Silvino teve uma tarde tramada naquele fresquinho de dezembro de 1986. Até mordia as orelhas. O orgulho seria também ele torturado. Contar até sete nunca foi tão complicado para os benfiquistas. Manuel Fernandes marcou quatro no famoso 7-1. Mas esta cantiga, como o 6-3 em que João Pinto recebeu a tal nota “10” inédita do jornal A BOLA, tem barbas e toda a gente sabe-a de trás para a frente. Enough is enough, certo?

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Para se preparar, vestir o manto sagrado, entrar em estágio mental e brilhar entre amigos, o Observador decidiu mergulhar de cabeça nos números, histórias e coisas bizarras para criar um manual de curiosidades (puxámos a fita atrás até janeiro de 1985). A ideia é ser um Balakov dos quizs ou um Valdo quando é desafiado e tem de ter a resposta na ponta da língua. Vamos a isto…

Sabe qual é o resultado mais comum nos dérbis em Alvalade desde 1985?

0-2. O Benfica conseguiu este resultado em cinco ocasiões. A última vez aconteceu fevereiro de 2011: os encarnados até viram Sidnei ser expulso antes do intervalo, mas Gaitán e Salvio trataram do assunto. Continuando nesta cruzada, numa espécie de Benjamin Button, a seguir vem 2006: Ricardo Rocha e Simão marcaram os golos. Em 2002, com Cristiano Ronaldo a jogar do outro lado, os heróis foram Zahovic e Tiago. Muito antes, em 1990, Eriksson inspirou as águias para roubarem dois pontos em Alvalade, cortesia de Isaías, o homem-bomba, e César Brito. Em 1989 Valdo marcou cedo (13′) e Abel Campos fechou o marcador. Os treinadores eram Toni (SLB) e Manuel José (SCP).

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Quantos golos foram marcados no total dos dérbis para o campeonato?

86. São muitos golos, hein? É o que dá quando se tem Manuel Fernandes, João Pinto, Liedson e Cardozo como bombardeiros de serviço. Nunca estiveram para brincadeiras. Se usaram balizas maiores em certos jogos, não sabemos, mas desconfiamos que não. Aqui fica uma amostra dos resultados que são alérgicos à austeridade: 7-1 (1986), 3-6 (1994), 1-4 (1998), 3-0 (2001), 3-2 (2009) e 1-3 (2012).

Como foram os últimos cinco dérbis da capital em Alvalade?

O Sporting só ganhou um deles. Aconteceu em abril de 2012, e foi resolvido de penálti, por Ricky van Wolfswinkel. Depois há duas vitórias para os visitantes: 0-2 (2011), marcaram Salvio e Gaitán, e 1-3 (2012), brilhou um senhor que anda pela Turquia agora: hat-trick de Cardozo. Em 2009 não houve arte, engenho, ideias, qualidade, o que quiserem, para marcar golos: acabou 0-0 (ficou 3-3 em cartões amarelos). Em agosto de 2013, depois de um belo dia de sol, o Sporting fez uma bela partida e adiantou-se por Montero. O Benfica, ainda perdido no campo, sem pernas, arrastava-se, mas lá sobreviveu depois de uma arrancada inacreditável de Markovic. Lembra-se?

Piiii! Cartão vermelho. Sabe quantos desses foram mostrados no dérbi na casa do leão desde 1985?

17. É muito ou pouco? Bom, para quem se lembra do festival que era na década de 90, que metia muitas vezes canela até ao pescoço, nem parece estar assim tão mal. Vítor Paneira inaugura esta lista. Viu esse cartão indesejado em 1992 (os leões venceram 2-0). Vamos então à lista das meiguices? Nelo (SLB), Tahar (SLB) e Jamir (SLB) em 1996; Argel (SLB) e Zahovic (SLB); Petit (SLB) e Quaresma (SCP) em 2002; Rui Jorge (SCP) e Alcides (SLB) em 2005; Ricardo Rocha (SLB) em 2005; Nuno Gomes (SLB), Anderson Polga (SCP) em 2006; Nelson (SLB) em 2011; Sidnei (SLB) em 2011. Vamos, portanto, para o quarto ano sem expulsões neste duelo.

O árbitro volta a apitar! Porquê? É penálti. Sabe quantos houve nos últimos 30 anos?

Por acaso não se viram muitos: só cinco. O primeiro até só apareceu em 1994, quando o pé esquerdo de um búlgaro tentou amenizar um resultado que a história acabaria por guardar. Na vitória por 6-3 do Benfica em Alvalade, em 1994, o terceiro golo dos leões apareceu quando a bola parou a 11 metros da baliza e Krassimir Balakov a rematou. Até hoje o Sporting teria mais dois penáltis, em casa, contra o Benfica: oito anos depois, em 2002, Mário Jardel marcou outro, antes de Ricky Van Wolfswinkel, em 2012, fazer o mesmo. Do lado do Benfica só dois homens bateram penáltis no estádio do rival — José António Reyes, em 2009, e Óscar Cardozo, três anos depois.

Alguém se habituou a estar na baliza nos dérbis em Alvalade. Quem esteve mais vezes de luvas?

Esta até foi renhida, mas não há cá empates. Rui Patrício, para já, é o rei. O hoje titular da seleção nacional fará o sexto dérbi este domingo, numa contagem que o fez ultrapassar uns quantos nomes que merecem respeito. Michel Preud’homme, o belga que chegou trintão ao Benfica, esteve em quatro dérbis de Alvalade, os mesmos de Quim. À frente destes ainda há Silvino, outro histórico encarnado, e (quem diria?) José Moreira, guardião que nunca se conseguiu agarrar durante muito tempo à titularidade na baliza do Benfica. Artur Moraes, por exemplo, estará pela quarta vez num dérbi na casa do rival.

Golos, golos e golos. Já agora, quem marcou mais no estádio do Sporting? Aqui há empate.

Entre as 84 bolas que entraram nas balizas do relvado de Alvalade (o antigo e o atual), houve quem se tornasse especialista nestes golos. Manuel Fernandes, na década de 80, ainda embalou para ver se fugia dos goleadores que aí vinham. O antigo capitão do Sporting marcou quatro vezes em dérbis caseiros, desde 1985, mas não seria suficiente. Porque no século XXI apareceram dois homens golo — um baixinho e leve, outro grandalhão e pesado –, que desataram a marcar. Liedson, de um lado, e Óscar Cardozo, do outro, marcaram cinco golos cada um em Alvalade. Eram nomes que metiam respeito, não fossem eles os dois melhores marcadores estrangeiros na história dos dérbis (tanto na Luz, como em Alvalade). Mas aqui não há empates para ninguém — o ex-avançado do Benfica ficou com 13 golos em 18 jogos, enquanto o antigo goleador do Sporting somou 11 em 17 partidas.