“É raro trabalhar com modelos portuguesas. São muito mais inibidas e com mais preconceitos em relação ao corpo. As modelos de países de leste têm mais à vontade em relação ao corpo, sente-se isso na fotografia, mas as portuguesas parecem ter alguma dificuldade, como se sentissem que o seu corpo não é suficientemente bonito, e algum preconceito quanto à nudez”, diz Ana Dias (um portfólio o seu trabalho pode ser visto aqui).

E diz mais. Diz que as mulheres corromperam a arte que é o seu corpo e lamenta que se tenha entrado na “era da plástica e do silicone”. E tanto assim que hoje, afirma, “é raro encontrar uma mulher magra que seja cem por cento natural”.

“Quase já não fotografo mulheres com os seios naturais. As mulheres que se querem despir já vêm com silicone, e não é só no peito. Já não as consigo ver a elas, é como se fossem bonecos, falta-lhes expressividade, o sorriso é falso”.

Especialista em erotismo, Ana Dias garante que vai visitar o salão erótico que ocupa um pavilhão da Feira Internacional de Lisboa de sexta-feira a domingo, uma organização de uma empresa francesa chamada Erotissima. “Estou muito curiosa sobre o que vou encontrar”, diz.

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Licenciada em artes plásticas, Ana Dias, 30 anos, apaixonou-se depois pela fotografia e desde 2012 que faz imagens para publicidade (o que lhe dá mais dinheiro) mas acima de tudo fotografias eróticas de mulheres (menos dinheiro mas mais prazer), sobretudo para a revista Playboy.

A revista tem uma difusão quase mundial e publicação própria em 26 países. Com o número deste mês do México o trabalho de Ana Dias chegou a 15 países, Portugal (quando existiu a revista nacional) mas também França, Itália ou Grécia, Polónia ou Alemanha, Brasil ou África do Sul. E diz que em França há mais ousadia, no México e no Brasil mais “à-vontade”, em Israel e na Tailândia está proibida a nudez.

Muitas das vezes as sessões são feitas em Portugal, sendo as modelos que viajam até ela. “Sinto que as modelos estão bastante à vontade comigo. Os homens estão sempre à vontade nus mas as mulheres portuguesas são mais inibidas e é difícil começarem a tirar a roupa”, diz Ana Dias, apelidando o seu trabalho de “artístico” do qual “as mulheres gostam”, por ser “feminino e alegre”.

E Ana também faz o que gosta. À Lusa conta que sempre gostou do corpo feminino e que nas suas fotos quer transmitir essa beleza e sensualidade. E admite que para as modelos lhes seja mais fácil trabalhar com ela. “Com uma mulher como fotógrafa não há uma tensão sexual, não há o jogo da sedução. Sinto que as mulheres estão mais confortáveis comigo”, diz.

A equipa de Ana Dias é formada por 10 pessoas, dois homens incluídos. Já fotografou mais de 100 modelos e diz a fotógrafa que por norma as mulheres “não se sentem confortáveis com o toque (colocar óleo por exemplo) de homens”. E as modelos não profissionais não raro pedem para que seja uma mulher a fotografa-las.

O processo que leva a capas de revistas não é fácil nem rápido. É preciso escolher o local, é preciso fazer para lá de 800 fotografias, é preciso depois escolher as melhores, dúzia e meia no máximo. Ana gosta de fotografar ao ar livre mas diz que sempre que isso acontece começam a juntar-se pessoas a tirar fotografias com os respetivos telemóveis. “As pessoas que fazem nudez são corajosas!”, desabafa.

Mas não encara a mulher que se despe como “objeto”, um produto comercial para ser consumido por homens. “Não consigo ver a mulher como um objeto, o corpo da mulher é uma forma de arte, não um produto comercial”.

Ainda que o erotismo e o sexo sejam um produto comercial, como o é o “Salão Erótico de Lisboa”, que se realiza de 13 a 15 de fevereiro, onde vão estar produtores de filmes para adultos a apresentar as suas obras, uma área de fotografia erótica e outra exclusiva para mulheres, “sex-shops”, sauna, perfumes, óleos e pinturas corporais, massagens, striptease e desfiles.