Se na Grécia o principal problema na sociedade é a evasão fiscal, em Chipre é a falta de pagamento de créditos à banca que ameaça estrangular a retoma da economia. Mais de metade dos créditos na banca de Chipre estão em risco de incumprimento, uma proporção que supera, até, os 34% na Grécia (segundo os últimos dados), um país onde a taxa de desemprego é mais elevada. A novidade é que as dívidas em risco à banca afetam não só a população em geral, mas chegam à política ao mais alto nível, mostrou um relatório polémico que chegou à imprensa cipriota na semana passada. Treze dos 56 deputados cipriotas têm um total de 35,3 milhões de euros em crédito classificado pelos bancos de empréstimos em risco de serem incobráveis. Isto num país que se recusa a avançar com medidas neste campo, o que tem merecido fortes críticas do FMI.

Financial Times conta que o Bank of Cyprus tem 500 funcionários a trabalhar na divisão de recuperação de créditos, o que se justifica pelos 11,5 mil milhões de euros que o banco tem categorizados como crédito em risco ou já em incumprimento. 11,5 mil milhões de euros correspondem a dois terços do produto interno bruto (PIB) anual de Chipre. O banco é liderado pelo irlandês John Hourican, que garante que não quer “abrir uma vaga de execuções hipotecárias generalizadas” mas alerta que “temos de quebrar” as ligações entre empresas, banca e política em Chipre.

É que, segundo um relatório controverso que chegou à imprensa na semana passada, entre os 56 deputados do parlamento de Chipre há 13 que, no seu conjunto, devem 35,3 milhões aos bancos. Créditos que os bancos respetivos estão a considerar em risco de incumprimento. A questão está a gerar grande controvérsia porque há quem se queixe, incluindo John Hourican, de falta de legislação para lidar com este problema. É, em parte, pela falta dessa legislação que o Fundo Monetário Internacional (FMI) está a recusar dar nota positiva na última avaliação do programa de ajustamento e a libertar a tranche financeira associada.

Um antigo governador do banco central cipriota acusou a actual governadora, Chrystalla Georghadji, de ter sido ela própria a entregar à imprensa esta lista de deputados com dívidas em falta à banca, numa altura em que se acredita que o Presidente Nicos Anastasiades se prepara para a substituir devido a conflitos de interesse durante o colapso do Laiki Bank, em 2013.

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