O Futebol Clube do Porto e o Belenenses vinham de encontros em casa, europeus, mas com resultados diferentes. Enquanto que os dragões de Lopetegui venceram o Chelsea de Mourinho por 2-1, os azuis do Restelo foram goleados (4-0) pela Fiorentina de Paulo Sousa.

Na Liga, também estão em lugares opostos. O FC Porto é líder, par a par com o Sporting, e o Belenenses, que até começou bem a época, com uma qualificação (inédita) para a fase de grupos da Liga Europa, só conseguiu uma vitória em seis jogos, sendo, até ver, e a par com o Vitória de Setúbal, um verdadeiro “empata”: são quatro as partidas em que só somou um ponto.

Lopetegui queria vencer, desse lá por onde desse, pôr pressão o Sporting que só mais tarde ia receber o Vitória de Guimarães em Alvalade, manter-se líder, e deixar o Benfica, ainda que temporariamente (o jogo na Madeira foi adiada devido ao nevoeiro), a cinco pontos. Para isso, o onze mais defensivo que defrontou o Chelsea, viu sair Martins Indi da lateral e entrar para o seu lugar um defesa mais ofensivo, Layún, e não precisou do duplo pivô Rúben Neves-Danilo Pereira, entrando o endiabrado (e goleador, a ver pela amostra dos últimos jogos) Corona na vez do ex-Marítimo.

O Belenenses, por sua vez, não tinha um ponta-de-lança fixo, mas teve sempre duas lanças, velozes, apontadas à frente: Luís Leal e Kuka. Sturgeon, nada e criado na Caparica mas com apelido britânico nas costas, estava em todo o lado no meio-campo ofensivo, e o restante trio deste quarteto, mais recuado que ele, com Carlos Martins, Rúben Pinto e André Sousa, era demasiado macio, talvez, faltava-lhe músculo, sim, mas, por outro lado, sabia sempre o que fazer com a bola. E se há bola do lado dos do Restelo, há Martins com ela, a pensar tudo, a pautar tudo.

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FC Porto: Casillas; Maxi Pereira, Maicon, Marcano e Layún; Rúben Neves, André André e Imbula; Corona, Aboubakar e Brahimi.
Belenenses: Ventura; João Amorim, Tonel, Gonçalo Brandão e Geraldes; Carlos Martins, Rúben Pinto e André Sousa; Sturgeon, Luís Leal e Kuca.

Não era um meio-campo de combate, mas também não fez falta sê-lo. O FC Porto era useiro e vezeiro de ir ao flanco, direito ou esquerdo, com Corona e Maxi à direita, com Brahimi e Layún na canhota, e cruzar para a área. Ao centro, André André ou Imbula, à vez, faziam as vezes de “10”, com Rúben Neves mais recuado. Qualquer deles não era tanto de avançar pelo meio, mas de fazer a bola circular, veloz, até às alas. E com tanto cruzamento para a área, a noite foi de atenção redobrada para o centrais, Tonel e Brandão, e de redobradas dores de rins para Amorim e Geraldes, que se viram às avessas com os dribles sucessivos de Brahimi e Corona.

Mas o Belenenses também foi afoito na frente, quando pôde, e tentava sair, de quando em vez, rápido no contra-ataque. A primeira ocasião de perigo foi azul, mas o azul do Belenenses. Carlos Martins, quem mais?, bateu um livre desde a esquerda, cruzou com precisão para a área, onde Kuka saltou mais alto que Maicon e cabeceou, como ditam as regras, de cima para baixo. O remate saiu ao centro, Casillas estava lá, fez-se à relva, e defendeu para a frente. A bola ficou ali a pulular, a pedir uma recarga, mas Rúben Neves foi mais rápido que os avançados do Belenenses e tirou, com um chutão, a bola dali. Foi aos 13′.

O FC Porto respondeu logo depois, às três tabelas – não, não é uma metáfora para lhe descrever uma jogada atabalhoada; foi literalmente às três tabelas. Corona, na direita, tabela com Maxi na área, este devolve-lhe a bola, Corona tabela novamente, agora com André André, e este devolve-a ao mexicano, tudo ao primeiro toque. Faltava uma tabela para se contarem as três: Corona, pois claro, volta a tabelar, desta feita com Aboubakar, uma espécie de pivô, colocado bem no centro da área, e lá regressa a bola a Corona, que a remata de canhota, cruzada, mas o remate sai ao lado do poste.

Aos 30′, Layún lança rápido para André André, na linha, o poveiro vê Aboubakar na área, põe-lhe a bola na cabeça, o camaronês vê André André a chegar-se a ele, retribui-lhe o gesto, e desmarca-o. Este, de primeira, remate forte para defesa de Ventura, mas o remate, à figura, foi defendido. O problema é que a defesa do guarda-redes belenense sobrou para Brahimi. O argelino, sem ângulo, driblou para dentro, quis pôr a bola no canto superior direito, o mais distante, mas o ângulo da bola saiu alto demais, e foi para fora o remate.

