Aaahhh, 1985… As pistas de dança cheias de roupas brilhantes, cabelos com permanentes e chumaços nos ombros. Nos discos de vinil que rodavam na aparelhagem tanto podiam estar sonoridades dançáveis como glam metal ou a pop de Madonna, Prince ou Michael Jackson — três dos nomes que ainda hoje mais vendem dentro da indústria discográfica. Andamos há 30 anos a idolatrar as mesmas estrelas da cultura pop? O Observador pôs-se a olhar para trás e recorda as músicas, os programas de televisão e os filmes favoritos dos portugueses (e não só) em 1985.
Havia razões para celebrar nas pistas de dança, sob uma bola de espelhos. Portugal despedia-se do FMI pela segunda vez na sua história (e ainda ninguém sabia que haveria uma terceira). No governo, tinhamos políticos em ascensão: Rui Machete era ministro da Defesa do Bloco Central e Cavaco Silva substituía Mário Soares no cargo de primeiro-ministro.
Lá fora, o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan e a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher liberalizavam as economias. Na Europa, a Comunidade Económica Europeia ganhava dois novos membros: Portugal e Espanha assinaram o acordo de adesão, que entraria em vigor a 1 de janeiro de 1986.
Em 1985, os adeptos de futebol gritavam por um argentino chamado Diego Maradona. Indiferente a tudo isto, nascia na Madeira um bebé a quem os pais deram o nome de Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro.
Mas, sejamos sinceros: o que interessa o governo, a política internacional, a economia ou o futebol quando comparados com uma música chamada “We are the World”?
O que ouvíamos
“We are the World”
A fome em África impressionou Michael Jackson e Lionel Richie, que juntaram 45 grandes músicos no projeto USA for Africa e fizeram um disco no início do ano, na tentativa de conseguirem receitas para o continente. O único single do álbum, “We Are The World”, foi o mais vendido daquele ano. Em junho aconteceria outro grande evento solidário, o “Live Aid”, organizado por Bob Geldof e Midge Ure.
https://www.youtube.com/watch?v=M9BNoNFKCBI
“Take on Me”
A música viu o seu impacto crescer nos anos 80 muito por causa da popularidade dos videoclips. A MTV tinha sido criada em 1981 e as bandas começavam a perceber que o esforço de gravar vídeos para os singles compensava. Foi precisamente em 1985 que os noruegueses a-Ha lançaram “Take On Me”. Se a melodia eletropop foi a grande responsável por pôr os portugueses a gastar os seus escudos no CD Hunting High and Low, o videoclip surpreendeu o mundo com a sua técnica totalmente inovadora para a época.
“Like a Virgin”
“Like a virgin, touched for the very first time“. Quem passou por 1985 e não celebrou ou não se escandalizou com este sucesso de Madonna, andou desatento. Com o single “Like a Virgin”, do álbum com o mesmo nome, aquela rapariga bonita e ousada conquistou o primeiro lugar das tabelas nos Estados Unidos, na Austrália, e, claro, em vários países europeus. Trinta anos depois, Madonna ainda vende.
https://www.youtube.com/watch?v=zHW5RVvg2v4
“Homem do Leme”
O rock português viveu um boom nos anos 80, com o aparecimento de Rui Veloso, António Variações, UHF, Táxi, Salada de Frutas ou GNR. Em 1985, os Xutos e Pontapés lançaram o seu segundo disco, Cerco. É lá que se encontra uma das músicas mais icónicas da banda, “Homem do Leme”, que ainda hoje passa com frequência nas rádios.
“Dunas”
Por falar em GNR, a banda portuense lançou em 1985 “Dunas” Para além de ser uma música quase obrigatória para quem começa a aprender a tocar guitarra, o videoclip é bastante avançado para a época, por representar um casal adolescente homossexual.
O que víamos na televisão
“Hermanias”
Piiiiiii! Um jovem dos dias de hoje que ligasse a televisão nos anos 80 para ver um destes videoclips e encontrasse este barulho irritante, ou uma mira técnica colorida, ia pensar que o aparelho estava avariado. Nada disso. Era só a emissão que tinha terminado. Porque, sim, a televisão portuguesa, com os seus dois únicos canais da RTP, fechava. Falar da programação desta altura sem mencionar Herman José é o mesmo que enumerar as telenovelas brasileiras mais icónicas e deixar de fora “Gabriela”. Depois do sucesso de “O Tal Canal”, o humorista surgiu com “Hermanias”, onde apareceram pela primeira vez personagens como Serafim Saudade, ao lado de outras que já vinham de trás, como o Menino Nelito e o portista Estebes.
https://www.youtube.com/watch?v=UHHDrf9p2PY
“Duarte e Companhia”
Também em 1985 a RTP estreou uma série de comédia protagonizada por um detetive aventureiro e destemido chamado Duarte (Rui Mendes), sempre acompanhado por Tó (António Assunção) num velhinho Citroën 2CV. “Duarte e Companhia” teve cinco temporadas e deu muito trabalho aos detetives protagonistas, pela quantidade de bandidos que tiveram de enfrentar, com destaque para Rocha, interpretado por António Rocha, que morreu em janeiro deste ano.
