“Verificamos que em todos os percursos foram medidos níveis médios de ruído superiores a 80 decibéis, o que pode representar um risco para a saúde dos passageiros, sobretudo para os grupos de crianças e idosos e para os operadores do Metropolitano”, nomeadamente a perda auditiva, disse hoje à agência Lusa Mafalda Sousa, da associação de defesa do ambiente. Em causa podem estar problemas como cansaço, zumbidos nos ouvidos ou aumento do ritmo cardíaco.

Os troços mais sujeitos a níveis elevados de ruído foram “Cais do Sodré–Rossio, Cidade Universitária–Entrecampos, Senhor Roubado–Ameixoeira, Chelas–Oriente e Pontinha–Carnide, com valores que ultrapassaram, na maioria dos casos, os 85 decibéis”, realçou a técnica. A Quercus acrescenta que, mesmo nos troços mais recentes da rede, como a linha vermelha, entre as estações do Oriente e do Aeroporto, “foram registados níveis sonoros médios superiores a 84 decibéis em todas as medições”.

A partir dos 70 a 75 decibéis, o corpo humano começa a ter reações ao ruído (físicas, mentais ou emocionais), e “uma exposição de média-longa duração a um ruído intenso pode provocar zumbidos nos ouvidos, aumento da produção de adrenalina, contração dos vasos sanguíneos, aumento da pressão sanguínea e do ritmo cardíaco”, explica o trabalho da Quercus.

As consequências imediatas traduzem-se em dificuldades na comunicação, concentração, fadiga e desconforto, redução do comportamento de ajuda e aumento da irritabilidade, segundo o estudo, que aponta como referência o nível médio de 75 decibéis por percurso, estabelecido pelo New York City Noise Code (código de ruído da cidade de Nova Iorque, nos EUA).

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Fatores como o volume de tráfego, a manutenção e a qualidade acústica das infraestruturas e das carruagens ou a amplificação do ruído, por se tratar de um canal confinado, aumentam os impactes associados à exposição ao ruído. “Há uma ausência de legislação nacional e comunitária sobre os limites de ruído a que os utentes dos transportes públicos deveriam estar expostos, nomeadamente no caso do metropolitano, e são poucos os estudos sobre ruído no metro, só [existe] mesmo o de Nova Iorque”, avançou Mafalda Sousa. Na vertente do ruído ocupacional, associado aos trabalhadores do metro, os prejuízos para a audição aumentam com a idade e com o tempo de exposição.

Entre as medidas pontadas para reduzir o ruído no Metro estão a correta insonorização do habitáculo das carruagens, a adoção de rodas com maior capacidade de amortecimento e de sistemas de ventilação mais silenciosos, sendo também aconselhado que, em futuras expansões da rede, seja reduzida a propagação do barulho, através da correta escolha dos materiais.

O estudo realizou-se entre agosto e setembro de 2014 e envolveu uma “avaliação limitada” do ruído nas quatro linhas do Metropolitano de Lisboa, em duas viagens em cada sentido e por cada linha, abrangendo um período de acalmia e um período de hora de ponta, e foi feita uma comparação com os tempos de exposição recomendados pela Organização Mundial de Saúde e pela agência norte-americana que fiscaliza esta área (EPA).

Dados da Agência Europeia do Ambiente referem cerca de 20 milhões de europeus afetados pelo ruído ambiental, nomeadamente dos transportes, e serão 125 milhões, ou um em cada quatro, aqueles afetados pelo barulho do tráfego automóvel, que atinge níveis superiores ao limite máximo estipulado.

O ruído elevado tem vários efeitos na saúde, como hipertensão e doenças cardiovasculares, levando a cerca de 10 mil mortes prematuras e a 43 mil hospitalizações por ano, na Europa, segundo aquela entidade.