Analfabetismo, subnutrição, um rendimento por habitante metade da média nacional, e falta de acessibilidades internas e externas são características reconhecidas na Madeira de há 40 anos, na transição para o Portugal democrático.
A estas, o economista João Abel de Freitas, natural da Madeira, soma a “concentração dos meios de produção e distribuição nas mãos da burguesia local, predominantemente residente no Funchal, assim como a “larga taxa de dependência do exterior”.
Dez anos antes, em 1964, com a inauguração do aeroporto, o turismo conheceria um novo ciclo que “as acessibilidades para o exterior abriram”, assinala o economista, exemplificando que em 1962 havia na ilha 1.628 camas, que passaram para quase nove mil em 1974.
Após a ascensão ao poder do social-democrata Alberto João Jardim, em 1978, a Madeira conhece um período de crescimento a todos os níveis, da educação à saúde, da área social ao turismo ou nas vias de comunicação, permitindo à população um melhor nível de vida, de acordo com diversos indicadores estatísticos.
Porém, nota João Abel de Freitas, que foi diretor-geral do Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Economia, houve atividades que quase desapareceram, como “os bordados, os vimes, as pescas ou a cana-de-açúcar”.
“É evidente que todas as atividades têm os seus ciclos, o problema é perceber os ciclos para tentar adaptá-los aos nossos dias e isso não aconteceu na Madeira, exatamente porque houve sempre falta de visão estratégica”, considera o economista, observando que, “de algum modo, desindustrializou-se o pouco que havia”, o que é, no seu entender, a “grande falha” deste período.
A este propósito explica que “a fragilidade do tecido empresarial é quase a mesma, na medida em que se canalizaram todos os apoios, mesmo financeiros, para as obras e muito pouco para o sustentar”.
Referindo que o crescimento da Madeira está em linha com o registado no continente português, o economista ressalva que neste último caso “houve investimento no tecido empresarial”.
Para João Abel de Freitas, que de abril a setembro de 1975 integrou a Junta de Planeamento da Madeira e, antes, fez parte da Comissão do Salário Mínimo para a Madeira e Açores, o desenvolvimento da Madeira nestas quatro décadas teve dois pilares, o turismo e as obras públicas, sendo que estas foram “fundamentais para manter o ritmo de crescimento” da região.
“Tinha-se dinheiro, foi-se apostando, como costumo dizer na brincadeira, na segunda volta [rodoviária] à ilha, esta através de túneis, fazendo um queijo furado. No tempo do Estado Novo, fez-se a primeira volta, com estradas aos ziguezagues, e esta foi a segunda volta para endireitar, de algum modo, os ziguezagues do Estado Novo”, afirma à agência Lusa.
Lamentando a “falta de visão estratégica” para a região, liderada nos últimos 36 anos pelo social-democrata Alberto João Jardim, o economista refere que, “ao longo destes anos todos, foi uma governação que andou ao sabor das ondas”, para especificar: “Tinha dinheiro fazia, não tinha dinheiro, não fazia”.