“MacGyver”
Em setembro, a rentrée televisiva do canal norte-americano ABC fez-se com uma série de que ainda hoje se fala. “MacGyver” seguia as aventuras do agente secreto Angus MacGyver, interpretado por Richard Dean Anderson. A cada episódio, os nossos olhos assistiam, entre o maravilhado e o incrédulo, à forma criativa (impossível?) como ele se desembaraçava das piores armadilhas recorrendo apenas a um guarda-chuva velho e a uma corda. A série marcou tanto que a expressão “to pull a MacGyver” entrou no léxico anglo-saxónico. A série também chegou a Portugal e conquistou muitos fãs, entre os quais Cavaco Silva, que em 1991, quando era primeiro-ministro, disse que este verdadeiro mestre do desenrascanço tinha “as qualidades de que um político precisa”.
“O Justiceiro”
Outra série norte-americana a fazer sucesso mundial foi “Knight Rider”, que chegaria a Portugal mais tarde com o nome “O Justiceiro”. Toda a gente, tivesse ou não carta de condução, punha travões a fundo para ver o agente Michael Knight (David Hasselhoff) combater o crime. Só isso? Claro que não. O que causava fascínio era o seu grande aliado, o carro futurista dotado de inteligência artificial chamado K.I.T.T. e que falava.
“Os Soldados da Fortuna”
Em Portugal, a série “The A-Team” chamava-se “Os Soldados da Fortuna” (tentemos esquecer a tradução brasileira, “Esquadrão Classe A”, que a TVI passou na década de 1990). A história de um grupo de ex-comandos do exército norte-americano transformado em mercenário teve cinco temporadas. Podemos até esquecer os nomes dos personagens (exceto o do sargento Bosco Baracus, imortalizado por Mr. T), mas a música do genérico ninguém nos tira.
O que víamos no cinema
“Rambo”
No cinema houve muitos heróis americanos, sobretudo a combater soviéticos, cubanos e vietnamitas. Ou seja, os anos 80 foram um paraíso para Sylvester Stallone. Só em 1985, lançou dois filmes, cada um da sua saga. Enquanto pugilista Rocky Balboa, pudemos vê-lo no cinema com “Rocky IV”, a vingar o amigo Apollo Creed, que tinha sido morto em combate pelo soviético Drago. Meses antes saiu “Rambo II — A Vingança do Herói”, segundo filme protagonizado pelo ex-soldado americano John Rambo, onde não faltam tiros nem referências à Guerra do Vietname.
“Comando”
Também era um herói, também era violento e também era musculado. Depois de em 1984 ter sido “O Exterminador Implacável”, Arnold Schwarzenegger matou em 1985 para cima de 80 personagens no filme “Comando”. Mais ex-soldados, mais mercenários, mais tiros. O blockbuster americano perfeito dos anos 80.
“Regresso ao Futuro”
Uma das trilogias mais bem-sucedidas do cinema começou em 1985, embora só tenha chegado a Portugal no ano seguinte. Em “Regresso ao Futuro”, o adolescente Marty McFly (Michael J. Fox) viaja na máquina do tempo mais cool de sempre, um carro DeLorean, com destino a 1955. O problema é quando Marty conhece os pais e a mãe se apaixona por ele.
“Os Goonies”
“Xiii, os Goonies!”. Eis uma exclamação típica da geração que tem hoje pouco mais de 30 anos quando se fala deste filme, produzido por Steven Spielberg e realizado por Richard Donner. Em “Os Goonies” conta-se a aventura de Mikey, Mouth, Brand, Stefanie, Data, Chunk e Andy, um grupo de miúdos na caça a um tesouro. Vale a pena ver o trailer só para recordar Sean Astin, o hobbit Samwise Gamgee do “Senhor dos Anéis”, aqui ainda uma criança.
“Ghostbusters”
“Who you gonna call?”. Esta é a pergunta que ainda hoje, 30 anos depois, os cinéfilos portugueses continuam a fazer. Os caça-fantasmas Bill Murray, Dan Aykroyd e Harold Ramis estrearam-se em Portugal a 21 de dezembro de 1984 e em 1985 transformaram-se num tema inescapável de conversa. Em 2016 chegará aos cinemas o terceiro filme da saga, protagonizado só por mulheres. Ou seja, em breve voltará a ouvir-se numa sala de cinema esta banda sonora: