O Sporting foi o primeiro, e até agora o único, entre os grandes, a apresentar, tintim por tintim, os resultados financeiros da última época. O Relatório e Contas de 2014/2015 mostra logo um dado positivo para os leõesum resultado líquido positivo de 19,3 milhões de euros, segundo melhor registo desde que o clube de Alvalade formou uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD), em 1997, e passou a ser cotado em bolsa. E mais: num ano, a administração liderada por Bruno de Carvalho reduziu o total do passivo em 38,2 milhões de euros (está agora nos 228,3 milhões). Mas, em seis meses, o Sporting também aumentou em 10,2 milhões de euros o valor total do crédito contraído com financiamentos bancários.

O documento, enviado a 8 de setembro à Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM), mostra que a SAD leonina tinha, a 30 de junho (data até à qual foi contabilizado o exercício), 120,7 milhões de euros contraídos em empréstimos para “para fazer face às necessidades financeiras do Grupo Sporting”. Ao todo, o clube tem quatro financiamentos em vigor, sendo que nenhum atinge a maturidade — ou seja, a data em que o Sporting tem de pagar o que deve aos credores — antes de janeiro de 2016. O maior empréstimo foi contraído junto de BCP/Novo Banco, no valor de 38,1 milhões de euros, e os leões têm ainda outros dois financiamentos com estas entidades bancárias: um avaliado em 787 mil euros, o restante a rondar os 25,8 milhões de euros.

SportingEmpréstimos2014-2015

O segundo maior financiamento feito pelo Sporting é de 29,3 milhões de euros, também junto a BCP/Novo Banco, embora esteja classificado como um empréstimo obrigacionista. Em março, aquando da apresentação do Relatório e Contas do 1.º Semestre de 2014/2015, o valor total do crédito contraída pela SAD dos leões estava nos 110,5 milhões de euros — o site da CMVM já não disponibiliza o documento das contas anuais de 2013/2014. Logo, em seis meses, o clube aumentou em 10,2 milhões de euros o montante total de financiamento externo. O Sporting, porém, ressalva que tudo está em ordem com o acordo de reestruturação financeira firmado, em novembro de 2014, com o BCP/Novo Banco.

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Foi no seguimento desse acordo, aliás, que a SAD do clube prestou várias garantias para os empréstimos que contraiu, que vão desde os lucros com direitos televisivos ao direito de superfície sobre frações de terreno localizadas junto ao Estádio Alvalade XXI, em Lisboa. Eis as garantias:

SportingGarantias

A indemnização que podia ir aos seis milhões e que, afinal, não passará dos três

Em três arranques de época com Bruno de Carvalho, o Sporting mudou de treinador três vezes. A primeira aposta de raiz do presidente foi Leonardo Jardim, que deixou o clube no segundo lugar do campeonato e só não ficou por lá porque, às tantas, apareceram os milhões do AS Monaco. Em maio de 2013, o clube do principado ofereceu-lhe cinco vezes mais euros do que os que o técnico recebia no Sporting, e lá foi ele. Restava-lhe mais uma época por cumprir no contrato, o mesmo que estipulava o  pagamento de uma indemnização de três milhões de euros caso Jardim saísse para um clube estrangeiro.

Foi isso que, a 20 de maio de 2013, o presidente garantiu. E adiantou algo mais: “Os possíveis sucessos de Leonardo Jardim podem ainda melhorar a indemnização ao Sporting para seis milhões de euros, mediante os títulos nacionais e internacionais que venha a conquistar.” No Relatório e Contas de 2014/2015, contudo, a SAD leonino revela que, até 30 de junho deste ano, recebera apenas uma verba a rondar os 2.400 euros, à qual, no máximo, “poderá acrescer um montante até três milhões de euros”. Ou seja, das duas uma: ou a tal variável dos títulos conquistados por Leonardo Jardim, no AS Monaco, se aplicava só à primeira época do treinador no clube monegasco (nada venceu), ou a cláusula não era bem como o presidente, na altura, a explicou.

Os processos em tribunal

O Sporting está hoje envolvido em nove casos judiciais e todos são explicados no documento enviado à CMVM. Três processos constituem Ações de Responsabilidade Civil que a atual administração da SAD leonina interpôs à antecessora, liderada por José Godinho Lopes — os três casos referem-se às contratações dos jogadores Alberto Rodríguez, Marat Izmailov e Jéffren Suárez. Os processos ainda decorrem nos tribunais e o Sporting exige o pagamento de indemnizações que, no total, rondam os 7,6 milhões de euros.

Depois há o processo contra a Doyen Sports Sports. Na base do caso está a rescisão por justa causa que o Sporting fez aos contratos que tinha com este fundo de investimento, relativamente aos passes de Marcos Rojo e Zakaria Labyad. Em ambos os casos, os leões pagaram o montante inicial investido pelo fundo aquando da contratação dos jogadores. Mas, no caso de Rojo, a Doyen exige que o Sporting lhe pague uma fatia de 75% dos 20 milhões de euros pelos quais o clube de Alvalade vendeu o argentino ao Manchester United, em 2014. Ambas as partes recorreram ao Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) e foram ouvidas em junho. O Sporting acredita que “deste processo não resultarão impactos negativos materialmente relevantes”.

Os restantes cinco processos judiciais referem-se a uma disputa com o FC Porto, devido aos direitos económicos de João Moutinho; a uma ação interposta por dois antigos trabalhadores do Sporting (Pedro Sousa e Irene Palma); um processo instaurado por Carlos Freitas, ex-administrador da SAD nos tempos de Godinho Lopes; outro interposto pela Silcoge, empresa que explorava o espaço da Loja Verde (este caso até já chegou ao Supremo Tribunal de Justiça); e, por último, uma disputa entre o Sporting e Valeri Bojinov, em que o clube já foi condenado a pagar cerca de 600 mil euros ao avançado búlgaro, mas, entretanto, recorreu da decisão no TAS.

*Até 11 de setembro, o FC Porto não tinha enviado um Relatório e Contas relativo a 2014/2015. Já o Benfica apenas apresentou, a 9 de setembro, um comunicado a dar contra de algumas informações económico-financeiras da época passada.

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