A China revelou no sábado a dimensão das suas reservas de ouro, uma decisão inédita que mostrou que estas subiram quase 60% desde 2009, para 1.658 toneladas. É o resultado de uma política de vários anos de aproveitar momentos de recuo no preço para reforçar as reservas. Isto não é, contudo, o que tem acontecido nos últimos meses: a China tem estado a vender ouro no mercado, têm indicado várias fontes do mercado, e essa é uma das razões para a forte quebra da cotação do ouro nas últimas semanas. A outra é que a Reserva Federal dos EUA estará prestes a subir a taxa de juro pela primeira vez desde 2006.
Cotação do ouro nos valores mais baixos dos últimos cinco anos
Os sinais de venda por parte da China e a menor procura por ouro como proteção contra os riscos de inflação, numa altura em que a Reserva Federal dos EUA parece caminhar a passos largos para a subida a taxa de juro, levaram a cotação do ouro a cair 14,3% face ao valor mais elevado do ano, tocado em meados de janeiro. Esta segunda-feira, o preço esteve a cair 4,2% para 1.115,77 dólares por onça. Em janeiro, chegou a negociar acima dos 1.300 dólares.
A dimensão das reservas chinesas, ainda que entre as maiores do mundo, ficou abaixo das expectativas de alguns analistas. A última informação que existia sobre as reservas chinesas datava de 2009, pelo que os dados agora divulgados indicam uma média de compras líquidas de 100 toneladas por ano. Alguns analistas, como os da GoldCore e da Sharps Pixley, apostavam num número ainda maior, pelo que estes especialistas, citados pela Bloomberg, veem como normal que exista uma correção no mercado.
O fator dominante na negociação do ouro tem, contudo, sido as pistas dadas sobre a presidente da Reserva Federal dos EUA, Janet Yellen, sobre o que o banco central norte-americano fará com as taxas de juro. O preço do ouro tem tido tendência de subida desde 2008, um movimento que se deve à especulação dos investidores sobre os riscos inflacionistas de ter o principal banco central do mundo (e outros) a avançar com estímulos monetários sem precedentes para combater as consequências da crise financeira. Com alguns observadores a apostarem que a primeira subida dos juros pela Fed desde 2006 virá já nos próximos meses, é menor o refúgio de quem vê no ouro uma forma de assegurar valor.
A tendência de descida deverá continuar, a avaliar pelas apostas dos investidores mais rápidos como os hedge funds. Segundo a Bloomberg, os gestores de fundos que investem não só em ouro mas em produtos complexos associados ao ouro estão a demonstrar o menor otimismo de sempre, pelo menos desde que os registos da Bloomberg começaram, em 2006.