Sete décadas depois da estreia, o filme “O Pátio das Cantigas” volta no fim do mês às salas de cinema em Portugal, uma comédia do realizador Leonel Vieira que é a primeira de três “homenagens” aos clássicos portugueses.
“Não posso repetir esse filme, então só posso fazer uma homenagem”, disse esta quinta-feira o realizador à Lusa, precisamente a uma semana da estreia.
O filme baseia-se no sucesso do que foi realizado em 1942 por Francisco Ribeiro, com atores como Vasco Santana, António Silva ou Ribeirinho. Mas é apenas isso, garante o realizador do novo “Pátio”: “Não refilmei o guião, distanciei-me muito, peguei em alguns elementos que mantive, que são para mim uma homenagem ao filme que nos inspira”.
E acrescenta Leonel Vieira: Fizemos um corpo totalmente novo, e acho que o nosso humor é renovado. São outros diálogos, as nossas cenas de humor estão noutras cenas e não tentei refazer as cenas emblemáticas.
Apesar da distância temporal e do distanciamento do original, diz o realizador que se percebe que um é inspirado no outro, que mais não seja pelo título, pelo nome das personagens, pelas “pequenas homenagens” dentro do filme.
É certo que ambos se passam num bairro de Lisboa, o pano de fundo para o cruzamento das várias personagens. Mas lembra o diretor que um contava o Portugal da década de 40 do século passado e que o outro conta a Lisboa e o Portugal atual.
E conta-a através de uma dúzia de personagens, de atores conhecidos, alguns ligados à comédia e outros nem tanto e todos escolhidos a dedo por Leonel Vieira.
Como o ator Miguel Guilherme, que “só podia ser” o irascível Evaristo, dono de uma drogaria no filme de há 70 anos. Miguel Guilherme, agora um Evaristo dono de uma mercearia “gourmet”, não esconde a admiração pelos clássicos do cinema português mas admite que a maioria das pessoas com menos de 30 anos nunca sequer os viu.
“Portanto, ou veem este e espero que achem graça e depois saltem para os antigos, que têm mais graça, ou ficam-se por aqui. Eu recomendaria ver os dois”, disse também à Lusa, admitindo que tem um pouco de medo da comparação entre o “seu” Evaristo e o outro, interpretado por António Silva, ainda que seja também “uma alegria muito grande” fazer esse papel.
O ator Rui Unas é outra das primeiras escolhas. No primeiro “Pátio” Carlos Bonito era o músico “galã” mas neste só o mesmo nome assenta num Rui Unas que faz de bombeiro, que pinta a barba e que usa lentes de contacto. “Espero que se riam”, e que percebam que Carlos Bonito também tem os seus encantos e fragilidades, diz à Lusa.
Como Miguel Guilherme também Rui Unas foi um fã dos clássicos, que via “quando era mais puto”. E frisa que este “Pátio das Cantigas” não é um “remake” nem um decalque, antes uma homenagem. “Quem conhece o original vai achar graça, quem vê pela primeira vez se calhar vai ter curiosidade em conhecer o original, é um filme vencedor a todos os níveis.”
Um otimismo partilhado por um realizador que tem a cabeça “cheia de projetos”, que foi muito instado a fazer algo assim e que acabou por abraçar um projeto que foi ao seu encontro, através da proposta de um amigo.
“Quero que seja um êxito logo” (o original não foi bem recebido quando estreou), não porque a critica o diga mas porque as pessoas gostem. “Não tentei ser génio e inventar em Portugal a melhor comédia do mundo. Só tentei fazer uns bons filmes de comédia e recuperar a comédia para Portugal”.
Leonel Vieira fala no plural. Porque na próxima quinta-feira quem assistir ao filme já verá o anúncio de outro, “O Leão da Estrela”, que estará nas salas pelo Natal. E nessa altura já se verão as primeiras imagens de “A Canção de Lisboa”, com estreia no próximo ano.
Tal como o “Pátio” não são os clássicos de há sete décadas nem cópias desses filmes. São comédias novas. São homenagens.