O antigo aeroporto de Tempelhof em Berlim, na Alemanha, construído durante a expansão nazi e desativado desde 2008, vai servir agora para oferecer asilo aos milhares de refugiados que nas últimas semanas têm chegado ao país, avança o The New York Times.
O emblemático aeroporto terá uma nova utilização e servirá de lar para os refugiados recém-chegados à Alemanha, que espera receber até ao final do ano cerca de 800 mil migrantes. O país regista cerca de chegadas por dia, estando os refugiados a ser colocados provisoriamente em campos onde têm de viver em tendas, uma opção que é tida como último recurso e que é para o porta-voz da cidade, Bernhard Schodrowski, reveladora de uma situação urgente.
O aproximar do inverno adensa a preocupação e a necessidade de serem encontrados novos abrigos mais resistentes. As autoridades da cidade confirmaram na semana passada os planos para tornar o aeroporto num novo espaço para acolher refugiados.
Um aeroporto com muito que contar
Tempelhof tem um passado que fez dele um ícone de Berlim. O aeroporto começou a funcionar em 1923 e nos anos 30, com a ascensão de Adolf Hitler ao poder, tornou-se num dos mais modernos aeroportos da Europa, com um elevado tráfico de passageiros e volume de mercadorias.
Mas o seu momento mais marcante foi quando, durante os primeiros anos de Guerra Fria, entre 1948 e 1949, funcionou como tábua de salvação para todos que viviam na parte ocidental de Berlim e que ficaram isolados do mundo quando Estaline decidiu bloquear todos acessos rodoviários e ferroviários à cidade.
Dividida no final da II Guerra em quatro zonas, cada uma delas sob administração de uma das potências vencedoras – Estados Unidos, Reino Unido, França e URSS -, Berlim era então uma espécie de ilha no coração da Alemanha sob controle soviético, a futura Alemanha de Leste. Com o bloqueio, os soviéticos pretendiam obrigar as outras três potências a retirarem-se da cidade, que ficaria exclusivamente nas suas mãos e deixaria de constituir a porta de saída de muitos que fugiam dos países entretanto caídos sob domínio comunista. Essa sangria só seria estancada, em 1961, com a brutal construção do Muro de Berlim.
Este momento dramático, que ficou conhecido como o Bloqueio de Berlim, que durou de 24 de junho de 1948 a 11 de maio de 1949, obrigou a uma resposta firme por parte das potências ocidentais, que organizaram a maior ponte aérea da história, a “Ponte Aérea de Berlim”. Durante quase 11 meses foi de avião que foi possível abastecer a população da zona ocidental da cidade.
Tratou-se de uma das mais grandiosas ações da história da aviação, que envolveu as forças aéreas britânica e americana que nesse período transportaram toneladas e toneladas de bens, dos mais básicos alimento aos indispensáveis combustíveis, para a metade de Berlim que Estaline quisera cortar do mundo. Nunca tanta mercadoria tinha sido transportada por via aérea: foram realizados mais de 200 mil voos, chegando a Berlim, em média, 4,7 mil toneladas de produtos por dia. O sucesso da operação, que os soviéticos nunca pensaram que pudesse ser montada, acabou por levá-los a desistir do bloqueio.
Situado no tecido urbano de Berlim, este emblemático aeroporto de Tempelhof continuou a prestar bons serviços até ao ser encerramento em 2008. O seu espaço foi então transformado num grande parque público, inaugurado em 2010, que recebe feiras, concertos e várias atividades culturais.