Entre 5 de janeiro e 22 de fevereiro registaram-se 28405 casos de doentes com gripe em 63 centros de saúde de Lisboa e Vale do Tejo. E desses, quase um terço, ou seja, 9069 deslocaram-se a estas unidades de cuidados de saúde primários nos horários alargados de funcionamento, à noite ou ao fim de semana, de acordo com os dados a que o Observador teve acesso.
Analisando os números mais ao detalhe, chega-se rapidamente a uma conclusão: nestes 49 dias de prolongamento de horário, deslocaram-se, em média, 2,9 doentes com gripe por dia a cada um destes centros de saúde.
É que se houve centros de saúde a registar uma elevada procura à noite ou ao fim de semana ao longo destas semanas de extensão dos horários de funcionamento, como foi sobretudo o caso da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de Sete Rios, que chegou a atingir um pico de 204 doentes com sintomas de gripe na semana de 19 a 25 de janeiro, a verdade é que em muitos outros centros sobram dedos numa mão quando se tentam contar os casos de gripe registados por semana nesse período de horário alargado.
No Centro de Atendimento e Tratamentos Urgentes de Moscavide e de Póvoa de Santo Adrião, no atendimento complementar da UCSP de Sintra, no centro da Póvoa de Santa Iria, e nos edifícios de S. João do Estoril e de Alcabideche houve mesmo semanas em que nenhum doente com sintoma gripal deu entrada nestes centros fora do horário normal de funcionamento, e mesmo quando foram registados doentes, nunca ultrapassou os cinco por semana.
O maior número de doentes com sintomas gripais deslocou-se a estas unidades de cuidados de saúde primários nos horários prolongados na semana de 19 a 25 de janeiro e desde aí a tendência da procura tem sido decrescente, como pode visualizar no gráfico interativo abaixo, passando com o rato por cima da imagem.
Aliás, o próprio secretário de Estado adjunto da Saúde, Leal da Costa, disse na quinta-feira que “já temos em alguns centros de saúde afluências baixas”, mas referiu-se a “dez doentes numa semana”. A questão é que na região de Lisboa e Vale do Tejo, que foi onde esta medida foi amplamente implementada e anunciada, há muitos centros que na última semana nem chegaram a registar cinco doentes por semana, nesses horários noturnos ou ao fim de semana.
O objetivo do alargamento dos horários de atendimento nos centros de saúde, especialmente na região de Lisboa e Vale do Tejo, mas possibilitado em todo o País, foi fazer face à época gripal e ao aumento da procura das urgências hospitalares, que ditou longas horas de espera. A medida deveria terminar esta sexta-feira, mas ontem, o secretário de Estado adjunto da Saúde, Leal da Costa, anunciou que, “por cautela”, “só depois de consolidados os bons resultados e demonstrada a não necessidade de abertura”, é que “eventualmente” serão reduzidos os horários de funcionamento nos centros de saúde, de acordo com os “dados epidemiológicos”.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo os diretores dos agrupamentos de centros de saúde já foram chamados a pronunciar-se sobre a razoabilidade da medida e tinham até esta sexta-feira para se pronunciar se valerá a pena continuarem abertos à noite e/ou ao fim de semana, ou não. O Observador tentou contactar a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo para saber qual o resultado e o que acontecerá daqui em diante, mas sem sucesso.