-presidente de São Petersburgo, Sasha acreditava que Putin esteve envolvido em alguma conduta criminosa”, disse Marina, sem detalhar.
Disse ainda, durante o inquérito dirigido por um juiz, que Litvinenko estava a trabalhar para os serviços de informações externas britânicos, designados MI6, na altura da sua morte, pelo que recebia uma quantia mensal de 2.600 euros.
Marina especificou que Alexander não estava “empregado” como agente do MI6, mas que fazia “consultoria” para os serviços de informações britânico e espanhol.
Questionada se o seu marido teria revelado as identidades dos agentes russos no Reino Unido, respondeu que desconhecia.
O inquérito começou na semana passada e espera-se que dure mais dois meses, com a publicação de um relatório aguardada para o final do ano.
O presidente da comissão de inquérito, Robert Owen, já disse que espera que audições revelem o envolvimento do Estado russo no assassínio de Litvinenko.
O Governo de Moscovo já negou qualquer papel na morte do dissidente.