Seis mil bebés nascidos desde 1982 e provenientes de famílias de todos os estratos sociais. Esta foi a amostra do estudo brasileiro que concluiu que as crianças que foram amamentadas tornaram-se mais inteligentes, nutriram maior gosto pelo ensino e alcançaram trabalhos mais compensadores.
As conclusões foram tiradas ao fim de mais de três décadas, com entrevistas a cerca de 60% dos bebés estudados e que hoje têm cerca de 30 anos. Em conjunto com os resultados de testes de QI a que foram submetidos, descobriu-se que quanto mais tempo o bebé foi alimentado pelo peito da mãe, mais sucessos pessoais e profissionais conseguiu alcançar.
Que a amamentação podia aumentar ligeiramente a capacidade cognitiva não era novidade para a ciência. Mas o propósito de Bernardo Lessa Horta, da Universidade Federal de Pelotas, foi perceber se o nível de inteligência era suficientemente elevado para alterar as perspetivas do bebé quando se tornava adulto.
Nas palavras de Lessa Horta, o êxito do estudo que ele coordenou não se prende apenas com a longevidade do mesmo: o facto de a amostra ser constituída por pessoas de diferentes classes socioeconómica eliminou qualquer presunção de que o sucesso dos indivíduos é maior à medida que se sobe na pirâmide social.
Ainda assim, o estudo publicado no Lancet Global Health e noticiado pelo The Guardian não ignorou o orçamento familiar à nascença, o nível de escolaridade dos pais, a herança genética, idade da mãe e seus comportamentos durante a gravidez. Para muitos, “não é a amamentação que influencia a evolução do bebé, mas antes a motivação e habilidade da mãe para estimular as crianças”, revela Bernardo Lessa Horta.
Ainda assim, os resultados deste estudo estão em conformidade com os dados conseguidos em análises nutricionais, em que se defende que o leite materno é rico em elementos responsáveis pelo crescimento cerebral. Outros estudos dizem que bebés com um genótipo em particular têm maior tendência para tirar vantagem da amamentação.
A Organização Mundial da Saúde recomenda a amamentação durante seis meses. Mas Lessa Horta acredita que o bebé não sairá prejudicado se receber leite materno tanto tempo quanto possível. A amamentação permite receber mecanismos de proteção contra infeções e diminuir as possibilidades de mortalidade infantil de obesidade.