O advogado Miguel Reis, que representa alguns clientes do BES, considera que o Banco de Portugal está a deformar “grosseiramente a realidade” e que a informação veiculada pelo banco central na sexta-feira é uma “operação de branqueamento”.
Na sexta-feira, o Banco de Portugal emitiu um comunicado, depois da reunião com a associação de clientes detentores de papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), em que reafirmou que o Novo Banco não tem de compensar os clientes que compraram papel comercial do GES nos balcões do BES, e que só pode avançar com uma solução se esta não afetar o seu equilíbrio financeiro.
Questionado pela Lusa, o advogado Miguel Reis, que também representa detentores de papel comercial do GES, afirmou que o comunicado do Banco de Portugal “não espanta ninguém e apenas serve para confirmar que [se vive] sob um sistema bancário selvagem, sem qualquer controlo de um regulador responsável”.
Miguel Reis destacou que o Banco Espírito Santo (BES) “não vendeu a ninguém títulos de dívida de empresas do GES” e que “não havia dívidas a quem quer que fosse, que o BES tivesse comercializado, comprando a um credor para ceder o crédito a outro”.
De acordo com o advogado, o que aconteceu foi que “o BES celebrou contratos, por força dos quais os seus clientes lhe emprestaram dinheiro, para que ele o emprestasse a empresas do GES”, e “não houve um único caso em que algum administrador de qualquer das empresas do GES tenha negociado o que quer que fosse com as pessoas que emprestaram o dinheiro”.
“Por isso, me parece que esse dinheiro deve ser tratado como todo o outro dinheiro que foi entregue por outras pessoas, nomeadamente por todos os depositantes ao BES”, defendeu Miguel Reis, reiterando que não há “nenhuma diferença” entre estas aplicações e os demais depósitos.
No sábado, a Associação dos Lesados e Indignados do Papel Comercial (AILPC) do BES disse que vai “abrir um processo judicial contra o Banco de Portugal”, se o banco central não se mostrar aberto a negociar esta questão.
Em declarações à Lusa, o presidente da AILPC, Ricardo Ângelo, afirmou que a associação vai “abrir um processo judicial contra o Banco de Portugal e possivelmente contra o Novo Banco”, uma vez que não aceita “este recuo” por parte das duas entidades.
“Inicialmente, havia uma concordância de ambos [Banco de Portugal e Novo Banco] em nos ressarcir ou indemnizar em relação ao papel comercial e este recuo é inaceitável”, disse ainda Ricardo Ângelo, afirmando que os detentores destes produtos se sentem “descartáveis”.
Na quinta-feira, cerca de meia centena de clientes do Novo Banco que subscreveram dívida do GES aos balcões do antigo BES invadiram as instalações do banco na Avenida dos Aliados, no Porto.
Dois dias antes, em declarações aos jornalistas no parlamento, a associação de lesados havia já referido que os clientes iriam continuar a sua luta, voltando a “ir para a rua” pelos seus direitos.
Nesse mesmo dia, o presidente do Novo Banco, Eduardo Stock da Cunha, ouvido na comissão de inquérito parlamentar do caso BES/GES, tinha dito que se recusava a “atirar a toalha ao chão” na questão do papel comercial, admitindo, contudo, que o banco tem um “cobertor que não dá para tudo”.