O vírus do ébola deixou 16.600 crianças da Guiné, Libéria e Serra Leoa sem um dos pais ou cuidadores, de acordo com os dados divulgados pela Unicef nesta sexta-feira. Destas, 3.600 tinham perdido ambos os pais, segundo os registos de meados de janeiro, e mais de 250 estiveram sob vigilância durante 21 dias, por terem estado em contacto físico com alguém contaminado pelo vírus. Cerca de 90% foram acolhidas por familiares pouco depois do período de quarentena.
“Superados os medos e as ideias erradas que tinham inicialmente em relação ao ébola, as famílias têm dado provas de grande apoio, proporcionando cuidados e proteção às crianças cujos pais morreram,” afirmou Manuel Fontaine, Director Regional da UNICEF para a África Ocidental e Central, acrescentando que “a atitude mostra a força dos laços de parentesco e a resiliência extraordinária das comunidades num tempo tão duro”.
A UNICEF tem estado a ajudar a identificar crianças sem pais ou cuidadores e tem prestado cuidados e proteção através de membros da família alargada, comunidade ou famílias de acolhimento. Na Guiné, por exemplo, todas as 773 crianças que perderam ambos os pais foram colocadas junto das suas famílias alargadas.
Do toado de crianças que ficaram sem um dos cuidadores/pais (ou ambos), a maioria ficou ao cuidado dos restantes membros da família ou da comunidade, que recebem assistência financeira e material, ajuda no acesso à escola e aconselhamento para apoiar o seu bem-estar emocional e psicológico. Menos de 3% destas crianças ficaram ao cuidado de outras pessoas.
As crianças que não estão acompanhadas e que podem ter estado em contacto físico com uma pessoa contaminada com o vírus recebem cuidados em centros de apoio durante os 21 dias em que estão sob vigilância (período máximo de incubação do vírus).
“À medida que os países afetados começam na senda da recuperação devíamos aproveitar a oportunidade para melhorar os serviços de proteção infantil para todas as crianças vulneráveis,” disse Manuel Fontaine.
A Unicef criou uma rede de sobreviventes que, por terem desenvolvido resistência à doença, podem interagir com crianças que estão sob observação. Um dos muitos desafios da resposta à crise do ébola passa por identificar as crianças que estão vulneráveis.
“Temos a oportunidade de combater outras formas de vulnerabilidade que já existiam antes da crise do Ébola, tais como o casamento precoce, o trabalho infantil, a violência sexual e a exploração.”