Existem mais de 20 microprodutores de cerveja em Portugal, de acordo com a informação avançada esta quinta-feira pela Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja (APCV). Os dados sobre a cerveja artesanal, que parece estar na moda, não estão refletidos nos resultados do setor, mas o presidente, João Abecassis, garante que a “aproximação” aos microprodutores é uma das prioridades para 2015.

“O que os micro cervejeiros trazem hoje é dinamismo, valorização, sofisticação. E acreditamos que isso será um fator de crescimento no futuro”, disse João Abecassis, presidente da APCV e da Unicer, que detém a Super Bock e a Carlsberg.

O responsável pela associação acrescentou que, no resto da Europa e na América do Norte, a cerveja artesanal já é um consumo de nicho e que, por cá, também vai mexer com a concorrência. “Vão desafiar os grandes [produtores] a recuperar as raízes cervejeiras que podiam estar adormecidas“, referiu.

Nuno Pinto de Magalhães, diretor de comunicação e relações institucionais da Central de Cervejas e Bebidas, acrescentou que a cerveja artesanal “é uma tendência crescente”, que se verifica não só em Portugal, porque as pessoas andam à procura de “novas experiências”.

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“É uma oferta de cerveja diferenciada, que promove a cerveja enquanto categoria e faz-nos responder aos desafios que os consumidores nos impõem”, diz o responsável pela empresa que comercializa marcas como a Sagres ou a Heineken.

O crescente número de microprodutores mostrou aos grandes que os consumidores aceitam outros tipos de cerveja e que o mercado tem dinamismo, acrescenta Nuno Pinto de Magalhães. Para fazer face às novas exigências, a Central de Cervejas comercializa, desde abril de 2014, uma cerveja artesanal de dupla fermentação, a Affligem, produzida num mosteiro belga, a partir de uma receita que tem mais de mil anos.

Para se apreciar uma Affligem, é preciso verter a cerveja lentamente a uma inclinação de 45º, cerca de 90% do conteúdo da garrafa. Depois de se agitar o que fica, serve-se noutro copo os restantes 10%. Os dois copos poderão ser bebidos em separado ou misturados. Um pack de quatro garrafas de 30 centilitros custa 4,99 euros.

É um ‘back to basics’ [regresso às origens], um produto 100% natural, que tem características próprias únicas, que vai buscar a figura do artesão. São cervejas de nicho, mas há mercado para elas“, revela Nuno Pinto de Magalhães, acrescentando que são uma oferta diferenciada para os consumidores, uma oportunidade para as empresas e uma promoção para a cerveja enquanto categoria.

“Ano após ano, os associados têm demonstrado trabalho, dedicação e engenho para procurar crescimento onde quer que ele possa existir. O setor tem sistematicamente defendido as exportações e os produtores têm encontrado geografias onde podem crescer, como a Europa ou a América do Sul. A presença da cerveja portuguesa começa a espalhar-se um pouco pelo mundo”, avançou João Abecasiss, presidente da APCV e dono da SuperBock.

Em 2014, foram produzidos 7,29 milhões de hectolitros de cerveja em Portugal, mais 0,7% do que no ano anterior (estes dados não incluem a cerveja artesanal) e as exportações cresceram 4,6%. O canal Horeca, dos hotéis, restauração e cafés, cresceu 1,3% e representa 64% do mercado das vendas. Já no canal alimentar, as vendas caíram 5,6%.

Nuno Pinto Magalhães avançou que as exportações da Central de Cervejas (dona da Sagres) representam 20% do volume global de vendas. Angola representava mais de 50% desses 20%, mas este ano teve uma quebra de um dígito, que já foi compensado por outros mercados africanos e do Médio Oriente”, explicou ao Observador.

Em Londres, a Sagres tem vindo a crescer, revela Nuno Pinto de Magalhães, que explica que já é possível encontrar cerveja Sagres à pressão em vários pubs londrinos. “E não estamos a falar da diáspora, mas dos turistas que visitam Portugal e que, quando regressam a Londres, querem repetir a experiência”, diz.