Pedro Passos Coelho e António Costa voltam a encontrar-se esta quinta-feira para um segundo round do debate a dois. Não são só os argumentos que merecem ser trabalhados, a linguagem não-verbal é essencial, defende Rui Mergulhão Mendes, especialista em linguagem não verbal e programação neuro-linguística, que, a pedido do Observador, fez a análise das expressões dos dois candidatos a São Bento. Emitido em direto pelas rádios, o frente a frente será posteriormente retransmitido pelas televisões e, por isso, veremos se estes erros serão corrigidos.
Pedro Passos Coelho
“Pedro Passos Coelho tem associados alguns aspectos não verbais que não beneficiam a sua forma de comunicar”, nomeadamente a expressão de “desprezo”, que foi visível no debate com Costa, através da “movimentação assimétrica da face, elevando mais um dos cantos da boca”, aponta Rui Mergulhão Mendes. Isso aconteceu quando ouviu o socialista dizer que, nos últimos quatros anos, o país recuou 13 ou quando ouviu dizer que “a procura está a aumentar à custa do endividamento e das importações”.
Também o abdicar do “contacto ocular”, a que Passos Coelho recorreu várias vezes enquanto António Costa estava a falar, “pode revelar algum desprezo” pelo que estava a ser dito. Aqui, o especialista diz que pode ser negativo em dois pontos distintos. Primeiro, na perceção dos telespectadores: “a atitude não é bem acolhida” dado que as pessoas, “inconscientemente”, reconhecem “o dever de escutar com respeito os outros”. Segundo, deixou o caminho aberto para António Costa “gerir” da forma que entendeu “o tom, o ritmo e a autoridade que quer empreender ao debate”.
Na verdade, Passos Coelho optou por escrever, tirar apontamentos, enquanto Costa mostrava gráficos sobre o PIB e o mesmo aconteceu, por exemplo, quando o socialista disse que o atual Governo quis “ir além da troika” por questões ideológicas.
Um outro aspeto negativo da comunicação não verbal do atual primeiro-ministro, identificado por Mergulhão Mendes, é o facto de ter feito afirmações positivas ao mesmo tempo que movimentava a cabeça de forma negativa. O especialista diz que se fica sem saber no que acreditar: naquilo que se ouviu ou naquilo que se viu.
Outro sinal pouco positivo são as palmas das mãos viradas para cima. Rui Mergulhão Mendes identifica este gesto como sinal de “aceitação”, o que acaba por transmitir, da parte de Passos Coelho, “pouca autoridade nalguns temas”. E onde foi notório? Por exemplo, quando Pedro Passos Coelho diz ser “extraordinario que o PS diga que foi o PSD a chamar a troika”.
No entanto, notou-se mais assertividade e mostrou-se mais “interventivo” quando o “tema era mais ‘quente'”, algo visível através da inclinação do corpo para a frente “como que a querer vincar uma posição de forma mais veemente”, nota o especialista. Este gesto foi evidente quando afirmou que Portugal gerou mais criação de riqueza do que outros países em situação semelhante ou quando referiu que foi o ex-ministro das Finanças do PS, Fernando Teixeira dos Santos, quem chamou a troika ou quando disse que Portugal está a bater recordes de exportações.
Por fim, outro gesto contraditório. Apesar de ter dito que o passado tinha muito interesse, o candidato do PSD colocou, ao mesmo tempo, as mãos viradas para a frente como que dizendo ‘stop’, indicando que não se dispunha a falar mais sobre esse assunto. O mesmo aconteceu quando afirmou que Portugal “teve um processo austeritário porque precisava dele”.
António Costa
À semelhança de Passos Coelho, António Costa demonstrou alguma “incongruência” durante o debate quando, ao mesmo tempo que expressava afirmações positivas, lhe apareciam rugas horizontais na testa. Uma expressão associada a “emoções de carácter negativo”. Essas rugas foram evidentes em várias ocasiões, nomeadamente, quando afirmou que o programa do PS “tem lá as medidas que explicam como é que o emprego vai crescer”.
O especialista em comunicação não verbal notou, também, que é frequente Costa “visar diretamente” o candidato do PSD mantendo o contacto ocular, “como que o vinculando ao que estava a dizer, querendo tornar as suas afirmações como ‘verdadeiras'”. No entanto, Mergulhão Mendes refere que o “contacto excessivo também pode ser visto como arrogância”, podendo o público entendê-lo ora como “assertivo, ora como agressivo”, numa interação em que a agressividade não é vista como “positiva”, ao passo que o respeito é bem acolhido.
Essa tentativa de vinculação foi notória quando António Costa afirmou que o primeiro-ministro entrega “o país com menos riqueza do que aquela que recebeu” ou quando explicou que “ninguém quis que a troika viesse a não ser para ser para executar um programa de retrocesso do Estado social”.
António Costa evidenciou, também, não estar disposto a falar dos seus erros quando levantou a mão virada para a frente ao mesmo que tempo que referia: “Todos aprendemos com os erros”.
O candidato pelo Partido Socialista teve, ainda, segundo o especialista em comunicação não verbal, momentos em que“ganhou confiança”, que ficaram marcados pela abertura dos braços “a toda a largura da sua mesa”. Por exemplo, quando acusou a coligação de estar a propor, com a sua reforma das pensões, a “maior aventura financeira para o futuro”.
Em geral, “o momento de maior crispação” aconteceu quando António Costa apontou o “dedo em riste para Passos Coelho” mais agressivamente, o que levou a um reparo do atual primeiro-ministro. Isto aconteceu durante o debate sobre a sustentabilidade das pensões e o corte ou não de 600 milhões de euros.
Segundo Rui Mergulhão Mendes, o líder do PS foi “mais assertivo e mais ‘agressivo'”, algo que o especialista pensa ser “expectável” dado que António Costa se encontra na oposição.
Quanto a Pedro Passos Coelho, Mergulhão Mendes considera que o presidente do PSD deveria corrigir “alguns aspectos na forma como utiliza o seu corpo” pois, na maioria das vezes, “quando o faz em público não o faz da maneira mais correcta”.