Dois discursos, uma mensagem clara: reeleger o Governo é apostar na estabilidade e na credibilidade do país; votar no PS significa, por outro lado, regressar a um passado de incerteza. Pedro Passos Coelho e Paulo Portas formalizaram este sábado, num jantar em Guimarães, o acordo de coligação pré-eleitoral entre PSD e CDS. E não esqueceram António Costa e o PS, a quem não pouparam duras críticas.

O primeiro a dar o mote foi Paulo Portas: “Em 2011, o país chegou à bancarrota, o governo de então chamou a troika, assinou o memorando e entregou-nos à sorte dos credores, da austeridade e da recessão. As finanças estão melhor, mas, sobretudo, a economia está a melhorar. A confiança está de volta. Porquê e para quê, se as coisas são assim, voltar atrás e pôr tudo em risco?“.

Minutos depois, Passos Coelho ajudava a tentar abater o porta-aviões socialista: “O que está em jogo, agora, é muito fácil de perceber: é saber se querem construir alguma coisa de positivo em cima daquilo que já alcançamos ou se queremos voltar ao tempo da incerteza e da dúvida“. Tal como tinha feito o líder dos democratas-cristãos pouco antes, também Passos insistia no fantasma do Governo de Sócrates e respondia àqueles que o acusam de ter ido além da troika:

“Ao contrário do que se diz, que este governo não consegue governar sem a troika, e que a troika ele é mesmo sem a troika cá, apetece-nos dizer que nós não precisamos da troika para fazer o que é preciso, mas houve quem anos a fio não fizesse o que era preciso e tivesse de chamar a troika“, lembrou o primeiro-ministro.

Os ataques às propostas do PS dominavam as linhas dos discursos. Se o líder do CDS perguntava, em jeito de provocação, se os portugueses iriam votar naqueles “que tudo confiam a um mundo de ilusões e de promessas que nunca se sabe como se financiam e como se pagam”, o líder “laranja” respondia do outro lado, garantido que a coligação não se propunha a oferecer “um caminho de promessas fáceis, de ilusões e de facilidades“.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Neste jogo de golpes e contra-golpes dirigidos a um alvo comum, Portas não poupava esforços e dizia: esta maioria tem “um plano viável e tem o realismo que outros dispensam“. Passos completava: “E agora que arrumámos a casa e começamos a pagar as dívidas, é o tempo da esquerda natural voltar ao Governo? [Não], são os portugueses que decidem. Não há direitos naturais”.

De resto, Pedro Passos Coelho acabou por elevar o tom nas críticas aos socialistas e lembrou mesmo a herança recente de Seguro, colocando a pressão do lado de Costa: afinal, se “a anterior liderança não tinha boas sondagens”, esta tem?, perguntou.

“[Antes da liderança de Costa], havia receio que o PS não estivesse suficientemente forte para oferecer a Portugal uma alternativa. Muitos meses depois de ação do Governo e de ação da oposição, parece que na oposição se começa a perguntar se a vitória está assim tão adquirida. Começa-se mesmo a perceber no país que o resultado das eleições não está fechado, desmentido aqueles que acham que têm o direito natural a governal”, lançou Passos.

Ao mesmo tempo que disparavam contra o PS e António Costa, Portas e Passos faziam questão de lembrar o currículo de quatro anos de governação. O vice-primeiro-ministro começou por lembrar que este Governo tinha terminado “o programa com a troika no primeiro momento possível. Não lhes pedimos nem mais tempo, nem mais dinheiro. Tivemos uma saída limpa e ninguém impôs um programa cautelar”. O número 1 do Governo acompanhava o ritmo e resumia: a maioria conseguiu cumprir a sua “principal missão: dispensar a troika que o Governo anterior chamou”. 

No final, e num discurso que parece marcar o arranque oficial da pré-campanha eleitoral, Passos, em jeito de promessa, garantiu que esta coligação quer “dar aos portugueses a certeza de que não precisaremos de mais troika nenhuma para mostrar aos nossos parceiros na Europa e aos nossos parceiros no mundo, que Portugal sabe o que quer”.

E o que quer Portugal? Passos prefere dizer o que não quer. “Portugal não quer um país endividado, não quer um país cheio de défice, não quer um país cheio de desemprego, um país que dependa só dos impostos e do Estado“. Mas foi a Paulo Portas a quem coube a missão de apresentar as linhas que deverão orientar o próximo Governo, caso a coligação vença as eleições. O líder do CDS comprometeu-se com a “redução progressiva do IRS” e o desaparecimento “parcela após parcela da sobretaxa”, medida que tanto dividiu os parceiros da coligação. E prometeu também a “reposição faseada dos salários dos funcionários públicos“, com a “descida moderada do IRC“, sempre com atenção aos aposentados, “sem causar buracos monstruosos na Segurança Social”.