A guerra sobre os salários da RTP continua. António Feijó, presidente do Conselho Geral Independente (CGI) que tutela a estação pública, afirmou ao Expresso que o (polémico e contestado) salário de dez mil euros que Gonçalo Reis, o novo presidente, vai ganhar foi autorizado pelos ministros Maria Luís Albuquerque e Miguel Poiares Maduro.

“Perguntei à tutela financeira da RTP, que são o ministro Miguel Poiares Maduro e a ministra das Finanças, quais eram os parâmetros para o salário do novo presidente da RTP e disseram-me que até 10 mil euros era possível”, afirmou ao jornal o presidente do órgão criado pelo Governo para gerir a estação pública.

Feijó diz assim estranhar as declarações feitas por Marco António Costa sobre ao assunto. O vice-presidente e porta-voz do PSD disse ao Observador, no passado sábado, esperar que “o CGI, que agora tem a tutela efetiva da RTP, possa prestar esclarecimentos públicos sobre a situação” e solidarizou-se com a exigência da Comissão de Trabalhadores, que pediu uma baixa de salários.

António Feijó esclareceu que, de facto, o CGI, com a responsabilidade da escolha dos novos membros do conselho de administração bem como a de pronunciar-se sobre os seus salários, “não colocou objeção nenhuma”. Mas fez questão de frisar “quem tem poderes financeiros é a tutela, não somos nós”.

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O despacho, publicado em Diário da República, que abre a exceção legal que permite que quer o novo presidente da RTP, Gonçalo Reis (dez mil euros), quer o responsável da programação Nuno Artur Silva (7.400), ganhem mais que o primeiro-ministro, foi assinado pela secretária de Estado do Tesouro.

Num comunicado emitido sábado, a Comissão de Trabalhadores da estação pública foi muito crítica sobre os valores em causa, que são superiores aos que auferiam a anterior administração (Alberto da Ponte ganhavam 7.500 euros) : “Entende a CT que, querendo certamente o Conselho de Administração ser um bom exemplo, chegou o momento em que os trabalhadores da RTP têm o direito de exigir, no mínimo, a reposição de todos os cortes salariais”. Ao Observador, Marco António Costa considerou “muito ponderada e responsável” esta tomada de posição e disse esperar “que o bom senso prevaleça”.

Esta exceção às regras salariais em empresas públicas foi aprovada em 2012, tendo sido justificada pela concorrência de mercado, e permite que os administradores tenham um salário igual à média dos vencimentos dos últimos três anos. Gonçalo Reis fez, contudo, questão de dizer que os 10 mil euros que vai ganhar são 50% abaixo da média do que recebeu nos últimos três anos.