Dizer que o sítio x é o melhor ou o mais (inserir adjetivo) da localidade y é, quase sempre, um exercício subjetivo e, consequentemente, falível. Serve apenas para despertar a curiosidade natural do leitor e nada mais. Por vezes, contudo, os factos conseguem superar-se à subjetividade natural por trás de uma afirmação do género. É o caso: afirmar que o Il Matriciano será, provavelmente, o restaurante mais italiano de Lisboa não é — longe disso — uma mera artimanha insustentada para fazer o leitor abrir o artigo. Palavra.
No Il Matriciano não se fala português. Os empregados compreendem, sorriem e respondem, mas sempre em italiano. E será que os clientes se incomodam? “Nada disso, gostam muito, é sinal que estão num restaurante italiano a sério”, explica Alessandro Lagana, o romano que no final do ano passado adquiriu este espaço.
Mas não se pense que se trata só uma questão de linguagem. “Somos todos italianos: eu, a minha mulher, os dois empregados de sala e o chef”, conta Alessandro, que de 10 em 10 dias vai a Itália tratar dos seus negócios — “tenho um hotel e dois restaurantes em Teramo, na região de Abruzzo” — e aproveita para trazer todos os produtos que são usados na cozinha do Il Matriciano. Todos “menos o pão”, que, faz questão de dizer, é comprado na vizinha (e excelente) mercearia Saloia.
Ou seja, a típica salsicha de Abruzzo vem diretamente da fonte, tal como o guanciale (uma espécie de bacon italiano) usado para a carbonara. Já a mozzarella vem de Caserta, perto de Nápoles, “o melhor sítio para a comprar”, garante o responsável, que acrescenta: “como não trabalho com importadores consigo ter produtos que os outros não arranjam”. Para os usar devidamente está na cozinha o chef Maurizio Traina, natural de Bergamo, que antes de abraçar esta aventura trabalhou 12 anos no restaurante da família e esteve uns tempos no Brasil — daí ser o elemento do staff que melhor fala português.
Por explicar está ainda, no entanto, como é que tudo começou. Mas Alessandro — que de cozinha portuguesa gosta de “tudo menos alho e coentros” — consegue resumir o sucedido em três frases.
Mudei-me para Lisboa há um ano e meio porque queria viver numa cidade mais calma do que Roma, que está demasiado cheia e confusa. Costumava ir ao BeBel [o restaurante que ficava onde hoje está o IlMatriciano] e gostava muito do espaço. Em novembro soube que a proprietária estava a querer vender, passado uma semana estava no notário a fazer o registo.”
Nos primeiros tempos, o responsável não quis mudar o nome da casa, apesar de lhe ter imposto, mal pegou nela, este conceito a que chama “trattoria de qualidade”. Mas há um par de meses lá se convenceu que tinha de ser: ninguém associava o BeBel a um restaurante italiano. Chamou-lhe, então, Il Matriciano, em honra da sua forma favorita de fazer pasta — alla matriciana. Essa é, precisamente, uma das opções de um menu que dos antipasti (entradas) aos dolci (sobremesa) faz uma autêntica viagem, ou uma viagem autêntica, se preferir, pela gastronomia típica do país da bota, de norte a sul — tão depressa se apresenta um prato de enchidos de Parma como uma típica carbonara ou puttanesca, uma carne à moda de Génova ou o famoso saltimbocca alla romana. E o menu — impresso nos próprios individuais do restaurante, “para que os clientes estejam sempre a pensar no que vão pedir a seguir” — não é estanque: “queremos mudar a cada 30 ou 40 dias”, afirma Alessandro.
A proximidade com a Assembleia da República tem ajudado a fazer a casa. Basta, aliás, passar por lá um dia de semana ao almoço para ver algumas caras conhecidas do hemiciclo. Mas os eventos também têm ajudado: da Festa do Dia de Itália, em que serviram mais de 1000 pessoas na respetiva embaixada, à Noite da Literatura Europeia, celebrada no restaurante com um buffet e um jantar para uma centena de convidados. E a tendência será crescer — em proporção, aliás, com o número de italianos que estão a vir para Lisboa morar. “Somos 3000, já, e cada vez mais”, diz Alessandro. Quem sabe esta não passará a ser cantina de muitos deles.
Nome: Il Matriciano
Morada: Rua de São Bento, 107, Lisboa
Telefone: 21 395 2639
Horário: De segunda a sábado, das 12h às 15h30 e das 19h30 à 00h
Preço médio: 25€
Reservas: Aceitam