Da Filosofia à Ergonomia, da Medicina Dentária às Energias Renováveis e Ambiente. São 28 os cursos, espalhados pelos sistemas de ensino público e privado, em que mais de metade dos alunos matriculados pela primeira vez desistiu ao fim de um ano de aulas. Podem ter ido para outro curso, outra instituição, ou abandonado mesmo o ensino superior. Esta amostra corresponde apenas a 2% do universo de mais de 1.300 cursos (públicos e privados) em análise, que funcionaram, pelo menos, até 2012/13, e fica bem longe da média nacional.

Parece não haver grande regra para estes casos de cursos que fixam poucos estudantes. Dos 28 cursos, 18 são em estabelecimentos públicos e 10 em privados; nove são em politécnicos e 19 universidades. A haver algum destaque será para a Universidade Aberta, que surge cinco vezes nesta lista, e a Universidade de Lisboa com quatro cursos nomeados. Há ainda três cursos de engenharia informática, um de informática e outro de gestão e sistemas de informação.

Há mesmo cinco cursos em que nem um terço dos alunos lá permaneceu após o primeiro ano. São eles Engenharia Informática na Universidade Lusíada (Privado) e no Instituto Politécnico de Portalegre; Medicina Dentária, na Universidade de Coimbra; Ciências da Linguagem na Universidade Nova de Lisboa e Higiene Oral no CESPU- Instituto Politécnico de Saúde do Norte (Privado), como pode ver na tabela mais abaixo com os 28 cursos e que foi possível extrair de uma base de dados agora disponibilizada pelo Ministério da Educação e Ciência (acessível a qualquer um no portal do Inforcusos).

E, sem explicação para os números, pode-se avançar com várias justificações possíveis. Podemos estar perante alunos que entraram nestes cursos, que não eram as suas primeiras opções, e mudaram para os que realmente queriam no ano seguinte, (na mesma ou noutra instituição); ou alunos que até queriam entrar para estes cursos mas que se desiludiram e acabaram por mudar só de curso dentro da instituição ou para o mesmo ou outro curso noutra instituição de ensino. Depois há ainda aqueles alunos que pura e simplesmente abandonaram o sistema de ensino superior por questões financeiras, para saírem do país, ou ainda outro qualquer motivo pessoal.

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Por exemplo, no curso de engenharia civil (em regime noturno) do Instituto Politécnico de Setúbal, 61% dos alunos ao fim de um ano de inscrição não estavam a frequentá-lo, mas também não foram encontrados em nenhum outro curso nem instituição. Ou seja, abandonaram o sistema de ensino. Já, por exemplo, no curso de engenharia da construção, mais de 46% trocou de curso na mesma instituição e outros 15% desistiram do sistema de ensino superior. E há ainda exemplos de cursos como o de Higiene Oral, no Instituto Politécnico de Saúde do Norte, em que o que mais contribuiu para a saída dos alunos do curso ao fim do 1.º ano foi a mudança para outra instituição de ensino superior (53,6%) e só depois o abandono do ensino superior (14,3%).

Do outro lado oposto, 13 cursos mantiveram ao fim de um ano todos os alunos que se matricularam pela primeira vez. Aqui contam-se nove privados – em destaque quatro cursos ligados à música.

Colocando estes números em perspetiva, pode-se sempre sublinhar que no conjunto de todos os cursos, a nível nacional, a situação dos alunos inscritos ao fim de um ano apontava para uma taxa de permanência no mesmo curso de 79,5%. De resto, 10,3% abandonaram o sistema de ensino e outros 10% trocaram de curso dentro do mesmo estabelecimento de ensino ou mudaram de instituição.

Estes dados – que em grande parte dos casos têm em conta os dois anos letivos de 2011/12 e 2012/13 – consideram apenas cursos que tiveram alunos inscritos no primeiro ano e pela primeira vez em 2012/2013 — e exclui alunos inscritos em programas de mobilidade internacional (Erasmus).

Cursos-Desistentes (1)

Os privados também dão más notas

Os dados agora tornados públicos permitem ainda saber qual a média final dos alunos em cada um dos cursos superiores, nas instituições públicas e privadas. E numa primeira análise o que salta logo à vista é que o Politécnico de Leiria lidera no top dos cursos com melhores classificações finais. Se nos restringirmos ao top 5, o Politécnico de Leiria aparece quatro vezes, com médias acima dos 16,7 valores, e o curso de Engenharia Física Tecnológica do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, em 3.º lugar. No Top 10, Leiria surge seis vezes mencionada.

O Observador tentou contactar o Instituto Politécnico e questioná-lo sobre esta matéria mas não obteve resposta até agora.

No outro extremo, das piores classificações finais, em 10 cursos, cinco são privados, com médias finais não superiores a 11,8 valores. Em causa estão cursos sobretudo de Direito e Solicitadoria.

Se calcularmos uma média ponderada dos vários cursos em instituições públicas e privadas chegamos à conclusão que as classificações finais são muito semelhantes: 13,68 valores no público e 13,49 no privado.

Estes dados referem-se às classificações finais quantitativas dos diplomados em cada curso nos anos letivos 2011/12 e 2012/13, mas só são considerados cursos que tiveram diplomados no ano letivo 2012/13.

Curso: F __ / M __

Há cursos em que quase parece que o pré-requisito é ser do sexo feminino ou masculino. Em 2013/2014, havia seis cursos em que os alunos eram todos homens: Gestão e Sistemas de Informação da Universidade Portucalense Infante D. Henrique (privado); Desenvolvimento Regional e Ordenamento do Território da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Oliveira do Hospital (público); Segurança Informática em Redes de Computadores da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Felgueiras (público); Direção Musical no Conservatório Superior de Música de Gaia (privado); Engenharia Mecânica no Instituto Superior Autónomo de Estudos Politécnicos (privado) e Energias Renováveis e Ambiente no Instituto Superior de Educação e Ciências (privado).

Por outro lado, havia cinco cursos cujos estudantes eram todas mulheres em 2013/2014: Música, variante de Canto, no Instituto Politécnico de Castelo Branco (público); Serviço Social na Lusófona do Porto (privado); Secretariado (Assessoria de Direção e Administração) Instituto Superior de Novas Profissões (privado); Educação Básica no Instituto Superior de Ciências Educativas (privado) e Psicologia na Universidade Europeia (privado).

Nenhum dos dados referidos neste artigo é novo, mas estas análises e comparações só agora são possíveis pois o Ministério da Educação e Ciência (MEC) disponibilizou a base de dados que está por trás do portal Infocursos, criado há um ano, e que permite aos jovens estudantes conhecerem com facilidade alguns detalhes sobre o ou os cursos pelos quais sentem interesse.