Dois medicamentos que já são vendidos para o tratamento de outras doenças mostraram-se eficazes na redução da degeneração cerebral em ratos. Os resultados foram apresentados esta terça-feira na conferência anual da sociedade dedicada ao estudo da doença de Alzheimer.

A utilização de medicamentos que já se mostraram seguros e tolerados pelas pessoas reduz o tempo que medeia a investigação de uma nova aplicação e a utilização nos doentes, noticia o Guardian. “É realmente emocionante. São medicamentos autorizados. Isto significa que se segue diretamente para um ensaio clínico básico num pequeno grupo de doentes, porque estes compostos não são novos, são drogas conhecidas”, refere, citada pelo Guardian, Giovanna Mallucci, professora de Neurologia Clínica na Universidade de Cambridge, antes da apresentação na conferência.

A acumulação de proteínas no cérebro pode levar a morte das células nervosas. Para tentar contrariar a forma como as células do cérebro reagem a estas proteínas, a equipa de Giovanna Malluci conduziu um estudo em ratos com um novo fármaco. Embora os resultados fossem positivos em relação ao objetivo pretendido, os efeitos secundários da droga não permitiam ter tantas expectativas em relação ao tratamento em humanos, refere o Guardian, no artigo publicado em 2013.

Agora, os investigadores estudaram centenas de medicamentos que já têm aprovação no mercado à procura daqueles que poderiam ter um efeito protetor do cérebro. Os cientistas preferiram não dizer o nome dos dois medicamentos que se mostraram eficazes, porque estes fármacos ainda não são usados para tratar a demência e os investigadores não querem correr o risco das pessoas começarem a automedicar-se antes de realizados os ensaios clínicos em humanos que demonstrem se os resultados são equivalentes aos encontrados em ratos.

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“Há muitas evidências que apontam para o processo implicado, mas precisamos de fazer uma observação particular para mostrar que o que acontece nos ratos também acontece nos humanos. A pergunta-chave é saber qual a relevância para a doença em humanos”, refere Giovanna Malluci, que espera ver os ensaios clínicos dentro de poucos anos.

Os dois medicamentos testados inibem uma enzima (Perck) que ativa o mecanismo de defesa das células. Este mecanismo, perante a acumulação de proteínas característica na doença de Alzheimer, impede a produção de novas proteínas pelas células cerebrais que seriam essenciais para a reparação dos tecidos. Os dois medicamentos mostraram que, pelo menos em ratos, restauraram a normal produção de proteínas, impediram a morte das células cerebrais e preveniram a perda de memória.

Carol Colton, professora de Neurologia na Universidade Duke, na Carolina do Norte (Estados Unidos), mostra-se entusiasmada com os resultados, mas lembra que não se sabe que outros efeitos podem ter no cérebro desligar o mecanismo de defesa natural das células, refere o Guardian.

Estes medicamentos não trazem a cura, nem a prevenção do Alzheimer, mas podem ser uma forma de retardar a doença cinco ou dez anos. A coordenadora do estudo, que também é médica, garante que isso faria uma enorme diferença na vida dos doentes e respetivas famílias.