Ninguém está à procura de ser um Steve McCurry da comida étnica, nem um Terry Richardson das sobremesas pornográficas. O objetivo do comum utilizador de redes sociais é conseguir tirar fotografias suficientemente apelativas que atinjam um número respeitável de gostos. Em suma, seguindo estas cinco dicas, pode tornar o Instagram, por exemplo, num local mais aprazível, com menos imagens dolorosas de refeições alheias.
Quem é o autor destas cinco dicas? Qualquer fotógrafo poderia resumir as noções básicas de fotografia desta forma, porém, aqui foi Izy Hossack, autora do blogue Top with Cinnamon, quem as compilou. Izy aceitou fazer um vídeo para o site Fine Dining Lovers onde esquematiza os truques basilares de uma boa imagem. O blogue ganhou, em 2014, o prémio de Melhor Blogue de Pastelaria e Sobremesas, escolha dos editores da Saveur, e Izy, a pasteleira e fotógrafa, já lançou um livro com as melhores receitas e imagens.
Pois bem, pode pegar no papel e na caneta — e só depois nas panelas, se for o caso.
1. Luz natural
Esqueça a ideia de tirar fotografias à noite, em restaurantes à luz das velas ou muito menos o faça em casa, sob aquelas lâmpadas de halogéneo tão comuns nas cozinhas portuguesas. O que a comida pede é luz natural, a incidir lateralmente, de preferência. Para conseguir a melhor luz possível, não precisa de levar o prato de comida para a rua, basta escolher sempre a mesa junto à janela quando vai almoçar fora. Se estiver em casa, onde pode fazer figuras constrangedoras, opte por usar um guardanapo ou uma toalha branca que difunda e reflita a luz. Um dia ligeiramente nublado é uma boa notícia para a fotografia, o céu torna-se uma caixa de luz (gigante) semelhante à que os fotógrafos usam. Caso a noite já tenha caído e queira mesmo fotografar um bonito prato durante o jantar, opte por ficar numa zona do restaurante onde a luz é boa, mas não direta. Caso contrário, um foco sobre o prato fará aparecer a sombra indesejável do telemóvel. Anote o mais importante: os pratos brancos devem aparecer brancos na fotografia, se estiverem amarelos ou azuis isso é indicativo de má luz — e de uma péssima fotografia.
2. Bom ângulo
A melhor forma de um prato ficar favorecido na imagem é fotografá-lo picado. Isto significa que o telemóvel/câmara deve estar em cima e paralelo ao objeto fotografado. Sim, isso significa que pode ter de se levantar um pouco da cadeira para o fazer, mas vai compensar, como pode ver por estes exemplos de blogues de gastronomia.
Além do ângulo picado, há outra forma: o chamado 3/4. É o ângulo que o comensal tem do seu prato quando está sentado à mesa. É bom para quando os ingredientes são altos — como uma torre de panquecas e hambúrgueres bem recheados — ou quando a comida tem muitas camadas e texturas.
3. Produção
Não tenha medo de mover os talheres ou o copo para fazer um bom enquadramento. Porquê incluir uma mancha de vinho tinto na toalha ou deixar que a fotografia apanhe o telemóvel da sua companhia no canto da imagem? Isto é apenas o começo da necessidade de produção que a fotografia de comida exige. Escolher um bom fundo — toalhas brancas nunca comprometem — é essencial. Hoje em dia, grande parte dos restaurantes usa pratos revivalistas para apresentar a sua gastronomia e muitos deles têm mesas de materiais interessantes ou guardanapos com motivos estéticos. Opte por um tampo de madeira desgastado, uma colher estrategicamente colocada ao lado do prato ou, se estiver em casa, espalhe na mesa alguns dos ingredientes que usou para cozinhar.
4. Definições da câmara
Este ponto interessa aos utilizadores de câmaras fotográficas digitais. Num smartphone, definições como o ISO, a abertura e a velocidade do obturador são automáticas. Se usa uma câmara com opção manual, então convém ter atenção a estas três opções. O ISO define a sensibilidade da câmara à luz. Quanto mais alto o ISO, mais sensibilidade à luz. Convém, no entanto, não exagerar no número ou a foto ficará com demasiado grão; o ideal é fotografar com ISO inferior a 500 (isto é válido apenas para quem respeitar a primeira dica desta lista.) A abertura vai definir quanta informação na fotografia está focada. Um número baixo faz com que apenas uma porção da imagem esteja nítida e o resto desfocado. À medida que este valor sobe, a nitidez espalha-se por todos os elementos da fotografia. A velocidade do obturador, como o próprio nome indica, estabelece o quão rápido ou lento a câmara tira a fotografia. Se for mais rápido, menos luz entra na imagem, mas mais fácil é captar movimento, por exemplo. Quanto mais lento, mais firme terá de ser ao tirar a fotografia — pode usar um tripé –, mas mais luz a câmara deixará entrar.
5. Edição
A edição pode melhorar muitos aspetos da imagem, sobretudo se, até então, tiver seguido todos os passos supracitados. Izy Hossack sugere, a quem usa câmaras digitais, que utilizem o formato RAW. Esse formato não está comprimido, como um JPEG, por exemplo, o que resulta numa imagem mais completa e com mais informação para ser editada. Já no smartphone, nada disso se aplica. Há, contudo, muitas aplicações com opções de edição úteis e mesmo o Instagram traz alguns desses instrumentos no programa. Ignore os filtros e opte por testar ferramentas como a Temperatura, Saturação, Exposição ou Contraste. Basta brincar um pouco com elas e notará logo a diferença. Por exemplo, baixar a temperatura pode tornar branco um prato amarelado. Se ao baixar temperatura deixou a gema de ovo com uma cor mortiça, isso resolve-se subindo um pouco a saturação. No botão Definir pode realçar a textura de muitos ingredientes, mas não exagere, ou deixará a imagem cheia de ruído.
Se quiser a descrição completa com exemplos comestíveis a acompanhar, aqui está o vídeo: