As quotas de pesca da sardinha, obrigaram muitos barcos a parar mais cedo este ano. E as recomendações para o próximo ano é que se pesque ainda menos. O volume de sardinha pescado nos últimos anos tem diminuído drasticamente, não só porque são impostas mais restrições à pesca, mas porque existe, efetivamente, menos sardinha para pescar. Mas a escassez de sardinha não é o único problema que os pescadores europeus enfrentam. Aniol Esteban, diretor do programa ambiental da New Economics Foudation, esteve na Fundação Calouste Gulbenkian, na passada sexta-feira, para falar do problema e o Observador aproveitou para falar com ele.

O maior problema apontado por Aniol Esteban é que a intensidade da pesca não permite que os stocks de peixe no oceano atinjam o máximo potencial, para assim tirar os máximos benefícios económicos da pesca. “Os stocks de peixe são um recurso renovável. Se os deixarmos crescer teremos mais peixe, mais lucro e mais trabalho”, lembra o biólogo e especialista em economia do ambiente. E o modelo que veio apresentar a Lisboa é uma demonstração disso.

Nesta aplicação interativa, acessível a todas as pessoas, pode-se explorar os impactos sócio-económicos das frotas pesqueiras tanto na Europa em termos globais, como numa comparação entre os países. Fazendo variar alguns dos fatores da equação, é possível avaliar os impactos no emprego, no lucro ou na poluição.

Os consumidores devem fazer um consumo sustentável e responsável de peixe e devem fazer pressão sobre os governos para que as melhores opções sejam tomadas. Ainda assim, Aniol Esteban retira o peso maior de cima dos consumidores e coloca-o sobre os decisores políticos – aqueles que estabelecem as quotas e que, tendencialmente, definem valores 24% superiores às recomendações da comunidade científica. “Em média, sete em cada dez stocks de peixe são pescados acima da quota.” Mesmo assim a imposição das quotas têm tido efeitos positivos na recuperação das populações de peixes.

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Aniol Esteban recomenda que na distribuição das quotas, sejam favorecidas as embarcações que poluem menos, que têm menos impactos ambientais – que não destroem o fundo dos oceanos – e que empregam mais pessoas. O biólogo defende que deveria haver mais fiscalização das quotas e do tamanho do pescado, mas que acima de tudo não devíamos admitir pescar acima dos limites recomendados.

E desengane-se quem considera que Aniol Esteban é um defensor extremista dos peixes e que não os quer ver pescados. Ele assume que adora comer peixe e diz que provavelmente está nesta profissão porque não quer deixar de o fazer.

A conferência de sexta-feira foi promovida pela Iniciativa Oceanos, da Fundação Calouste Gulbenkian. A Iniciativa tem como objetivos “a proteção, conservação e boa gestão dos oceanos e dos ecossistemas marinhos”. Para conseguir garantir um desenvolvimento económico sustentável lado a lado com o bem-estar humano, a Iniciativa Oceanos acenta em três domínios gerais: investigação científica, perceção pública e promoção de novas políticas.