— Espelho meu, espelho meu, há algum empresário no desporto mais poderoso do que eu?
— Sim, o Scott Boras…

Jorge Mendes não tem razão para ser infeliz e quebrar o seu espelho em mil estilhaços. Quando esta semana saiu a lista dos empresários mais influentes e ricos do desporto, Mendes surgiu em segundo lugar, tendo amealhado perto de 85 milhões de euros em comissões. Só em 2015. No futebol, não há empresário que ganhe tanto quanto ele. Mendes é o agente de Cristiano Ronaldo, James Rodríguez ou Di María, foi intermediário de dezenas de transferências no verão e, por tudo isso, o epíteto de “super empresário” assenta-lhe que nem uma luva.

Mas há um empresário, quase desconhecido por cá, o “Jorge Mendes” de um desporto que em Portugal mal se joga ou, tão pouco, se lhe conhecem as regras. Um tal de Scott Boras, que a Forbes diz ter recebido perto de 104 milhões de euros em comissões no decorrer de 2015. Coisa pouca. Mas quem é, afinal, Boras?

Sabe-se dele que tem 62 anos, nado e criado em Sacramento, na California, filho de um produtor de leite, e que resolveu estudar farmácia na University of the Pacific. O basebol, a paixão da meninice de Boras, tornou-se coisa séria nos tempos da universidade. Fez parte da equipa de basebol e detém, até hoje, um recorde que estabeleceu em 1972, quando conseguiu uma média de .312 batidas numa época, tendo sido ainda o basebolista mais valioso desse ano. Em 1995, Scott Boras entrou para o “Hall of Fame” da universidade californiana.

Boras já negoceia contratos e transferências de basebolistas desde meados de 1982. Se Shin-Soo Choo, Jacoby Ellsbury, Prince Fielder, Matt Holliday, Alex Rodriguez, Max Scherzer ou Jayson Werth são, até hoje, dos jogadores mais bem remunerados na história da Major League Baseball (MLB), devem-no muito ao seu talento, claro, mas igualmente ao talento de Boras para negociar. Hoje, gere a carreira desportiva de 175 jogadores e sua teia de influência move-se não só pelos 30 clubes da MLB, como pelos demais clubes da Minor League, a liga secundária do basebol norte-americano.

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Mas voltando à ascensão de Scott Boras. Quando saiu da faculdade com o canudo de farmacêutico, no final da década de 1970, não foi trabalhar naquela área. Nada disso. Tinha-se tornado profissional do basebol, ainda que a jogar na Minor League, em clubes como o St. Louis Cardinals ou o Chicago Cubs. Chegou a ser convocado para integrar um “All-Star Game”, onde só estavam os melhores basebolistas da Florida, mas uma lesão grave no joelho impediu-o de estar presente, uma lesão que, mais tarde, levá-lo-ia também a encostar o taco e a retirar-se do desporto.

Do desporto jogado, mas não dos negócios do basebol. Em 1982, voltou às cadeiras da University of the Pacific para estudar direito. Nessa altura já trabalhava para o escritório de advogados Rooks, Pitts & Poust, trabalhando sobretudo com clientes do negócio farmacêutico. Ainda na Rooks, Pitts & Poust, aceitou negociar a transferência de Mike Fischlin para os Cleveland Indians e de Bill Caudill para os Seattle Mariners. Os dois basebolistas, entretanto retirados, trabalham hoje para Scott Boras. A transferência de Caudill, em 1983, foi por muitos anos, uma das que registou um contrato mais valioso: quase sete milhões de euros. Isto na década de 1980. E Bill Caudill nem era particularmente talentoso.

Feita a transferência de Caudill, Boras deixou a sociedade de advogados onde trabalhava e fundou a Boras Corporation. O curso de advocacia também ficou pelo caminho. Valores mais altos (bem mais altos e monetários) se levantavam. O empresário mais poderoso do mundo, para a revista Forbes, é um especialista em negociar contratos. Disso não há dúvida. E tanto o faz com jogadores profissionais, livres ou em fim de contrato, como com amadores, miúdos vindos das equipas universitárias, os chamados rookie, que entram no draft (um sorteio, em que os clubes têm uma ordem para escolher os jogadores mais cotados daquele ano, e em que, escolhidos os jogadores, Scott Boras vai negociar com os clubes quanto é que eles vão receber) sem um curriculo que lhes permitisse pedir mundos e fundos no primeiro contrato que realizam profissionalmente.

Mas ele é também um recordista. Vamos falar em dólares. O primeiro jogador a ter um contrato acima dos 50 milhões de dólares (57,7 milhões, num contrato de cinco anos) na história da MLB foi Greg Maddux, em 1997. O primeiro a ter um contrato acima dos 100 milhões foi Kevin Brown (105 milhões de dólares por sete anos de contrato), em 1998. E o primeiro a ter um contrato acima dos 200 milhões foi Alex Rodriguez. Rodriguez recebeu 252 milhões de dólares por 10 anos de contrato em 2000. Hoje, nos New York Yankees, quando Alex Rodriguez renegociar o seu contrato, é provável que ultrapasse a barreira dos 300 milhões de euros. E quem é que negociou todos estes contratos? Scott Boras, pois claro.