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Estes mapas provam que norte e sul podem ser direções arbitrárias

Este artigo tem mais de 5 anos

A discussão é antiga e representa uma das maiores dificuldades dos cartógrafos ao longo da história: até que ponto um mapa representa a realidade? A imagem do mundo do avesso é o novo tema do debate.

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Reprodução do Twitter @AUssieYouToo

Reprodução do Twitter @AUssieYouToo

Observe bem o mapa abaixo. Consegue ver algo de diferente na sua representação?

O mapa acima foi utilizado pelo grupo de apoio a estudantes estrangeiros na Austrália AUssieYouToo como forma de chamar a atenção para as diferentes perspetivas que o mapa mundi pode ter de acordo com o país de origem. A imagem ganhou as redes sociais e levantou questões sobre a sua correção e validade científica. Estaríamos todo este tempo a ver o mundo de cabeça para baixo ou são os australianos que estão a ver o mundo de baixo para cima? O jornal El País traz a solução.

De acordo com a publicação, é possível utilizar mapas com a parte sul para cima, desde que respondam a três questões importantes para a cartografia: qual é a orientação do mapa, o que se deve colocar no meio e como se desenha uma esfera num plano.

Comecemos pela primeira questão. Segundo Jeremy Brotton, autor do livro “A History of the World in Twelve Maps” citado pelo El País, as convenções norte e sul podem ser arbitrárias. “Não há nenhuma razão puramente geográfica pela qual uma direção seja melhor que outra ou porque os mapas ocidentais modernos naturalizam a tendência de que o norte deveria estar acima”, explica.

Para defender a sua opinião, cita a história da representação geográfica do mundo, quando até o final do século XV, a Terra era desenhada em direção ao oeste, com a Ásia em cima, a Europa abaixo à esquerda e a África ao seu lado à direita. De acordo com Brotton, a direção leste era a preferida da maioria das culturas “por ser onde onde sai o sol”, enquanto o oeste era associado com a “decadência e morte” e o norte “com a escuridão e maldade”. Exceções: os mapas babilónios e chineses e o mapa do astrónomo grego Ptolomeu no segundo século depois de Cristo.

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Um exemplo de como a mudança na orientação do mapa altera apenas a perspectiva territorial é o mapa da Europa abaixo. Como vê Portugal na porção norte da representação?

Rotated_map_of_Europe

Um exemplo fotográfico vem da estação Apolo 17, que registou a Terra com o pólo sul voltado para cima. No centro, encontra-se a ilha de Madagáscar.

Apollo17WorldReversed

Em relação à questão do ponto central de um mapa, Brotton explica que a maioria dos mapas “põem a cultura que os produziu no centro” por um motivo político, mas admite que também é mais prático para o cálculo das distâncias entre territórios. Um exemplo prático acontece no Google Maps, quando o lugar que se deseja buscar se encontra centralizado na interface da página.

Outro caso citado pelo autor é o logotipo das Organizações das Nações Unidas (ONU). O mapa localizado no seu centro representa uma projeção equidistante centralizada no Pólo Norte de modo a transmitir o valor de neutralidade.

Flag_of_the_United_Nations.svg

Ainda como exemplo da escolha do ponto central de um mapa por motivos políticos, Brotton cita o cartógrafo Richard Edes Harrison, que durante a Segunda Guerra Mundial, desenhou uma representação do mundo com os Estados Unidos e a então União Soviética no centro.

Brotton ainda explica ao El País que, mesmo ao inverter os pontos norte e sul de um mapa, “é impossível projetar uma esfera numa superfície de duas dimensões sem que haja algum tipo de distorção na forma ou nos ângulos”. Desta maneira, mesmo que um mapa seja desenhado “de cabeça para baixo” ou com um perspectiva “não eurocêntrica”, o problema continua o mesmo.

O autor cita o caso da Projeção de Mercator, projeção cartográfica cilíndrica elaborada pelo geógrafo, cartógrafo e matemático Gerhard Mercator. Neste desenho, o globo terrestre é uma espécie de projeção cilíndrica, em que todos os meridianos são linhas retas perpendiculares ao Equador e às suas linhas de latitude.

Brotton afirma que os meridianos não convergem onde deveriam, motivo pelo qual a Gronelândia parece ter o mesmo tamanho que a América do Sul, apesar de ter uma oitava parte da sua superfície.

Para corrigir estas distorções, o historiador alemão Arno Peters criou em 1973 a Projeção de Gall-Peters, diminuindo o intervalo entre as retas perpendiculares aos paralelos e as linhas meridianas. O objetivo era reproduzir de maneira mais fiel as áreas dos continentes. Veja a comparação das duas perspectivas abaixo:

Brotton adverte, no entanto, que a Projeção de Gall-Peters também tem erros de cálculo, como são os casos da Nigéria e do Chade, cujas superfícies parecem ter o dobro do seu tamanho real. Contudo, admite que esta representação tem um grande mérito, pois “obrigou aos cartógrafos a admitir que os seus mapas nunca haviam sido e nunca poderiam ser ideologicamente neutros ou representações cientificamente objetivas”.

Por fim, o autor explica que os mapas podem ser desenhados a partir de diferentes projeções de acordo com usos específicos, levando em conta que cada uma delas tem as suas aplicações. Em outras palavras, isto significa que a Austrália também pode ser o centro do mundo.

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