Aos 35′, mais do mesmo, de novo Brahimi, de novo a procurar o poste da direita, de novo num remate em arco. Desta vez calibrou melhor o pé direito, mas tanto calibrou, que acertou na barra. Na recarga, Corona cruza para trás, desde a direita, mas André André, que tanto lhe pediu o passe, recostou demasiado o corpo, e o remate saiu para a bancada.

O jogo estava intenso, bola lá, bola cá – ainda que mais vezes lá; e entenda-se por “lá” a baliza do Belenenses. Aos 36′, voltaram as trivelas ao Dragão. Não foi Quaresma, que anda por terras da Turquia, mas foi Sturgeon. Cruzou desde a esquerda, a bola atravessou a área, Layún falhou o corte de cabeça, e Kuka, que lhe agradeceu a oferta, rematou entre Casillas e o poste direito. Só não foi golo porque o espanhol se esticou todo e defendeu para canto.

João Amorim vai ter pesadelos com Brahimi mais logo, quando se for deitar. É que quando o argelino está em noite “sim”, não há como o marcar (que o diga Ivanovic, do Chelsea, um dos melhor e mais fortes defesas-laterais da Europa, que se viu de aflitos com ele à sua frente). Aos 38′, Amorim não quis dar o lado de dentro a Brahimi, para que este não rematasse, pela terceira vez, ao ângulo, e deu-lhe o lado de fora. Brahimi foi por ali afora, deixou Amorim no relvado e rematou. Ou cruzou?! Ficará a dúvida. A verdade é que a bola que saiu dos pés de Brahimi atravessou a área, passou por Ventura, passou pelos centrais do Belenenses, mas passou também por Aboubakar e Corona. O intervalo chegou logo a seguir.

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O recomeço só deu FC Porto – e a segunda parte também seria, toda ela, nesta toada azul e branca. Aos 52′, Brahimi, sempre ele, que fez um jogo tremendo nos desequilíbrios ofensivos dos dragões, partiu em dribles em direcção à área, passou por um, Amorim, por dois, Rúben Pinto, por três, Tonel, mas ao invés de cruzar, rematou, e o rematou foi defendido por Ventura.

No minuto a seguir, 53, Brahimi voltou a desbravar a vastidão de defesas do Belenenses, mas não rematou, como fez instantes antes, cruzando, antes, para Corona. O mexicano rematou de primeira, o remate ainda desviou em Geraldes, e, mesmo com Ventura todo esticado, foi mesmo lá para dentro, para o 1-0.

Lá dizia Cristiano Ronaldo, ele que tanto sabe de golos, que estes, quando surgem, são como o ketchup, e vêm um depois do outro. Aos 55′, o FC Porto virou o frasco, deu-lhe umas palmadinhas, e lá veio o ketchup, perdão, os golos: 2-0. André André desmarcou Maxi em velocidade nas costas do lateral Geraldes, o uruguaio cruzou para o centro da área, onde surgiu Brahimi, mais veloz que Amorim, o seu marcador directo, a rematar, de cabeça, à ponta-de-lança. Ventura não chegou.

O Belenenses, nesta segunda parte, só se viu aos 78′. Dálcio, veloz como só ele, cruzou desde a direita, um cruzamento a rasgar a defesa na área, Marcano esticou-se e não chegou para cortar, Maicon também não — e menos ainda lá chegaram Luís Leal e João Traquina. A pergunta que se impõe é: onde andava o Belenenses do começo do jogo?

80′. Tello recebeu um passe longo na frente, só tinha Geraldes a marcá-lo, e lançou-se em velocidade. Geraldes ficou para trás, Tello viu Osvaldo na área, cruzou para lá a bola, rasteira, e o ponta-de-lança ítalo-argentino, mais rápido que Tonel na disputa do lance, desviou, com classe, para o poste esquerdo de Ventura. 3-0 no Dragão.

Reinvente-se, pois, um velho adágio: não há duas sem três, nem há três sem quatro. Golos, entenda-se. Aos 86′, Layún bateu um canto desde a esquerda, a bola saiu em arco, para o meio da área. Marcano saltou, Tonel e Brandão não, e o central do FC Porto rematou, de cabeça, para o 4-0. Fácil.

Em casa do FC Porto, o Belenenses não vence desde outubro de 2001. Então, treinava o Belenenses o brasileiro Marinho Peres; no banco das Antas estava o “palmelão”, Octávio Machado — Mourinho chegaria, vindo do União de Leiria, pouco depois e com o sucesso que se sabe. Mas voltando ao presente: o FC Porto de Lopetegui não perde, contabilizando todas as competições, há 19 jogos. E é líder. Isolado ou a dois, com o Sporting, depois se verá.