Já alguma vez se interrogou porque é fevereiro só tem 28 dias enquanto os outros meses têm 30 ou 31? A culpa é dos romanos, ou da Lua, ou de quem quer que seja. Verdade é que fevereiro tem sido desde sempre o mês mais mal tratado dos calendários. Imagine-se que o primeiro calendário romano começava em março e só tinha dez meses – daí os nomes setembro (7), outubro (8), novembro (9) e dezembro (10).

Mas desde o primeiro calendário romano até aos dias de hoje muitas alterações foram feitas até chegarmos ao calendário pelo qual nos guiamos. Joe Hanson, autor do blog It’s ok to be smart, também estava curioso com a história e decidiu pesquisar.

Diz a lenda que Rómulo e Remo fundaram Roma em 753 antes de Cristo. Com tantos eventos festivos na altura era preciso uma forma de os organizar – um calendário. Mas tinha de ser uma coisa simples. Ou assim pensaram que fosse.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nessa época, os astrónomos já tinham cálculos bastante precisos sobre o tempo que mediava entre os solstícios de verão (dia mais longo do ano) e de inverno (noite mais longa do ano) ou entre os equinócios da primavera e do outono (quando dia e noite tem exatamente a mesma duração). Estes cálculos definiam que entre dois eventos destes (por exemplo, dois solstícios de verão) passavam 365,242 dias.

Mas seguir o calendário lunar era muito mais fácil. Por isso, de março a dezembro, o calendário de Rómulo contava os meses lunares de 29,5 dias, mas com uma adaptação: os meses tinham 30 ou 31 dias. Já fez as contas? Pois, ficavam de fora 61,25 dias.

Quando Numa Pompilius se tornou rei de Roma começou logo as alterações no calendário. Para começar, como os números pares eram símbolo de azar na época, todos os meses com 30 dias passaram a 29. Depois quis que o ano tivesse 12 ciclos lunares (ou 12 meses) e acrescentou janeiro com 29 dias e fevereiro com 28 no final do ano.

Fevereiro tinha um número par de dias, mas como era o “mês da purificação” escapou, conta Joe Hanson. Manuel Nunes Marques, antigo diretor do Observatório Astronómico de Lisboa, conta que o mês era dedicado a Februa, a quem os romanos ofereciam sacrifícios para repararem a escassez do ano.

Ainda assim 355 dias de ciclos lunares eram menos do que os 365 do ciclo solar e, passados alguns anos, os meses já nem sequer batiam com as estações. Ocasionalmente acrescentava-se mais um mês, mas a confusão estava instalada e só quando Júlio César chegou ao poder, em 49 antes de Cristo, se voltou a meter ordem na casa, ou melhor dizendo, no calendário.

Depois de estudar o calendário do Egito, onde vigorava um calendário de 365 dias, Júlio César trocou o calendário lunar pelo calendário solar. Janeiro e fevereiro foram colocados no início do calendário e Júlio César distribuiu os 10 dias de diferença por vários meses, mas fevereiro continuou a ter menos, só 29 dias. Exceto de quatro em quatro anos porque, como já vimos, o ano solar é um pouco maior que 365 dias.

O dia que agora acrescentamos ao mês de fevereiro em cada ano bissexto começou por ser colocado entre o dia 23 e 24. Vá se lá entender porquê. Depois disso o sétimo mês passou de quintilis a julius (julho) e o oitavo de sextilis a augustus (agosto) em honra dos respetivos líderes romanos Júlio César e César Augusto, respetivamente.

Mas até isto trouxe confusão. A ordem que alternava entre 31 dias nos meses ímpares e 30 nos meses pares foi alterada. O mês dedicado a César Augusto não podia ter menos dias que o mês dedicado a Júlio César. Já adivinhou onde se foi buscar o dia? Fevereiro, está claro. Depois disso também foi preciso alterar a ordem dos meses com 30 e 31 dias no final do ano.

Até se chegar ao calendário gregoriano que hoje utilizamos outras alterações e confusões se sucederam. Mas isso fica para as próximas calendas.

Artigo corrigido às 20h15 de 28 de fevereiro de 2014