Na Índia, Sudoeste Asiático e Médio Oriente, a depilação do rosto feminino é um gesto milenar ligado aos rituais de entrada na puberdade e casamento. Esta depilação do rosto e desenho das sobrancelhas era feita usando somente um fio de algodão que as mãos das anciãs da comunidade manejavam com perícia e minúcia dando pequenos nós nos pelos, depois arrancados pela raiz. Retiravam-se os excessos, a penugem subtil nas áreas laterais do rosto e aumentava-se o arco das sobrancelhas para redimencionar o olhar. Seis mil anos depois, esta técnica começou a espalhar-se pelos salões de beleza londrinos. Foi num desses salões que Filipa Muñoz de Oliveira descobriu os miraculosos fios de algodão que fizeram nascer a Wiñk e puseram o olhar das mulheres portuguesas melhor tratado e desenhado que nunca.
Filipa vivia em Londres quando, há cerca de 10 anos, viu num centro comercial duas mulheres indianas a fazerem depilação de sobrancelhas recorrendo apenas ao manejo de uma linha de algodão. “Tenho sobrancelhas grossas, arranjá-las sempre foi um drama para mim, porque raramente ficava um bom trabalho. Quando vi as indianas no Harvey Nichols Department Store fiquei curiosa e decidi experimentar”, conta Filipa ao Observador. “Nunca as minhas sobrancelhas tinham ficado tão perfeitas, porque além de tirarem os pelos e a penugem em volta, elas redesenham as sobrancelhas tendo em conta cada rosto. Passei a ir lá e convenci todas as minhas amigas a experimentarem. Ao contrário do que pode parecer, não é nada doloroso.”
Quando pensou em regressar a Portugal, a empresária lembrou-se que já não teria as indianas para lhe arranjarem as sobrancelhas. Foi aí que teve a ideia que havia de lhe mudar a vida e, a nós, os olhos: decidiu trazer a técnica para o nosso país e apresentou-a ao público de uma forma arriscada, tendo em conta os pudores dos portugueses — num quiosque aberto, no meio de um centro comercial, onde qualquer um podia ficar a espreitar, fazer perguntas, ou levar para casa curiosidades. Foi assim há oito anos quando abriu o primeiro quiosque Wiñk no Centro Comercial Amoreiras, em Lisboa, para depilar sobrancelhas com fio de algodão.
Para surpresa de Filipa (que com dificuldade encontrou, em Lisboa, uma indiana que aceitou trabalhar com ela e dar formação a outras duas), as mulheres e homens portugueses aderiram rapidamente ao fio de algodão, sem problemas por estarem a ser vistos a tratar ociosamente da sua beleza. Ainda em 2007, abriu mais três pontos Wiñk: Centro Comercial Vasco da Gama, Centro Comercial Saldanha Atrium e Oeiras Parque. Hoje Filipa já tem 30 lojas, acabou de se expandir para o Brasil (Rio de Janeiro) e Funchal. Na agenda do próximo ano estão Espanha e Angola. Tudo porque, como diz, “nós não fazemos depilação, nós transformamos olhares”. Destas 30 lojas ou quiosques, 11 são em regime de franchising.
Transformar olhares
Apesar da especialidade da Wiñk ser a depilação do rosto e o desenho das sobrancelhas, a marca tem vindo a expandir as suas práticas muito para além da linha de algodão. Hoje faz também outros serviços como extensão, permanente e tintura de sobrancelhas; extensão, permanente e tintura de pestanas; aplicação de máscara de longa duração nas pestanas e workshops de maquilhagem.
“As sobrancelhas eram muito mal-tratadas em Portugal”, diz Filipa Oliveira. “Feitas normalmente em casa ou em cabeleireiros sem a mínima formação, davam, e dão, origem a frequentes desastres, porque não são feitas tendo em conta as linhas dos olhos e do rosto e é frequente vermos pessoas com as sobrancelhas totalmente assimétricas.” Uma das mais valias da técnica do fio é que permite redesenhar as sobrancelhas em poucas sessões (o desenho pode depois ser mantido em casa com recurso a outras técnicas como a pinça ou a cera, com regressos espaçados à Wiñk para manutenção).
Aos poucos, os quiosques da Wiñk estão a dar lugar a pequenas lojas onde Filipa pode estender o negócio do olhar a outras áreas, entre elas a já famosa extensão de pestanas. Esta, também ela uma técnica de minúcia e precisão, pode ser feita com recurso a pelos artificiais ou a pelos de seda (um produto novo que dá às pestanas uma aparência totalmente natural e não é sequer indicada para quem gosta de ter um look mais impactante)
Filipa reconhece que a técnica do fio de algodão torcido, apesar de exigir mãos muito precisas e, consequentemente, muitas horas de formação, não é cara e tem permitido fazer das sobrancelhas uma área do rosto que se tornou obrigatório tratar. “As mulheres e homens portugueses perceberam que oferecemos um serviço profissional que tem a vantagem de ser quase indolor e retardar o crescimento dos pelos. É um serviço de luxo em Inglaterra, mas aqui qualquer pessoa pode comprar uma sessão para si ou para oferecer e a diferença é tão grande que se torna difícil não aderir e a taxa de fidelização de clientes à nossa marca é altíssima.”
“Look Twiggy” para este verão
Quando a extensão das pestanas superiores já se tornou habitual nos olhos das mulheres ocidentais, eis que esta primavera/verão, com o revivalismo do anos 70 e alguns dos seus excessos, chega também a moda das pestanas inferiores falsas. Filipa Oliveira reconhece que em Portugal ainda se faz pouco e que não é fácil ficar bem com o chamado “look Twiggy” (a famosa modelo inglesa dos anos 60 e 70 que celebrizou a minissaia e as pestanas inferiores falsas). Porém, a Wiñk oferece uma alternativa que deve deixar alerta as fashionistas: a aplicação de máscara de longa duração. Esta máscara que dura meses e não sai com as idas à praia ou à piscina é a ideal para conseguir uns olhos perversamente penetrantes sem recorrer às extensões.
A Wiñk tem ainda uma gama de produtos de maquilhagem criados em parceria com a L’Oreal e no segredo dos deuses estão novidades. Para já, a sugestão é ir experimentar o fio de algodão nas sobrancelhas (9,50 euros) manejado por mãos jovens mas carregado de ancestralidade. Depois, pode construir um olhar novo com um arco de sobrancelhas a ornamentar-lhe graciosamente uma longas e falsas pestanas (75 euros para as pestanas sintéticas e 110 euros para pestanas de seda). Para uma ocasião especial, por que não experimentar a máscara de longa duração nas pestanas inferiores (15 euros)?
Afinal, quem disse que as mulheres têm que ser discretas e comedidas?