Umas vezes há birras à mesa para terminar o que está no prato. Outras vezes, os olhos são maiores do que a barriga e em poucos minutos o pequeno-almoço já satisfez as ânsias iniciais. Há ainda alturas em que ao almoço se dispensa o que foram os restos do jantar. Outras vezes reclama-se com os legumes no prato, atirados para o lado.

Foi por este conjunto de “vezes” em que se desperdiçam alimentos que o “Movimento Zero Desperdício”, da Associação Dariacordar, e a agência de publicidade J. Walter Thopson (JWT), desenvolveram uma série de livros sobre a temática do desperdício alimentar — no total, quatro –, destinados a crianças do 1.º ciclo, com idades entre os seis e os dez anos.

“Através de histórias engraçadas, ensinamos, sugerimos, demonstramos a facilidade dos pequenos gestos e comportamentos que podemos adotar diariamente, sem sacrifícios ou moralismos. O conteúdo e o tom são fundamentais para captar a atenção das pessoas, envolvê-las e [dar-lhes poder] na resolução de um problema tão grande nas nossas sociedades. Uma em cada nove pessoas no mundo passa fome e uma em cada cinco é obesa. Se cada um fizer a sua parte a um nível micro, então poderemos verdadeiramente encontrar uma solução global. Este é um modesto contributo para as novas gerações que se estão a formar agora”, explica a CEO da JWT, Susana Carvalho.

Os livros O Tio Desafio, A Rita Encolheu. E agora?, A Vida Difícil de uma Manteigueira e Confusão no Corredor dos Enlatados focam-se em aspetos particulares de desperdício no dia a dia e têm como ambição fazer parte do Plano Nacional de Leitura. Por agora serão distribuídos nas escolas de 1.º ciclo de Lisboa, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação EDP e da editora Clube do Autor. Depois, nas restantes escolas do país.

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Marta Hugon, autora do livro A Rita Encolheu. E agora?, que conta com ilustrações de António Jorge Gonçalves, contou ao Observador que se inspirou no dia a dia com os seus filhos e no que é mais próximo e pertinente para crianças por volta dos seis anos, como as pequenas coisas à refeição, a interação na escola com os outras crianças, os medos e os sonhos.

No livro de que é autora, Rita, a personagem principal, acorda e percebe que está mais pequena. Com a ajuda de um amigo, o Rui, descobre porque está a encolher e a passar por uma série de aventuras: “falta-te o desperdíííício! (…) A comida que deitas fora quando os teus pais não estão a ver”, diz-lhe Rui. Depois da lição aprendida, o final dos contos de fadas surge ligeiramente diferente: “jantaram todos juntos, felizes, sem desperdiçarem um só bocadinho”.

Para além dos enredos criados à volta do tema, em cada obra há sugestões de atividades para combater este problema.

A partir de cada livro, deixamos-lhe quatro dessas sugestões, para desafiar os mais pequenos:

1. “Com materiais recicláveis, constrói uma medida para controlares a quantidade de cereais que deitas no prato.”

2. “Indica a origem dos ingredientes da tua refeição preferida e todo o trabalho envolvido até estar pronto a comer.”

3. “Confirma, verificando na despensa, nos armários e no frigorífico, o que ainda tens em quantidade suficiente. Assim, não precisas de comprar o que não precisas.”

4. “Vai ao teu frigorífico e inventa uma receita com o que sobrou do almoço ou do jantar.”

Resta-nos desejar boas refeições, boas compras e boas arrumações. Sem desperdício.