Pedro Santana Lopes assumiu nesta terça-feira, durante o espaço de debate que tem com António Vitorino na SIC, que irá esperar por outubro, depois das eleições legislativas, para anunciar se é ou não candidato à Presidência da República. “Tudo aponta para que esta matéria das presidenciais cada vez mais deslize para depois de outubro. Eu assumo essa tese”, declarou o antigo primeiro-ministro e ex-líder do PSD.

O adiamento inesperado de Santana abre novo espaço à direita na corrida a Belém. Foi o próprio que assumiu, em declarações anteriores, que a primavera era o limite máximo para lançar uma candidatura presidencial. Na estratégia anterior de Santana, a intenção era jogar por antecipação, colocando-se em terreno antes de outros presidenciáveis à direita, como Marcelo Rebelo de Sousa. Agora, o provedor da Santa Casa da Misericórdia anuncia que esperará por outubro, depois de se conhecer quem será o próximo primeiro-ministro. Disse-o em frente a outro presidenciável, mas da esquerda: António Vitorino. Os dois comentavam o facto de António Guterres permanecer na ONU até ao final do ano, e Santana, que falou primeiro, lançou os novos dados para cima da mesa com o anúncio do adiamento:

“Tudo aponta para que esta matéria das presidenciais cada vez mais deslize para depois de outubro, como muitos queriam […]. Acho que sim [que vou esperar por outubro]. Tenho defendido sempre e continuo a pensar que em tese deve ser assim, que as presidenciais devem-se misturar o menos possível com as legislativas”.

De outubro a janeiro de 2016 (data das eleições presidenciais) é pouco tempo, disse Santana, mas um preço que deve ser pago, acrescentou, para o bem de todos. “Continuo a pensar é que há muito pouco tempo, depois de outubro até janeiro, para uma campanha presidencial como deve ser. Mas, isso… nós temos que nos sacrificar em prol do interesse coletivo”.

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Ora a expressão “bem de todos” aplica-se em primeiro lugar aos próprios candidatos a candidatos. Santana lançou o anúncio e fez a leitura do que tinha acabado de dizer aos olhos dos outros potenciais candidatos: “Assim acaba o nervosismo dos que diziam ‘pode haver quem ganhe vantagem por se lançar em março ou abril’. Não. Assim ficamos todos iguais”, afirmou. A intenção de Santana vai ao encontro daquilo que Marcelo Rebelo de Sousa tinha defendido no espaço de comentário que tem na TVI. Marcelo apontou o outono como a altura propícia para um avanço para Belém.

Para esta nova posição, Santana deixa três argumentos: as alterações na Europa, precipitadas pela vitória do Syriza na Grécia; o facto de não haver ainda coligação definida entre PSD e CDS e de isso ter atrasado a definição política tanto das legislativas como das presidenciais; e o facto de não querer prejudicar o trabalho na Santa Casa.

Primeiro a situação na Europa que altera os planos “não de um modo dramático, mas muito exigente”.

Em segundo lugar, disse Santana que é necessário decidir se PSD e CDS devem concorrer em coligação nas legislativas. “Deve haver coligação ou não? É um tema sobre o qual será muito bom refletir-se, ponderar-se. Há muitas dúvidas sobre isto”, disse, para mais tarde acrescentas que “as presidenciais devem misturar-se o menos possível com as legislativas”, afirmou o ex-dirigente social-democrata. “A partir desse momento [após as eleições] todos somos cidadãos livres e iguais com mais de 35 anos”, a idade mínima para, de acordo com a Constituição, alguém se poder candidatar a inquilino do Palácio de Belém.

E em terceiro lugar, a Santa Casa: “Eu quero estar na Misericórdia até às legislativas”, acrescentou.

Apesar de ter o espaço de comentário, Santana fez um voto de silêncio sobre as presidenciais até às eleições legislativas. Uma declaração que deixou Vitorino aliviado: “Já ganhei a noite“, declarou o comentador, que foi lançado para a corrida pelo secretário-geral do PS, António Costa. A única coisa que pode estragar o consenso entre todos, de Santana a Marcelo, passando por Vitorino e por António Guterres é o aparecimento de um outro candidato.