Numa altura em que a taxa de natalidade continua a diminuir, muitas pessoas passaram a cuidar dos seus animais de estimação como se se tratassem de filhos. Daí o rol de negócios que nasceu em redor dos “pets”. Mas para outros, as relações de cumplicidade são antigas. E em ambos, as demonstrações de carinho são muito expressivas. Podem mesmo incluir o hábito de dormir com o cão ou o gato.
As opiniões sobre este hábito dividem-se: uns consideram uma prática descabida e pouco higiénica. Outros consideram ser uma simples prova de afeição. Para chegar a uma resposta definitiva, o Observador foi ouvir os especialistas.
A opinião dos veterinários não difere muito: não é anti-higiénico; mais, pode até ser saudável dormir com o seu animal de estimação. Mas este hábito tem de obedecer a algumas regras: é importante que o animal esteja limpo, desparasitado e que seja frequentemente analisado por um médico veterinário.
Jorge Cid, diretor do Hospital Veterinário do Restelo, disse ao Observador que as normas de higiene são indispensáveis. “É uma opção do dono. Não aconselho, mas também não proíbo”, diz o médico veterinário. É que podem mesmo haver questões emocionais relacionadas com esta prática de dividir a cama com o animal de estimação: “Pessoas que estejam sozinhas podem encontrar companhia no seu cão ou gato” e quando isso lhes é vedado pode “provocar desequilíbrios emocionais”, explica.
A Liga Portuguesa dos Direitos do Animal assume que as reticências que algumas pessoas demonstram sobre esta convivência muito próxima com animais são potenciadas pela crença de que “até as mais pequenas alergia podem ser provocada pelo animal de estimação”, diz Maria do Céu Sampaio, presidente da instituição.
O que nem sempre corresponde à verdade. Joaquim Henriques, diretor clínico do Centro Veterinário de Berna, esclarece que “dormir com o animal de estimação depende do cuidado que se tem com eles”. Se o animal for saudável, estiver limpo e tomar banhos regulares não deverá haver problemas. Mas há que ter alguma cautela: “Aos pés da cama, o perigo de aspirar o pelo do animal é diminuído” e o hábito torna-se menos inseguro para quem tenha mais tendências alérgicas.
O médico veterinário alerta contudo para outra questão: “Não são apenas os animais que podem transferir doenças para o humano. O contrário também acontece” e os donos podem tornar-se perigosos para os animais. É por isto que é imperativo ter regras de prevenção de doenças antroponoses, isto é, patologias existentes apenas no ser humano mas que podem ser transferidas para os animais domésticos e vice-versa.
E quanto à aproximação às crianças? Joaquim Henriques lembra que os mais pequenos são mais vulneráveis, mas tanto ele como Jorge Cid sublinham que o convívio entre animais e crianças torna o sistema imunitário mais resistente, nomeadamente a doenças como a asma.
Ainda assim, há uma ressalva que a Liga Portuguesa dos Direitos do Animal deixa: “O animal tem de ser tratado como tal e não lhe pode ser retirada personalidade”.