Estreia-se hoje em Portugal um novo serviço chamado TIDAL. Trata-se de uma plataforma semelhante ao popular Spotify, o líder mundial nos serviços que disponibilizam música remotamente — uma tecnologia que conhecemos por streaming. O TIDAL foi lançado em outubro do ano passado nos Estados Unidos da América e no Reino Unido, tem apenas 17 mil subscritores mas vai alargar a oferta a 22 países durante este primeiro trimestre.
O Observador foi convidado a testar o TIDAL com alguns dias de antecedência. Utilizámos o serviço em diferentes plataformas e fizemos uma comparação (empírica) com o Spotify e com CDs originais.
Em comunicado, a TIDAL anuncia um serviço único de subscrição por 13,99€ que permite ouvir sem restrições 25 milhões de temas (mas não só, mais à frente explicamos). Já o Spotify é utilizado por 60 milhões de pessoas e tem uma base de dados com 30 milhões de músicas. O serviço premium custa 6,99€, mas qualquer um pode utilizar o Spotify gratuitamente sujeitando-se à publicidade.
O TIDAL é mais caro (o dobro do preço) e tem para já menos temas disponíveis. A comparação com o Spotify é inevitável mas o TIDAL quer posicionar-se noutro segmento: o dos utilizadores que privilegiam a qualidade sonora. Mas valerá a pena? Compensa a diferença de preço?
O grande argumento do TIDAL é o som. Utiliza no streaming um formato lossless, ou seja, som com qualidade de CD, sem compressão, ao contrário do MP3 ou AAC por exemplo, em que parte do som original é retirado para tornar os ficheiros mais pequenos. O TIDAL escolheu o formato ALAC (Apple Lossless Audio Codec) a 44.1 kHz e 16 bit – 1411 kbps, já o Spotify, na resolução máxima disponibilizada pelo serviço premium, utiliza um formato comprimido Ogg Vorbis a 320 kbps, e na versão gratuita a 160 kbps.
O TIDAL não hesita em se comparar com a concorrência e de caminho explica em que é que é diferente. Se possível, use auscultadores para ouvir o som deste vídeo:
https://vimeo.com/107804043
Levámos o desafio a sério: através do Airplay pusemos a música a tocar num sistema NAD (amplificador e leitor) ligado a um par de colunas rega e uns auscultadores Sennheiser HD 25-1. Fizemos o teste também diretamente no smartphone, com os auscultadores padrão da marca (Apple). Ouvidos à escuta.
Comecemos pela qualidade do som, o principal argumento do TIDAL. De facto, não encontrámos qualquer diferença na qualidade do som entre o streaming e o CD. Já entre o Spotify e o CD, a diferença faz-se notar, em particular na capacidade dinâmica da música (o som é mais “claro” no CD e no TIDAL). Estas diferenças são facilmente percecionadas nas colunas da aparelhagem e nos auscultadores Sennheiser. No iPhone a diferença nota-se menos. Ficámos com a sensação que é preciso estar com muita atenção (e em silêncio ambiente) para perceber um mínimo de diferença.
O TIDAL pode ser usado através do browser Chrome (e apenas este, para já) ou através de aplicações para Windows, Mac, Android e iOS. Pode ainda ser integrado diretamente em alguns sistemas de alta-fidelidade, tais como McIntosh, Meridian e Auralic (entre outros, num total de 37). A aplicação para os dispositivos móveis está bastante bem desenhada (para o computador nem tanto) e funciona sem engasgos, apesar de exigir largura de banda — ligações muito lentas dificilmente conseguirão alimentar o streaming. Tenha em conta que uma única faixa em formato lossless (CD) pode ocupar quase metade do espaço de um álbum inteiro em MP3 (varia com a compressão, evidentemente).
E isto levanta outra questão. À semelhança do Spotify, o TIDAL também permite guardar faixas em modo offline (ou seja, para ouvir sem estar ligado à rede sem fios), o que vai ocupar espaço, provavelmente muito mais espaço do que a memória do seu smartphone ou tablet permite (considerando que, na altura da compra, a maioria dos utilizadores opta pela capacidade mínima de armazenamento, 8 ou 16 GB). Se anda sempre online e quiser utilizar o TIDAL em 3G ou 4G, tem a opção de reduzir a qualidade sonora para um formato comprimido (AAC 320). Caso contrário, prepare-se para atualizar a conta de dados móveis para um pacote superior (ou então pagar a conta extra).
No TIDAL não encontra apenas música. Além das 25 milhões de faixas disponíveis, oferece o acesso direto a 75 mil vídeos de música em alta definição, artigos, entrevistas e um sistema de curadoria de playlists. Em comunicado, a TIDAL esclarece que “todo o conteúdo editorial é organizado por jornalistas experientes e por convidados”. E no marketing, posiciona-se com distinção.
https://vimeo.com/107807783
Este é claramente um serviço para ouvidos exigentes, “a música como os músicos gostavam que toda a gente a ouvisse”. Mas na prática, se o seu sistema de som do dia-a-dia é um smartphone e respetivos auriculares convencionais, ou então uma aparelhagem de gama média/baixa, não se justifica a diferença de preço entre o Spotify e o TIDAL. As subtilezas, importantes e valiosas, só se notam verdadeiramente quando o sistema de som (doméstico ou portátil) é capaz de tirar proveito disso, o que não acontece na esmagadora maioria dos casos.
Uma coisa é certa: se aprecia música com qualidade e não dá grande importância à caixa de plástico ou cartão, com o TIDAL nunca mais vai precisar de comprar um CD.