O presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) voltou a alertar para a sobrevalorização dos ativos nos mercado, em particular obrigações de empresas e estados. Não é a primeira vez que Carlos Tavares faz este alerta, “mas os riscos são mais evidentes hoje do que eram na altura (há cerca de um ano); são basicamente os mesmos, mas mais acentuados”.
No balanço de dez anos de liderança da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, no Parlamento, Carlos Tavares considera que a emissão de obrigações (dívida) por parte de empresas e estados, de alto rendimento e alto risco, é “a principal fonte de riscos”, dados os montantes envolvidos. Recuperando alertas de instituições como o Fundo Monetário Internacional, o BIS (Banco Internacional de Pagamentos) e a ESMA (Regulador dos mercados europeus) para a excessiva alavancagem, o presidente da CMVM admite que pode estar em formação “uma tempestade perfeita”, uma expressão que também foi usada no relatório da comissão parlamentar de inquérito para descrever o colapso do Banco Espírito Santo (BES).
O presidente da CMVM, citado pelo Negócios, sublinha que queria deixar este “alerta muito forte”, considerando ainda que “alguns dos remédios usados para combater a crise geraram eles próprios riscos que podem gerar uma nova crise”. Os perigos resultam dos efeitos perversos das políticas monetárias que procuram relançar o investimento e o crescimento e que apostam em taxas de juro muito baixas e excesso de liquidez, condições que promovem uma “forte procura de ativos de rendimento elevado”, o que por sua vez conduz a uma subida de preços indiscriminada.
Para Carlos Tavares, hoje é difícil diferenciar, o que paga uma empresa com rating AAA ou rating BBB. A espiral de valorizações está também a chegar às ações, sobretudo nos Estados Unidos e alguns mercados europeus. Uma subida das taxas de juros, sobretudo se for repentina, poderá este cenário provocará perdas nos investidores, nos bancos e nos bancos centrais.
A colocar em risco este ciclo está a subida de taxas de juro. “As taxas de juro não podem continuar no nível em que estão, vão subir”, adiantou o presidente da CMVM. “Quando as taxas de juro subirem, e basta uma crise cambial para subirem de um dia para o outro” esta evolução ” provocará perdas nos investidores, nos bancos e nos bancos centrais”, acredita Carlos Tavares que pediu bom senso aos investidores.