A Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) defendeu que os alunos com dúvidas quanto à nota que obtiveram no exame nacional de Português devem ter direito a solicitar gratuitamente a revisão da prova, que custa 25 euros.

A sugestão, feita pelo presidente da Confap, Jorge Ascensão, surge depois da polémica lançada pela recém-criada Associação de Professores de Português (Anproport), em torno da dificuldade que alguns docentes tiveram em fazer a correção daquele exame do 12.º ano.

“Nos últimos anos tem-se aperfeiçoado as provas, assim como as formas e critérios de correção, mas vão sempre surgir falhas, porque este é um processo feito por humanos. Agora, é preciso garantir a equidade e penso que, neste momento, a única forma é permitir a revisão gratuita destas provas”, defendeu, em declarações à agência Lusa, Jorge Ascensão, reconhecendo que esta situação poderá trazer “perturbações logísticas e temporais, mas essas são as consequências deste incidente e, neste momento, é preciso garantir que as pessoas sentem que foram tratadas de forma equitativa”.

Entre as críticas da Anproport lia-se a dificuldade que alguns docentes tiveram em esclarecer dúvidas durante o processo de correção e o facto de alguns classificadores não terem tido formação, críticas que foram desvalorizadas pela presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Ferreira.

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Em declarações à agência Lusa, Edviges Ferreira afirmou que o documento divulgado pela Anproport é “um texto hiperbólico, porque os casos aí relatados são casos muito restritos, que acontecem todos os anos”, acrescentando que há sempre docentes com maior dificuldade de acesso aos supervisores e, por isso mesmo, com maior dificuldade na obtenção de respostas.

“Isto não representa, de todo, nem de perto nem de longe, o grosso dos corretores. Não nos identificamos com este documento”, disse.

Edviges Ferreira desvalorizou ainda o facto de haver professores corretores sem acesso a formação, que disse serem sessões maioritariamente teóricas, que não são essenciais para “ensinar um professor a corrigir provas”, uma função que desempenham habitualmente na profissão.

Até agora, os critérios de classificação de cada prova eram publicados no dia em que iam começar a ser aplicados mas, este ano, pela primeira vez, no dia da prova foi publicada uma versão de trabalho dos critérios de classificação e só mais tarde uma versão definitiva.

O Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) sublinha que esta mudança não significou uma “alteração do publicado inicialmente nos critérios”, mas sim “ajustamentos e acrescentados esclarecimentos”.

O objetivo é garantir “uma maior transparência de todo o processo, uma efetiva e justa valorização das respostas de todos os alunos” e é o procedimento que, “até ao momento, assegura a maior equidade possível no tratamento das respostas dos alunos”, explica o organismo responsável pelos exames em comunicado.

A polémica em torno do exame de Português, realizado este ano por milhares de alunos que se candidatam ao ensino superior, levou também a uma reação do primeiro-ministro, que defendeu que “os estudantes nunca podem ser penalizados por qualquer erro que possa existir”: “Eu não sei se existe, ao nível da avaliação, dos critérios ou dos termos em que decorre e avaliação”, disse Pedro Passos Coelho, referindo-se a “qualquer erro”.

“Com certeza que ele [Nuno Crato] estará interessado, junto da entidade que promove quer a realização das provas quer depois a sua correção, numa explicação sobre isso e não deixará de anunciar aquilo que for necessário para garantir as condições de justiça e de equidade na prestação das provas”, afirmou o primeiro-ministro.

Para o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, a polémica deve ser aproveitada para repensar todo o modelo de acesso ao ensino superior, que “não pode ser tão dependente das notas do ensino secundário”.

Para Jorge Ascensão, “o secundário deveria ser apenas terminal, porque acaba um ciclo de ensino, e certificante”. “Mas o que temos é um ensino classificativo, em que cada aluno tem uma classificação que lhe permite aceder ao ensino superior e isso acaba por condicionar o trabalho que se desenvolve ao longo do ano nas escolas, em que estão todos focados na notas e nas classificações e não na aprendizagem”.