A porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Carlotta Asami disse esta terça-feira à CNN que a embarcação com a bandeira portuguesa que tentou resgatar as centenas de migrantes, que seguiam numa embarcação ao largo de Itália, poderá ter provocado o seu naufrágio. Mas as autoridades italianas já vieram concluir que a culpa, afinal, foi do capitão da traineira e da sua sobrelotação.

As declarações de Carlotta Asami foram feitas esta terça-feira à CNN, depois de colegas seus terem falado em Catania, Itália, com alguns dos sobreviventes ao naufrágio – 22 dos quaos resgatados pelo navio de bandeira portuguesa que respondeu ao pedido de auxílio italiano.

“Eles dizem que a determinada altura a embarcação aproximou-se muito e provavelmente o que aconteceu é que o cargueiro provocou uma grande onda e a traineira terá perdido o balanço”, disse Asami.

Esta versão diverge daquela que foi apresentada domingo pelas autoridades, e que explicava que com a aproximação do cargueiro, os migrantes deslocaram-se todos para um lado da pequena embarcação na tentativa de serem salvos e fizeram-na tombar. A CNN tentou chegar à fala com os proprietários do navio de carga “King Jacob”, mas sem sucesso. À Rádio Renascença, o comandante Paulo Vicente, porta-voz da Marinha Portuguesa, não confirmou se a tripulação era portuguesa, mas tudo indica que não. Apenas a bandeira era portuguesa, estando o cargueiro registado na Madeira. À SIC lembrou que a embarcação se deslocou ao local ao auxílio dos migrantes em risco, logo não devia ser mencionada qualquer culpa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Pouco depois das declarações de Carlotta Asami, as autoridades italianas vieram dizer que o pior desastre com migrantes no Mediterrâneo, que causou cerca de 800 mortos, se deveu a erros do capitão e à sobrelotação da embarcação. A procuradoria da Catânia (Sicília) disse que a embarcação colidiu com um cargueiro de bandeira portuguesa que a veio socorrer antes de se virar, mas absolveu a tripulação do navio mercante de qualquer responsabilidade na tragédia.

Considerou que a embarcação se virou depois da colisão devido a erros de manobra do capitão e a movimentos de pânico das centenas de migrantes que ocupavam a antiga traineira com 20 metros. O capitão da embarcação, o tunisino Mohammed Ali Malek, de 27 anos, foi detido por suspeita de assassínio múltiplo, de ter causado um naufrágio e de apoiar a imigração ilegal. O tripulante sírio Mahmud Bikhit, de 25, também foi detido por suspeita de apoio à imigração ilegal.

Os procuradores disseram que pedirão ainda esta terça-feira a um juiz para autorizar a extensão da detenção dos dois homens para aprofundar a investigação e possivelmente apresentar uma acusação formal.

Estima-se que estivessem a bordo da traineira 800 a 850 imigrantes que queriam chegar à Europa. O naufrágio ocorreu a cerca de 100 quilómetros da Itália e a setenta quilómetros da Líbia. As autoridades italianas, que coordenaram a operação de resgate, dizem que apenas 28 pessoas sobreviveram e que foram já resgatados 24 corpos.

(Artigo atualizado com a versão da Procuradoria italiana)